Translate

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Cristianismo, a língua materna da Europa (2)

Alojamento dos peregrinos, detalhe das Obras de Misericórdia , décimo primeiro nicho do Batistério de Parma | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 09/2009

Cristianismo, a língua materna da Europa

Entrevista com Monsenhor Rino Fisichella, reitor da Pontifícia Universidade Lateranense e presidente da Pontifícia Academia para a Vida, sobre seu último livro Identità dissolta.

Entrevista com Rino Fisichella por Walter Montini

O Cristianismo ainda terá espaço na Europa? Serão os cristãos capazes de não dispersar esta herança?
FISICHELLA: O primeiro e o último capítulo constituem os pilares do meu livro: o primeiro capítulo mostra a riqueza que produzimos e a capacidade de saber transmiti-la, sem limites, sem preclusões, mas sempre e exclusivamente como um desejo de buscar o verdade e alcançar diferentes etapas no caminho rumo à verdade total. O último capítulo torna-se uma nova assunção de responsabilidade com o apelo à urgência educativa.

Se tudo o que foi descrito no decorrer do meu volume for verdade, torna-se ainda mais importante assumir uma responsabilidade que nos leve a responsabilizar-nos pelas novas gerações, para que tenham a solidez da memória histórica e uma consequencialidade da nossa parte, que é isso para começar a se comunicar novamente, com uma linguagem comum, ainda que diferenciada e mediada por diferentes contextos. A família tem inevitavelmente uma linguagem própria, que é a da transmissão quase natural dos valores de uma educação que se realiza num ambiente de amor e de responsabilidade; a linguagem da escola que ocorre na cultura; o da comunidade cristã, que inevitavelmente ocorre no âmbito da religião: estas três realidades devem ser capazes de comunicar os mesmos valores, valores profundamente humanos, não tipicamente cristãos: lealdade, honestidade, verdade, direito, justiça, dignidade, respeito... É um património comum do qual a escola é testemunha a nível cultural, a família porque os vive, a comunidade cristã porque os sustenta com o testemunho.

Antecipou uma pergunta minha: falando do processo de formação, apela muitas vezes à credibilidade das pessoas (autoridade do formador, testemunho), e isto aplica-se tanto à política (instituições civis) como à Igreja (comunidade cristã), como assim como para a escola, família...
FISICHELLA: Exatamente. Na minha opinião, um elemento importante não é apenas a circularidade da formação, porque quando falamos de valores e de formação nunca nos deparamos apenas com noções a transmitir; estamos a transmitir um estilo de vida: para que a formação seja plenamente adequada é necessário que a pessoa e as instituições que transmitem a formação sejam também credíveis. Apostamos tudo na credibilidade. Hoje assistimos a uma perda progressiva de credibilidade de todas as instituições; quando se realizam inquéritos à credibilidade dos políticos ou das instituições, creio que devemos estar sempre atentos a esta dimensão. Na verdade, se por um lado a credibilidade mostra a responsabilidade que inevitavelmente cabe a cada um de nós, por outro mostra também como é um elemento incontornável na integralidade do processo formativo.

A credibilidade também dá autoridade às pessoas. Autoridade deriva do latim augere que significa “aumentar”, não “impor”; aumentar o que está presente em cada pessoa. A pessoa que tem autoridade é aquela que ajuda os outros, sobre os quais exerce a sua autoridade, a crescer. Se isso não acontecer, não há sequer autoridade.

O senhor fecha as páginas do seu livro com uma referência às palavras de Dom Luigi Giussani sobre o risco educativo. Por que?
FISICHELLA: Fechei com grande prazer as páginas do meu volume, abordando sobretudo o tema da emergência educativa com as palavras de um grande sacerdote que, entre os primeiros e entre os poucos, compreendeu o risco educativo, que não é apenas o título de um belo volume seu, mas sobretudo é uma grande intuição que o fundador de Comunhão e Libertação teve e que perseguiu ao longo da sua vida.

Certamente a formação é um risco, mas é um risco que deve ser assumido.

Giussani, que considero um verdadeiro apologista do século XX no sentido pleno do termo - porque apologista é aquele que apresenta, que dá as razões da fé -, nos seus escritos enfrentou o risco educativo precisamente por dar força à razão; uma razão que, no entanto, tornou-se também uma experiência de vida, capaz de dar razões de fé ao crente, mas, ao mesmo tempo, razões para acreditar ao descrente que, inserido numa experiência concreta, encontrou as razões não tão uma teoria pura, mas como um estilo de vida.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF