Como buscar ajuda e tratamento para si mesmo ou outras pessoas?
- Cristiane Martins
- De Londres para a BBC News Brasil
24 novembro 2021
O psiquiatra ressalta que familiares e amigos são fundamentais
na busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a
perceber que há algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio
psiquiátrico ou psicológico.
Além dos sintomas listados acima, há outros sinais
de mudança em pessoas que podem precisar de ajuda psiquiátrica e/ou
psicológica, como evitar contato com familiares e amigos, se machucar,
apresentar autoestima mais baixa, uso de substâncias ilícitas, desenvolver
dores físicas sem causa aparente ou sentimentos persistentes de irritação,
preocupação, melancolia, vazio ou anedonia, uma espécie de perda do prazer que
se sentia em atividades ou eventos antes prazerosos.
"A depressão é um transtorno mental sério, quando a gente percebe que tem alguém que está com sintomas que justificam uma atenção clínica maior, o ideal é que faça, que essa pessoa possa buscar ajuda profissional", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas. "Às vezes ações como convidar um amigo que está deprimido para ir ao cinema ou ao parque, caminhar, são coisas terapêuticas. Não é terapia, mas é terapêutico. Pode ser que a pessoa não esteja aberta a isso. Nesses casos, buscar um acompanhamento profissional seria o mais indicado."
Segundo especialistas, se você acha que alguém que
você conhece tem depressão, a coisa mais importante a fazer é ouvir. Muitas
vezes, apenas falar e compartilhar seus sentimentos pode ser uma grande ajuda
para alguém com depressão. Tente ouvir sem julgamento.
Você também pode encorajar a pessoa a buscar
atendimento médico especializado ou encontrar outras formas de apoio. Seja
paciente: não diga a alguém para "sair dessa" ou "se
animar", pois isso não é algo que uma pessoa com depressão é capaz de
fazer por si só.
Além disso, há diversos obstáculos sociais e
psicológicos antes de se chegar ao diagnóstico e tratamento especializado, como
a falta de recursos e o estigma em torno da depressão.
O sistema de saúde pública do Reino Unido recomenda
que todas as pessoas que apresentam os sinais listados neste texto por mais de
duas semanas deveriam buscar atendimento médico.
Mas como isso funciona na
prática?
"Devido à psiquiatria ser uma especialidade
médica, a primeira consulta com um psiquiatra tem muito em comum com aspectos
de outras consultas médicas. O primeiro passo é realizar a anamnese, ou seja,
colher um histórico clínico do paciente. Este histórico deve ser bastante
detalhado. Além disso, nesse processo são analisados hábitos como
relacionamentos pessoais e familiares, ambiente de trabalho, atividades de
lazer e hobbies", diz Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Em seguida, o psiquiatra pode requisitar exames
para identificar outras doenças ligadas aos campos da neurologia e da
psiquiatria, como Alzheimer. E ao longo de todo esse percurso, desde a entrada
no consultório, se dá o exame psíquico, com base em elementos como a observação
do comportamento, discurso, humor ou atenção, explica Silva.
"O exame psíquico é essencial, pois a grande
maioria dos transtornos psiquiátricos não são visíveis, a não ser por suas
manifestações clínicas. Nesses casos, os sinais e sintomas são detectados a
partir de técnicas e metodologias específicas de avaliação, com calma e
cuidado."
E o que o paciente deve dizer nessas consultas?
"A abertura total é importante. Você deve conversar com seu médico sobre
todos os seus sintomas, marcos importantes em sua vida e qualquer histórico de
abuso ou trauma. Informe também o seu médico sobre o histórico de depressão ou
outros sintomas emocionais em você ou em membros da família, histórico médico,
medicamentos que você está tomando (prescritos ou não), como a depressão afetou
sua vida diária e se você já pensou em suicídio", orienta Alan Gelenberg, professor
emérito da Universidade do Arizona, em guia sobre depressão da Associação
Americana de Psiquiatria.
Quais são os tipos de depressão?
Antes de explicar os diferentes tratamentos, é
importante esclarecer que há diversos tipos de depressão. Os mais comuns são a
depressão maior ou unipolar, depressão pós-parto, depressão bipolar e
transtornos depressivos induzidos por outras substâncias ou medicamento.
"Todos precisam de acompanhamento médico
adequado, pois se não tratados podem levar a pensamentos suicidas", afirma
Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O "transtorno depressivo maior" ou
depressão unipolar, por exemplo, é o tipo mais conhecido e se caracteriza pelos
sintomas mais conhecidos relacionados à depressão, como tristeza e falta de
interesse persistentes, além de problemas de sono e apetite. É geralmente
associada a fatores genéticos, mas pode ser desencadeada por eventos
traumáticos, como a perda de um emprego, o fim de um relacionamento ou o
surgimento de uma doença grave.
Outro tipo comum de transtorno é a depressão
pós-parto. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, mulheres têm maior
probabilidade de sofrer de depressão do que os homens. Alguns estudos inclusive
apontam que um terço das mulheres passará por um episódio depressivo grave
durante a vida. E parte delas enfrenta isso logo após o parto.
O Ministério da Saúde brasileiro define a depressão
pós-parto como um quadro de tristeza, desespero e falta de esperança que se
manifesta depois do nascimento de um filho. Segundo a pasta, "é importante
ficar atento pois a condição pode afetar o vínculo da mãe com o bebê. Entre as
causas estão a privação de sono das puérperas, falta de apoio familiar,
isolamento, alimentação inadequada, vício em drogas. Ausência de planejamento
da gravidez, depressão anterior, histórico familiar de depressão e violência
doméstica são alguns dos fatores de risco".
Caso você esteja pensando em
cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de
Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/)
funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também
atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento
em todo o Brasil.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/
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