O que é depressão e como buscar ajuda e tratamento para você ou outras pessoas
- Cristiane Martins
- De Londres para a BBC News Brasil
24 novembro 2021
"É assustador, mas comum que, não importa o
que você diga sobre sua depressão, as pessoas não acreditam, a não ser que você
pareça agudamente deprimido", resumiu o escritor e jornalista americano
Andrew Solomon, no best-seller O Demônio do Meio-Dia.
Os obstáculos para diagnosticar e tratar a
depressão são enormes, afirma a Associação Brasileira de Psiquiatria, mesmo que
essa condição médica seja comum, recorrente e crescente em seus mais diversos
sintomas e impactos. Estima-se, aliás, que até 2030 ela deva afetar mais
pessoas do que qualquer outro problema de saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a
depressão afeta atualmente quase 12 milhões de pessoas no Brasil, ou 5,8% da
população, taxa superior à média mundial (4,4%) e abaixo apenas do líder
Estados Unidos (5,9%). Essa condição, que não tem causa única, atinge as
pessoas independentemente da idade, classe social, profissão, raça/etnia ou do
gênero.
Em linhas gerais, a depressão é descrita por
especialistas como um transtorno biológico no qual a pessoa se sente deprimida
ou perde o interesse ou prazer em relação a algo que tinha antes, afetando
diversas áreas de sua vida (profissional, pessoal, familiar, social etc.). Mas
o diagnóstico é complexo: não passa por exames, mas pela análise clínica de
profissionais de saúde especializados com base em sintomas, critérios
diagnósticos (há quanto tempo persistem os sintomas, por exemplo), histórico
familiar, gatilhos, comorbidades, entre outros pontos.
E por que é tão difícil identificar e entender os sintomas e as causas do chamado "mal do século 21"? Que profissionais fazem esse diagnóstico? O que especialistas recomendam para quem busca ajuda e tratamento para si mesmo ou para outras pessoas? E quem não tem condições financeiras de pagar atendimento particular ou plano de saúde? Luto pode desencadear depressão? Por que os pacientes são estigmatizados como fracos ou sem força de vontade, por exemplo? Todos precisam tomar remédio? Fazer terapia basta para os casos mais leves?
A BBC News Brasil reúne no texto abaixo respostas
de especialistas e entidades de psiquiatria e psicologia para algumas das
dúvidas mais buscadas sobre depressão.
E para responder brevemente às duas últimas
perguntas, a Inglaterra decidiu mudar as diretrizes do sistema público de saúde
nacional (uma espécie de SUS) para pessoas diagnosticadas com depressão leve.
Antes de iniciarem tratamento com antidepressivos, esses pacientes devem
primeiro ter acesso à terapia e a exercícios físicos em grupo, por exemplo.
O novo protocolo surge em meio ao aumento das prescrições
de antidepressivos no país no fim de 2020 (alta de 6% em relação ao ano
anterior), mas isso não significa, obviamente, que o tratamento com remédios
como um todo esteja sendo questionado.
Um estudo publicado no fim de setembro no periódico
científico The New England Journal of Medicine apontou que pessoas que
permanecem usando medicamentos antidepressivos a longo prazo têm menos chance
de sofrer recaída do que aquelas que decidem parar de tomá-los.
O que é depressão e quais são os
principais sintomas, segundo especialistas
Uma das formas mais comuns de problemas de saúde
mental, a depressão é descrita como transtorno, doença, síndrome, sentimento ou
melancolia (antigo nome que se dava a ela).
"A depressão se caracteriza por uma tristeza
profunda e prolongada, que faz o indivíduo perder o interesse por coisas que
anteriormente eram prazerosas. Além da tristeza, que é o sintoma mais conhecido
e falado, o padecente pode sofrer com alterações no sono, podendo dormir demais
ou ter insônia, distúrbios alimentares, irritabilidade, fadiga, pensamentos de
suicídio. Cabe ressaltar que os sintomas variam de pessoa para pessoa",
explica Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria,
em entrevista à BBC News Brasil.
A necessidade de encontrar uma definição para uma
condição tão complexa quanto a depressão é fundamental quando se deseja
instituir um diagnóstico, pois só então é possível traçar um tratamento
adequado, seja com remédios, terapia ou ambos, por exemplo.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, traz uma série de
"pré-requisitos" para caracterizar o diagnóstico formal de depressão,
como a presença de cinco ou mais sintomas da lista abaixo ao mesmo tempo
durante pelo menos duas semanas. São eles, de forma simplificada:
- Sentir-se triste ou deprimido
- Ausência de interesse e prazer em
atividades que antes eram prazerosas
- Fadiga e perda de energia
- Alterações no apetite e no peso (ganho ou
perda sem relação com dieta)
- Dificuldade para dormir ou o oposto,
dormir muito
- Sentimentos de inutilidade e culpa
- Problemas para pensar, se concentrar ou
tomar decisões
- Aumento da atividade física sem
propósito, como ficar balançando as mãos ou os pés, andar de um lado para
outro, não conseguir ficar parado em pé ou sentado.
- Pensamentos suicidas
Mas o diagnóstico vai muito além de preencher ou
não os critérios acima. Segundo Silva, "cerca de 50% a 60% dos casos de
depressão não são detectados pelo médico clínico e muitas vezes o tratamento
prescrito não é suficientemente adequado".
Há diversas variáveis biológicas, neuroquímicas,
ambientais, genéticas e emocionais envolvidas — e diversos tipos de depressão e
de transtornos mentais. Por isso cabe a um profissional especializado
investigar e identificar qual problema de saúde está afetando ou não cada
paciente.
"Um aspecto relevante, por exemplo, passa
pelas comorbidades. Muitas vezes, o paciente não tem só depressão. É muito
comum o paciente ter depressão e problemas relacionados ao uso de substâncias,
ou transtorno de ansiedade associado a um transtorno alimentar, transtorno de
personalidade… A importância da avaliação, do diagnóstico apropriado com um
profissional especializado se dá porque na maioria das vezes os transtornos
mentais não aparecem sozinhos", disse à BBC News Brasil Wilson Vieira Melo,
presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
A avaliação não é feita apenas por todos esses
sinais, mas também pela exclusão de sintomas, demandando diagnósticos
diferenciais com outras condições médicas, como deficiência de vitaminas,
alterações na tireoide e tumor cerebral, que podem apresentar sintomas
semelhantes aos da depressão.
"O psiquiatra é quem pode avaliar o quadro e
identificar o desenvolvimento de uma doença mental, intervindo de forma precoce
e evitando seu agravamento. Sempre que notarmos o prejuízo no comportamento do
indivíduo, ou seja, que os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é a
hora de buscar um psiquiatra para tratamento e manejo correto", afirma
Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Caso você esteja pensando em
cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de
Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/)
funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também
atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento
em todo o Brasil.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/
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