O Papa recebeu, no Vaticano, os
humoristas de várias partes do mundo. "Embora a comunicação hoje em dia
muitas vezes gere contraposições, vocês sabem como unir realidades diferentes
e, às vezes, até opostas. O riso do humorismo nunca é "contra"
alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e
empatia", disse o Papa em seu discurso.
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
O Papa
Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (14/06), na Sala Clementina,
no Vaticano, cerca de duzentos humoristas do mundo. Dentre eles alguns nomes do
Brasil, como Fábio Porchat, Cacau Protásio e Cristiane Wersom, e dos Estados
Unidos, a atriz e comediante Whoopi Goldberg.
O Pontífice
deu as boas-vindas aos artistas e agradeceu aos membros do Dicastério para a
Cultura e a Educação que prepararam este encontro.
O riso é
contagioso
Tenho
grande estima por vocês artistas que se expressam com a linguagem da comédia,
do humorismo e da ironia. De todos os profissionais que trabalham na televisão,
no cinema, no teatro, na mídia impressa, com músicas, nas redes sociais, vocês
estão entre os mais amados, procurados e aplaudidos. Certamente porque são
bons, mas há também outro motivo: vocês têm e cultivam o dom de fazer as
pessoas rirem.
"Em
meio a tantas notícias sombrias, imersos como estamos em tantas emergências
sociais e também pessoais, vocês têm o poder de espalhar a serenidade e o
sorriso. Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com
pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais",
disse ainda o Papa.
“À sua maneira, vocês unem as
pessoas, porque o riso é contagioso. É mais fácil rir juntos do que sozinhos: a
alegria permite o compartilhamento e é o melhor antídoto contra o egoísmo e o
individualismo. Rir também ajuda a quebrar as barreiras sociais, a criar
conexões entre as pessoas.”
"Ele
nos permite expressar emoções e pensamentos, ajudando a construir uma cultura
compartilhada e a criar espaços de liberdade. Vocês nos lembram que o homo
sapiens também é homo ludens; que a diversão e o riso são fundamentais para a
vida humana, para nos expressarmos, aprendermos e darmos significado às
situações", sublinhou Francisco.
A seguir, o
Papa disse aos artistas que o talento deles "é um dom precioso. Junto com
o sorriso, espalha a paz nos corações, entre as pessoas, ajudando-nos a superar
as dificuldades e a lidar com o estresse diário". O sorriso "nos
ajuda a encontrar alívio na ironia e a encarar a vida com humor". O
Pontífice citou as palavras de São Tomás More: "Dai-me, Senhor, o senso de
humor". "Vocês conhecem essa oração?" Perguntou o Papa aos
humoristas. "Vocês precisam conhecê-la", disse ele, encarregando os
superiores de divulgá-la a todos os artistas. "Dai-me, Senhor, o senso de
humor". "Essa é uma graça que eu peço todos os dias, porque ela me
faz encarar as coisas com o espírito certo", disse ainda o Papa.
Despertar o
senso crítico fazendo rir e sorrir
“Mas vocês também conseguem
outro milagre: conseguem fazer sorrir mesmo quando lidam com problemas,
pequenos e grandes fatos da história. Vocês denunciam os excessos de poder; dão
voz a situações esquecidas; evidenciam abusos; apontam para comportamentos
inadequados. Mas sem espalhar alarme ou terror, ansiedade ou medo, como fazem
muitos da comunicação.”
Vocês
despertam o senso crítico fazendo rir e sorrir. Vocês fazem isso contando
histórias de vida, narrando a realidade, de acordo com seu ponto de vista
original; e, dessa forma, falam às pessoas sobre problemas pequenos e grandes.
"De
acordo com a Bíblia, na origem do mundo, enquanto tudo estava sendo criado, a
Sabedoria divina praticava sua arte para o benefício do próprio Deus, o
primeiro espectador da história", disse o Papa, citando uma passagem do
Livro dos Provérbios: "Eu estava junto com ele, como mestre-de-obras. Eu
era o seu encanto todos os dias, e brincava o tempo todo em sua presença;
brincava na superfície da terra, e me deliciava com a humanidade".
"Lembrem-se disto: quando vocês conseguirem fazer com que sorrisos inteligentes
brotem dos lábios de até mesmo um só espectador, vocês também fazem Deus
sorrir", disse ainda o Francisco, afirmando que isso não é uma heresia.
“Vocês, queridos artistas, sabem
como pensar e falar com humor em diferentes formas e estilos; e, de qualquer
forma, a linguagem do humor é adequada para entender e "sentir" a
natureza humana. O humorismo não ofende, não humilha, não prega as pessoas aos
seus defeitos.”
Embora a
comunicação hoje em dia muitas vezes gere contraposições, vocês sabem como unir
realidades diferentes e, às vezes, até opostas. Como precisamos aprender com
vocês! O riso do humorismo nunca é "contra" alguém, mas é sempre
inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia. Por favor, rezem e
peçam ao Senhor a graça do senso de humor.
Encarar a
vida com esperança
O Papa
recordou a passagem do Livro do Gênesis, quando Deus promete a Abraão que
dentro de um ano ele teria um filho. Sara ouviu e riu por dentro. Ela disse:
"Deus me deu motivo para rir com alegria". Por isso, deram ao filho o
nome de Isaac, que significa "ele ri".
"Também
é possível rir de Deus? É claro que sim, e isso não é blasfêmia, podemos rir,
assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos", disse o
Pontífice. "A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra
nisso", disse ele. Porém, "isso pode ser feito, sem ofender os
sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres".
"Querido
amigos, Deus abençoe vocês e a sua arte. Continuem animando as pessoas,
especialmente aquelas que têm mais dificuldade de encarar a vida com esperança.
Ajude-nos, com o sorriso, a ver a realidade com suas contradições e a sonhar
com um mundo melhor", concluiu.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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