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terça-feira, 18 de junho de 2024

Padre Martin: Jesus não tem medo dos nossos pecados, nos faz sair do túmulo

A ressurreição de Lázaro (Vatican News)

Um diálogo com o jesuíta dos Estados Unidos, autor do livro "Vem para fora! A promessa do maior milagre de Jesus", obra já publicada em português pela Editora Paulus (e em italiano pela Livraria Editora Vaticana).

Andrea Tornielli

O jesuíta dos Estados Unidos, James Martin, é autor de "Vem para fora! A promessa do maior milagre de Jesus" (da LEV em italiano e da Paulus em português), um livro dedicado à figura de Lázaro, irmão de Marta e Maria e amigo de Jesus. Na casa dos três irmãos, em Betânia, Jesus se hospedava com frequência. Aquela da ressurreição de Lázaro é a história de um grande milagre. Encontramos o Padre Martin nos estúdios da Rádio Vaticano - Vatican News.

De onde nasce o seu interesse por Lázaro?

Tudo começou com um diretor italiano, Franco Zeffirelli, autor do filme Jesus de Nazaré. Quando eu era jovem, assisti a esse famoso filme, e uma das cenas mais dramáticas foi a ressurreição de Lázaro. Há uma cena de um homem saindo de um túmulo e a música da orquestra está tocando e todos se ajoelham. Isso me fez pensar quem é essa pessoa, quem é esse Lázaro? Por que não sei muito sobre ele? Quem são essas irmãs que se aproximam para ser tão diretas e francas com Jesus? Então, comecei uma espécie de busca por toda a vida para descobrir quem era esse homem.

O senhor esteve nos lugares onde os eventos evangélicos aconteceram. Qual é a importância da percepção de que o Evangelho não é uma teoria ou um romance, mas algo que aconteceu em um período preciso da nossa história, em um lugar preciso?

Os teólogos chamam isso de escândalo da particularidade: os evangelhos aconteceram em uma época específica, em um lugar específico e com pessoas específicas, e quando você vai aos lugares onde as passagens do evangelho acontecem, você entende melhor a história. Para mim, foi muito importante ir ao túmulo de Lázaro e também foi uma experiência espiritual muito comovente a primeira vez que o visitei, em Betânia. Desci ao túmulo, um buraco muito escuro e úmido. E pensei: "o que devo rezar aqui?" Usei um pouco da contemplação inaciana e disse: "posso rezar sobre as coisas que quero deixar no túmulo". Que tipo de coisas fazem com que eu não seja livre, preso ou escravizado? Como posso ouvir a voz de Deus que me convida a sair para o ar livre? Achei isso muito poderoso. Mais tarde, levei peregrinos para esse mesmo lugar e os convidei a fazer a mesma meditação. O que podemos deixar para trás na sepultura?

Muitos deles saíram chorando. Por isso, achei que deveria escrever sobre esse assunto.

Quando se visita a Terra Santa, uma das experiências mais emocionantes é entrar no Santo Sepulcro. A ressurreição de Jesus é um evento único, ele era realmente homem, mas também era Deus. Essa ressurreição afeta a todos nós, pois acreditamos que ressuscitaremos e viveremos para sempre. No caso de Lázaro, entretanto, temos o retorno à vida de um homem que estava morto há quatro dias. Jesus deu a ele uma nova chance de viver.

Sentimo-nos próximos da história de Lázaro. Ela diz respeito a um de nós. Jesus nos chama a cada momento do dia e pede que saiamos para uma nova vida e deixemos para trás tudo o que não nos liberta. Há um paralelo que traço em meu livro que, acredito, vem do teólogo Raymond Brown. Quando Jesus sai do sepulcro no domingo de Páscoa, ele deixa para trás suas roupas de sepultura e seu sudário. Não irá mais precisar deles. Quando Lázaro sai do túmulo, por outro lado, ele ainda está usando ataduras e sudário. Ele precisará deles novamente porque morrerá de novo.

Uma outra peculiaridade desse milagre é que sabemos o nome do ressuscitado, enquanto não sabemos o nome do filho da viúva de Naim ou da filha de Jairo. Com Lázaro, sabemos seu nome, sabemos quem era sua família e onde morava. Que importância isso tem?

Os estudiosos do Novo Testamento dizem que quando sabemos o nome de uma pessoa fora dos doze apóstolos, isso significa que eram pessoas conhecidas da Igreja primitiva. É interessante que no Evangelho de Lucas há histórias de Marta e Maria recebendo Jesus, e seus personagens são muito semelhantes no Evangelho de Lucas. Marta é mais ativa, Maria é mais contemplativa. E no Evangelho de João, quando somos informados sobre a ressurreição de Lázaro, o que Marta faz? Ela corre primeiro para encontrar Jesus, enquanto Maria fica em casa. Suas personalidades e personagens transparecem em ambos os evangelhos, um sinal de sua historicidade.

Um aspecto importante da espiritualidade dos jesuítas, que também vemos refletido nas homilias do Papa Francisco, é a identificação com as cenas do Evangelho...

Não somos os únicos a rezar dessa forma. Pode-se dizer que isso começou com Francisco de Assis. E é fundamental admitir que Deus pode trabalhar por meio da nossa imaginação. Nós nos imaginamos na passagem do Evangelho, rezamos sobre ela "vendo-nos" como parte da cena e considerando intuições, emoções, lembranças, desejos, até mesmo palavras e frases: essa é a maneira de Deus falar conosco.

Quando eu era um noviço jesuíta, meu diretor espiritual me disse: "bem, agora vou lhe ensinar a maneira de rezar dos jesuítas". E ele explicou essa maneira de se imaginar nas Escrituras. Eu respondi: "não é que está inventando as coisas na sua mente?". Eu estava muito desconfiado. Ele disse: "bem, deixe-me fazer uma pergunta: você acredita que Deus age através dos sacramentos? Que Deus age através da natureza e da música? Que Deus age através de relações?" Respondi com convicção "é claro!" a cada pergunta. Ele acrescentou: "então, por que Deus não pode agir através da sua imaginação?" É uma maneira de encontrar Deus mais de perto.

Às vezes digo que quando ouvimos uma passagem do Evangelho na igreja, já a estamos imaginando. Quando ouvimos uma parábola, por exemplo, a do Filho Pródigo, imaginamos como será o retorno dele para casa. Isso é muito natural e muito humano. Precisamos tornar a história do Evangelho "nossa". Portanto, quando eu rezo sobre a história de Lázaro, pode surgir algo diferente do que quando você reza sobre a história de Lázaro. A Palavra de Deus é viva, ela sugere coisas diferentes para nós em momentos diferentes de nossas vidas. De tempos em tempos, podemos nos identificar com um ou outro dos personagens descritos na cena.

A imaginação não é fantasia. Não estamos fazendo um voo com a mente. Temos um texto preciso, palavras precisas. Uma cena já descrita. Devemos nos apropriar dela, fazê-la acontecer para nós no presente.

Sim, e devemos confiar que o Espírito Santo está agindo. É diferente de ler um romance. Na Bíblia, o Espírito Santo está trabalhando. Há alguns anos, estávamos conversando com o cardeal Dolan em seu programa de rádio e ele contou uma experiência que teve quando estava rezando sobre o presépio. Um diretor espiritual jesuíta pediu que ele "entrasse na oração" com sua imaginação, e foi a primeira vez que ele fez isso. Ele imaginou Maria entregando-lhe o bebê Jesus e ele tomando-o nos braços. Eu disse a ele: "aposto que da outra vez, quando você leu essa passagem do Evangelho, deve ter parecido diferente". Ele disse: "exatamente assim". Isso muda a maneira como encontramos o evangelho, nós o personalizamos por meio do Espírito.

É por isso que há necessidade de livros como o que o senhor escreveu? Uma maneira de redescobrir esse grande milagre que aconteceu. Uma esperança para nós, para nossa vida eterna?

Há duas maneiras de ver essa história. A primeira é acreditar que Jesus é a ressurreição e a vida. Portanto, um tipo de leitura teológica: acredito que Jesus oferece vida às pessoas e acredito que ele oferecerá vida a mim. Mas há também um tipo de leitura espiritual, que é o que isso significa em minha vida diária. O que significa para mim, na minha vida diária, essa história que aconteceu há 2.000 anos? O ensinamento é que tudo o que nos impede de ouvir a palavra de Deus com mais liberdade deve ser deixado no túmulo para que possamos entrar na nova vida. Em cada momento do dia, Deus está nos dizendo: "vem para fora".

Não há situações, não há pecados, não há corrupção em que estejamos presos que sejam impenetráveis à graça. Não há situações em que o olhar de Jesus não possa mudar algo. É essa a mensagem da página do Evangelho descrita no livro?

Não há nada em nós que cheire mal e para o qual Jesus não queira olhar. Assim, uma das partes mais bonitas da história é quando Jesus chega ao sepulcro e diz: "tirem a pedra". Marta diz: "já cheira mal", e eu gosto de lembrar às pessoas que há tantas coisas em nós que achamos que são podres, fedorentas, malcheirosas ou qualquer outra palavra que você queira usar. Temos vergonha de mostrá-las a Jesus, temos vergonha de falar sobre elas em oração. Temos vergonha de falar sobre elas até mesmo com diretores espirituais ou em confissão. Mas Jesus não tem medo desse mau cheiro. Ele não tem medo de remover a pedra dos nossos sepulcros e nos chamar de volta à vida.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF