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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Caminhar para Jesus Cristo (2)

Jesus caminha sobre as águas (Opus Dei)

Caminhar para Jesus Cristo

Seguindo o ensinamento de São Josemaria, contemplamos nesse artigo, a passagem do Evangelho em que Jesus caminha sobre as águas. Entrando na cena, como se fôssemos um personagem a mais, compreenderemos que, junto dEle, superam-se as dificuldades, inseguranças e temores.

12/04/2017

Inseguranças

Pedro já tinha dado uns quantos passos quando, redobrando a violência do vento, teve medo. Começou a afundar e pediu ajuda ao Senhor. Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?[11].

Homem de pouca fé. Quem lê o Evangelho fica surpreendido perante estas palavras. Inclusive, é possível que se sinta entristecido e se pergunte: se o Senhor recrimina pela sua falta de fé a quem, vencendo medo, desceu da barca e começou a caminhar com Ele, o que poderia dizer de mim?; resta-me alguma esperança de que um dia Cristo veja em mim um homem ou uma mulher de fé? Porém, se continua meditando, também surgirão outros questionamentos: será que Jesus esperava que Pedro caminhasse sobre o mar com toda tranquilidade, como se o tivesse feito sobre terra firme, num dia aprazível e ensolarado? Por acaso as palavras do Senhor significam que temos que ser impassíveis ou indiferentes perante os problemas? Não, porque o próprio Jesus Cristo se angustiou no horto perante algo objetivamente temível.

A luta por viver de fé não tem como meta sentir-se seguro diante das dificuldades; não é a tentativa de que as coisas não nos afetem, de que não nos importe o que é importante, de que não nos doa o que é doloroso ou de que não nos preocupe o que é preocupante. Na verdade, é o empenho de não se esquecer de que Deus nunca nos deixa e de aproveitar essas circunstâncias difíceis para aproximarmo-nos ainda mais dele. Verdadeiramente a vida – que já de per si é estreita e insegura – às vezes se torna difícil. Mas isso contribuirá para fazer-te mais sobrenatural, para te fazer ver a mão de Deus: e assim serás mais humano e compreensivo com os que te rodeiam[12].

É lógico que Pedro sentisse inquietação e é lógico que a sentisse desde os seus primeiros passos, porque o que estava fazendo superava as suas capacidades humanas, quer houvesse vento e ondas, quer não os houvesse: não é mais fácil caminhar sobre a água sem vento e ondas que com eles. Onde esteve, então, a falta de fé de Pedro? Talvez nem tanto na insegurança que sentiu, mas em duvidar de Cristo. Até esse instante, o seu olhar estava posto nEle; sentia-se inseguro, certamente, mas não reparava demais nisso, porque o que era crucial, o que requeria a sua atenção eram os seus passos em direção ao Mestre. De repente, tomou consciência da sua insegurança e não se fiou de Jesus. A insegurança natural, razoável, degenerou-se em medo.

Temores

O medo oprime e torna reais problemas que, inicialmente, estavam só na imaginação. Algumas coisas nos acontecem porque temos medo de que nos aconteçam: medo de ter uma tentação, medo de ficarmos nervosos, medo de ficar mal perante os demais, medo de não conseguir explicar algo com a firmeza suficiente, medo de não saber enfocar um problema…

Como lutar? Procuremos aceitar essa insegurança, porque só assim evitaremos que se converta em objeto da nossa atenção. Não nos deve importar como nos sentimos enquanto o fazemos. Assim, poderemos caminhar em direção a Jesus Cristo entre as ondas e o vento, sem que nos angustiemos com a dificuldade que isso supõe.

São João escreve numa de suas epístolas que no amor não há temor; antes, o perfeito amor lança fora o temor (...) e quem teme não é perfeito no amor[13]. São Josemaria gostava de resumi-lo do seguinte modo: quem tem medo não sabe amar[14]. O amor e o medo pertencem a ordens diversas, que se excluem. Somente podem conviver quando o amor não é perfeito.

O medo é um sentimento de inquietação perante a possibilidade de perder algo que se tem ou que se deseja possuir no futuro. Pois bem, a insegurança forma parte da condição humana, do fato de que não temos um domínio perfeito nem sequer sobre nós mesmos. Por isso, não podemos excluir totalmente a insegurança nesta vida. De outro modo, a esperança não existiria como virtude, porque onde há certeza absoluta a não cabe a esperança[15].

A ordem do amor tem de excluir, portanto, o temor, mas não forçosamente a insegurança. Viver na ordem do amor supõe, então, que a insegurança não se degenere em medo, supõe aceitá-la, assumi-la integrando-a numa visão mais ampla, dentro da confiança em Deus, sem pretender ilusoriamente excluí-la de todo. Não podemos aspirar a uma segurança total. A insegurança que podemos sentir diante das nossas poucas forças é ocasião de fomentar o abandono em Deus.

Deste modo, a fé não é vista como um peso, mas como uma luz, como algo que indica um caminho, que ensina a aproveitar a própria miséria para abrir a alma a Deus. O cristão não espera de Deus que o faça sentir-se seguro em si mesmo; espera que a confiança nEle o ajude a ver para além da sua insegurança. Se o nosso olhar não se fixa na própria limitação, mas, sem rejeitá-la, a transcende, podemos realmente excluir o temor e viver na ordem do amor.

Um homem ou uma mulher de fé experimenta a inquietação, a dúvida, fica nervoso, sente vergonha, teme ficar mal diante dos outros, vê-se incapaz… Porém, aceita esses sentimentos sem atribuir-lhes mais importância da que têm, sem permitir que absorvam o seu olhar e o paralisem; não se revolta contra eles, não os vê como uma prova da sua falta de fé, nem deixa que o fato de senti-los o desanime; e segue adiante, ainda que descubra pontos da doutrina que necessita entender melhor, ainda que se sinta superado ou fora de lugar… ou ainda que a voz lhe trema. Aprendeu a não dar especial atenção a essas inquietações. Aprendeu a caminhar em direção a Cristo entre as ondas. E se a força do vento ou do mar o impedisse de vê-lO, sabe que é criança. Não tens visto as mães da terra, de braços estendidos, seguirem os seus meninos quando se aventuram, temerosos, a dar os primeiros passos sem ajuda de ninguém? – Não estás só; Maria está junto de ti [16].

Com Ela, a alma aprendeu a confiar em Deus.

____________

[11] Mt 14, 29-31.

[12] São Josemaria, Sulco, n. 762.

[13] 1 Jo 4, 18.

[14] São Josemaria, Forja, n. 260.

[15] Cf. Rm 8, 24.

[16] São Josemaria, Caminho, n. 900

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF