Arquivo 30Dias – 09/2009
Cristianismo, a língua materna da Europa
Entrevista com Monsenhor Rino Fisichella, reitor da Pontifícia Universidade Lateranense e presidente da Pontifícia Academia para a Vida, sobre seu último livro Identità dissolta.
Entrevista com Rino Fisichella por Walter Montini
O Cristianismo ainda terá espaço na Europa? Serão os cristãos capazes de não
dispersar esta herança?
FISICHELLA: O primeiro e o último capítulo constituem os pilares do meu livro:
o primeiro capítulo mostra a riqueza que produzimos e a capacidade de saber
transmiti-la, sem limites, sem preclusões, mas sempre e exclusivamente como um
desejo de buscar o verdade e alcançar diferentes etapas no caminho rumo à
verdade total. O último capítulo torna-se uma nova assunção de responsabilidade
com o apelo à urgência educativa.
Se tudo o que foi descrito no decorrer do meu volume for verdade, torna-se ainda mais importante assumir uma responsabilidade que nos leve a responsabilizar-nos pelas novas gerações, para que tenham a solidez da memória histórica e uma consequencialidade da nossa parte, que é isso para começar a se comunicar novamente, com uma linguagem comum, ainda que diferenciada e mediada por diferentes contextos. A família tem inevitavelmente uma linguagem própria, que é a da transmissão quase natural dos valores de uma educação que se realiza num ambiente de amor e de responsabilidade; a linguagem da escola que ocorre na cultura; o da comunidade cristã, que inevitavelmente ocorre no âmbito da religião: estas três realidades devem ser capazes de comunicar os mesmos valores, valores profundamente humanos, não tipicamente cristãos: lealdade, honestidade, verdade, direito, justiça, dignidade, respeito... É um património comum do qual a escola é testemunha a nível cultural, a família porque os vive, a comunidade cristã porque os sustenta com o testemunho.
Antecipou uma pergunta minha: falando do processo
de formação, apela muitas vezes à credibilidade das pessoas (autoridade do
formador, testemunho), e isto aplica-se tanto à política (instituições civis)
como à Igreja (comunidade cristã), como assim como para a escola, família...
FISICHELLA: Exatamente. Na minha opinião, um elemento importante não é apenas a
circularidade da formação, porque quando falamos de valores e de formação nunca
nos deparamos apenas com noções a transmitir; estamos a transmitir um estilo de
vida: para que a formação seja plenamente adequada é necessário que a pessoa e
as instituições que transmitem a formação sejam também credíveis. Apostamos
tudo na credibilidade. Hoje assistimos a uma perda progressiva de credibilidade
de todas as instituições; quando se realizam inquéritos à credibilidade dos
políticos ou das instituições, creio que devemos estar sempre atentos a esta
dimensão. Na verdade, se por um lado a credibilidade mostra a responsabilidade
que inevitavelmente cabe a cada um de nós, por outro mostra também como é um
elemento incontornável na integralidade do processo formativo.
A credibilidade também dá autoridade às pessoas. Autoridade deriva do latim augere que significa “aumentar”, não “impor”; aumentar o que está presente em cada pessoa. A pessoa que tem autoridade é aquela que ajuda os outros, sobre os quais exerce a sua autoridade, a crescer. Se isso não acontecer, não há sequer autoridade.
O senhor fecha as páginas do seu livro com uma referência às palavras de Dom
Luigi Giussani sobre o risco educativo. Por que?
FISICHELLA: Fechei com grande prazer as páginas do meu volume, abordando
sobretudo o tema da emergência educativa com as palavras de um grande sacerdote
que, entre os primeiros e entre os poucos, compreendeu o risco educativo, que
não é apenas o título de um belo volume seu, mas sobretudo é uma grande
intuição que o fundador de Comunhão e Libertação teve e que perseguiu ao longo
da sua vida.
Certamente a formação é um risco, mas é um risco que deve ser assumido.
Giussani, que considero um verdadeiro apologista do século XX no sentido pleno
do termo - porque apologista é aquele que apresenta, que dá as razões da fé -,
nos seus escritos enfrentou o risco educativo precisamente por dar força à
razão; uma razão que, no entanto, tornou-se também uma experiência de vida,
capaz de dar razões de fé ao crente, mas, ao mesmo tempo, razões para acreditar
ao descrente que, inserido numa experiência concreta, encontrou as razões não
tão uma teoria pura, mas como um estilo de vida.
Fonte: https://www.30giorni.it/
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