Em sua audiência aos
participantes da conferência "Buracos negros, ondas gravitacionais e
singularidades espaço-temporais" em memória ao pe. George Lemaître,
Francisco enfatizou a teoria do cosmólogo que diz que "a criação e o
Big-Bang são duas realidades distintas" e que Deus "não pode ser um
objeto facilmente categorizado pela razão humana". "A fé e a ciência
podem se unir na caridade se a ciência for colocada a serviço dos homens e
mulheres de nosso tempo", disse o Papa.
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
O Papa
Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (20/06), na Sala dos Papas,
no Vaticano, os participantes da II Conferência do Observatório Astronômico
Vaticano (Specola Vaticana) em memória de Georges Lemaître intitulada
"Buracos negros, ondas gravitacionais e singularidades
espaço-temporais".
Francisco
agradeceu e deu as boas-vindas aos cientistas que se reúnem em Castel Gandolfo,
nas proximidades de Roma, para homenagear o pe. Georges Lemaître, sete anos
depois da edição anterior. "O valor científico do sacerdote e cosmólogo
belga foi depois reconhecido pela União Astronômica Internacional, que decidiu
que a conhecida lei de Hubble deveria ser chamada mais apropriadamente de lei
de Hubble-Lemaître", disse o Papa no início de seu discurso.
A Igreja
promove pesquisas sobre o início do universo
"Nesses
dias, vocês discutem as últimas questões colocadas pela pesquisa científica em
cosmologia: os diferentes resultados obtidos na medição da constante de Hubble,
a natureza enigmática das singularidades cosmológicas (do Big Bang aos buracos
negros) e o tema muito atual das ondas gravitacionais", sublinhou
Francisco, recordando que "a Igreja está atenta a essas pesquisas e as
promove, porque elas abalam a sensibilidade e a inteligência dos homens e das
mulheres de nosso tempo".
Georges
Lemaître foi um sacerdote e cientista exemplar
O início do
universo, a sua evolução última, a profunda estrutura do espaço e do tempo
colocam os seres humanos perante uma busca frenética de sentido, num vasto
cenário onde correm o risco de se perder. Isto nos faz redescobrir a atualidade
das palavras do salmista: «Quando contemplo o céu, obra de teus dedos, a lua e
as estrelas que fixaste. O que é o homem, para dele te lembrares? O ser humano,
para que o visites? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, e o coroaste de
glória e esplendor». Portanto, é claro que estes temas têm uma relevância
particular para a Teologia, a Filosofia, a Ciência e também para a vida
espiritual.
"Georges
Lemaître foi um sacerdote e cientista exemplar. O seu percurso humano e
espiritual representa um modelo de vida com o qual todos nós podemos
aprender", observou ainda Francisco.
Para
atender aos desejos do pai, Georges Lemaître estudou engenharia. Depois,
alistou-se na I Guerra Mundial e viveu seus horrores. Já adulto seguiu a sua
vocação sacerdotal e científica.
Criação e o
Big Bang são duas realidades distintas
"Inicialmente,
ele acredita que as verdades científicas estão depositadas nas Sagradas
Escrituras de forma velada. As suas experiências humanas e as consequentes
elaborações espirituais o levam a compreender que a ciência e a fé seguem dois
caminhos diferentes e paralelos, entre os quais não há conflito", disse
ainda o Papa, acrescentando:
Na verdade,
esses caminhos podem se harmonizar, porque tanto a ciência quanto a fé, para
quem crê, têm a mesma matriz na Verdade absoluta de Deus. O seu caminho de fé o
leva à consciência de que a criação e o Big Bang são duas realidades distintas,
e que o Deus em que ele acredita não pode ser um objeto facilmente categorizado
pela razão humana, mas é o “Deus escondido”, que permanece sempre numa dimensão
de mistério, não totalmente compreensível.
A fé e a
ciência podem se unir na caridade
O Papa
disse aos cientistas para continuarem "debatendo com um espírito justo e
humilde os temas que estão discutindo. Que a liberdade e a falta de
condicionamento que vocês estão experimentando nesta conferência os ajudem a
progredir em seus campos em direção à Verdade, que é certamente uma emanação da
Caridade de Deus".
A fé e a
ciência podem se unir na caridade se a ciência for colocada a serviço dos
homens e mulheres de nosso tempo, e não distorcida em seu detrimento ou mesmo
destruição. Eu os encorajo a ir para as periferias do conhecimento humano: é
ali que podemos fazer experiência do Deus Amor, que satisfaz e sacia a sede do
nosso coração.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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