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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Caminhar para Jesus Cristo (1)

Jesus caminha sobre as águas (Opus Dei)

Caminhar para Jesus Cristo

Seguindo o ensinamento de São Josemaria, contemplamos nesse artigo, a passagem do Evangelho em que Jesus caminha sobre as águas. Entrando na cena, como se fôssemos um personagem a mais, compreenderemos que, junto dEle, superam-se as dificuldades, inseguranças e temores.

12/04/2017

Vários milhares de pessoas tinham escutado a pregação de Jesus Cristo e tinham se saciado com os pães e os peixes que Ele lhes tinha proporcionado, com tal abundância a ponto de ter sobrado uma boa quantidade[1]. Supõe-se que os apóstolos tenham ficado assombrados.

Juntamente com o assombro, estavam embargados de alegria. Tinham experimentado, uma vez mais, a proximidade do Senhor. Pode parecer que esta nova experiência não deveria ter maior importância para quem já estava habituado a conviver com Jesus Cristo. Porém, como esquecemos tão rapidamente os momentos em que apalpamos a presença de Deus ao nosso lado; e, por isso, como voltamos a nos surpreender e alegrar quando a percebemos de novo.

Quantas vezes notamos com clareza que Deus está junto de nós, que não nos abandonou num momento importante, e nos enchemos de uma alegria e de uma segurança que não se devem somente ao bom resultado do que nos interessava, mas também – e principalmente – à consciência de que vivemos com o Senhor.

E, no entanto, quantas vezes o perdemos de vista e deixamos que nos oprima o medo de que outro assunto importante não termine tão bem quanto; como se Deus pudesse se esquecer de nós ou como se a cruz fosse sinal de que Ele se afastou.

Dificuldades

Depois de despedir a multidão, Jesus pediu aos Apóstolos que passassem à outra margem do lago, enquanto Ele dedicava um tempo à oração[2]. Para eles, especialistas como eram, a travessia não apresentava uma particular dificuldade. E mesmo que apresentasse, depois do que acabavam de presenciar, que obstáculo poderia parecer-lhes insuperável?

Pouco a pouco, a barca foi se afastando da terra, e chegou um momento em que ficou muito lenta. Quando caiu a noite, já a boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário[3]: não podiam voltar atrás, mas tampouco parecia que avançavam; tinham a impressão de que as ondas e o vento – as dificuldades – tinham assumido o controle e o único que lhes restava era tentar manter-se flutuando.

Assustaram-se. Como parecia longínquo agora o milagre que tinham contemplado poucas horas antes! Se ao menos o Senhor estivesse com eles…, mas Ele tinha ficado em terra. Sim, tinha ficado, mas não os tinha deixado sós, não os esquecera: embora eles não o soubessem, contemplava do monte a sua dificuldade, o seu esforço e a sua fadiga[4].

É fácil que no início da vida interior se experimente com certa clareza o próprio progresso: aos olhos de quem começa a adentrar-se no mar, a margem se afasta rapidamente. Passa o tempo e, embora se continue lutando e avançando, não se percebe de modo tão patente. Sentem-se mais as ondas e o vento, a margem parece ter ficado fixa num mesmo ponto. É o momento da fé. É o momento de fomentar a consciência de que o Senhor não se desentendeu de nós. É o momento de recordar que as dificuldades – o vento e as ondas – formam, inevitavelmente, parte da vida, dessa existência que temos que santificar e com a qual lidamos sabendo que estamos muito acompanhados por Jesus Cristo.

A experiência da proximidade de Deus e do poder da sua graça não nos exime da tarefa de enfrentar as dificuldades. Não podemos pretender que a parte sensível dessa experiência seja permanente; não podemos pretender que, uma vez que estamos perto de Deus, os problemas não nos pesem. E tampouco podemos cair no erro de vê-los como uma manifestação de que o Senhor se afastou de nós, ainda que seja só um pouco e por um breve tempo.

As dificuldades são precisamente a ocasião de mostrar até que ponto amamos Deus, até que ponto somos bons, com a aceitação serena dos inconvenientes que não pudemos ou não soubemos superar.

Inquietações

Fazia tempo que Pedro e os demais lutavam contra o vento, as águas e com a sua própria angústia interior, quando o Senhor veio ajudá-los[5]. Podia tê-lo feito de muitas maneiras: podia ter anulado em seguida a dificuldade ou apresentar-se na barca sem que o vissem chegar; mas tinha outros ensinamentos para lhes transmitir. Aproximou-se deles caminhando sobre o mar.

Era noite, e não era fácil reconhecê-lo. O fato era, por si mesmo, espantoso, mas, além disso, eles já estavam assustados, e o medo rouba das pessoas que o sofrem a serenidade e a clareza de juízo sobre os acontecimentos que de algum modo as atinge. Nestas circunstâncias, é compreensível a reação deles: começaram a gritar.

O Senhor os tranquilizou: tranquilizai-vos, sou eu, não tenhais medo[6]. Ele não acalmou o vento e as ondas nesse momento, mas deu-lhes uma luz para que o coração deles não naufragasse: sei que estais atravessando dificuldades, mas não temais, continuai lutando, confiai em que Eu não vos esqueci e que continuo perto de vós.

Pedro teve uma reação impulsiva: Senhor, se és tu, manda-me ir sobre as águas até junto de ti[7]. Entre os Apóstolos é quase sempre Pedro quem se lança, para bem ou para mal: é ele que recebe as reprimendas mais fortes do Senhor[8] e é ele também quem o confessa com uma audácia que acaba arrastando os demais em momentos difíceis[9]. Mas a sua iniciativa de agora mostra-se surpreendente, inclusive num caráter impulsivo: Simão se encontraria no apuro de ter que descer da barca e apoiar-se numa superfície agitada, descontrolada, impossível de dominar e de prever.

À voz do seu Mestre, passou um pé pela borda, depois o outro e pôs-se a caminhar em direção ao Senhor: queria aproximar-se de Cristo e estava disposto a qualquer coisa para consegui-lo.

Oxalá os propósitos de maior generosidade que formulamos perante o Senhor em momentos de inquietação não fiquem só em palavras. Oxalá a nossa confiança em Deus seja mais forte que a indecisão ou o temor de pô-los em prática. Oxalá sejamos capazes de passar os nossos pés pela borda, embora suponha apoiá-los numa base aparentemente nada apta para sustentar-nos, e caminhemos em direção a Jesus Cristo. Porque para ir em direção a Deus é preciso arriscar, é preciso perder o medo das inquietações, é preciso estar disposto a pôr a vida em jogo.

Caminhando sobre as águas, Pedro sentia mais as ondas e o vento que os outros; a sua vida dependia da fé mais que a vida dos demais, precisamente porque tinha descido da barca e caminhava em direção a Jesus. Não é esta a arriscada situação do cristão? Não estamos também nós procurando caminhar em direção ao Senhor em meio a circunstâncias – externas e também interiores – que, em boa parte, fogem do nosso controle?

Estamos mais expostos às ondas do que quem, temendo enfrentar-se com a imensidão do sobrenatural, preferem a pobre e aparente segurança que lhes oferece o pequeno âmbito da sua barca. Por isso, é estranho que, às vezes, notemos que o chão se mexe, que tenhamos alguma inquietação? São precisamente nesses momentos que precisamos tomar consciência, uma vez mais, de que vivemos da fé; não de uma fé que acalma as ondas, que elimina a inquietação de caminhar sobre elas, mas sim de uma fé que, em meio a essa inquietação, nos dá uma luz e também dá um sentido a essas ondas.

Foi pela fé que fez [os israelitas] atravessarem o mar Vermelho, como por terreno seco, ao passo que os egípcios que se atreveram a persegui-los foram afogados[10]. Sem fé, as dificuldades da vida nos engolem, nos entristecem, afogamo-nos nelas. Com a fé, não as evitamos, mas temos mais recursos, sabemos que Deus pode voltá-las a nosso favor: pareceria inquietante e pavoroso ao povo eleito ter de caminhar pelo fundo do mar, com o perigo, ademais, de que os seus inimigos os alcançassem; mas, através dessa dificuldade e dessa inquietação, conseguiram a sua salvação. Ao final comprova-se que a inquietação de caminhar em direção a Deus proporciona uma base mais firme para edificar a própria vida do que a aparente segurança que a barca oferece.

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[1] Cf. Mt 14, 20-21.

[2] Cf. Mt 14, 22-23.

[3] Mt 14, 24.

[4] Cf. Mc 6, 48.

[5] Cf. Mt 14, 25.

[6] Mt 14, 27.

[7] Mt 14, 28.

[8] Cf. Mt 16, 23; Mc 8, 33.

[9] Cf. Mt 16, 15-16; Jo 6, 67-68.

[10] Hb 11, 29.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF