QUE MUNDO É ESSE?
Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
Experimentamos sentimento de perda com as
inundações, estiagens, descontrole da vida social. Quando as relações humanas
estão fragilizadas é porque perdemos o senso da espiritualidade, da libertação
dos instintos egocentristas. Frequentemente encontramos na Sagrada Escritura
relatos dos vacilos do Povo de Deus ao longo de sua história. O distanciamento
de Deus, aproxima as confusões, tensões e desajustes na sociedade. A natureza
sinaliza tais desacertos e se manifesta, por vezes, tragicamente porque invadimos
o seu percurso natural e lógico.
Convivemos com a natureza que nos acolhe e nos
sustenta, mas não sabemos como se explica, em última análise, o que faz
germinar, crescer uma semente. O Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, em
miniatura. Jesus procura fazer os discípulos entenderem que o desenvolvimento
da mente humana, o retorno ao Deus da vida que nos liberta das angústias, é um
processo de crescimento, de evolução na fé.
Nos admiramos das técnicas avançadas, das
facilidades midiáticas, das redes sociais, enfim, quanta criatividade e
novidade apreciamos a cada instante. As relações humanas não têm evoluído nessa
proporção. Entramos no mundo da dominação, da frieza relacional e desenvolvemos
o instinto da competição desenfreada que machuca e destrói a natureza, a vida
humana. Os pais não têm tempo para os filhos, nem para a convivência familiar.
Criam-se outros modelos de vida que revela os desajustes do afeto, do respeito
e da dignidade humana. Sentimos saudades da comunhão de vida, da libertação das
amarras de um sistema que produz, vorazmente e não consegue evoluir no
respeito, na paz que gera vida em plenitude.
Afinal, que mundo é esse em que vivemos?
Destruímos a natureza, em busca do lucro selvagem. Justificamos o desmonte
ecológico em nome do desenvolvimento, intoxicamos a mãe terra e reclamamos das
pandemias, doenças, do vazio sistemático que gera depressão, abandono,
solidão.
O que fazer? O profeta Ezequiel, que caminha
contra a corrente dos costumes do seu tempo, prega a libertação de Israel em
exílio. É preciso voltar a Deus. “E todas as árvores do campo saberão que eu
sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a
árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24).
Respeitar a presença divina gera a salutar convivência no mundo em que vivemos.
A vinda do Filho de Deus ao mundo aponta o rumo a ser tomado, para salvar a vida,
o maior dom do Criador. “Todos nós temos de comparecer às claras perante o
tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou
castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal” (2Cor 5,10).
Para fazer os discípulos entenderem a riqueza
do Reino de Deus, Jesus utiliza a comparação da semente que é lançada na terra.
Sabemos da qualidade, do ambiente, do tempo, dos insumos necessários para que a
semente germine e chegue aos seus frutos. Não há equívoco. Não há alteração na
qualidade, na espécie. Mas o crescimento é Deus quem dá. Ao nos ausentarmos da
intimidade com aquele que gera crescimento, nos afastamos da essência da vida.
Homens e mulheres que ditam as normas da condução da sociedade, se não
estiverem afinados com a sabedoria divina, criarão instrumentos de exploração,
de divisão, de ódio e de exclusão.
Que a leitura da Palavra de Deus nos instrua, nos
anime e nos qualifique na vida, para que toda criatura humana, cresça na fé, na
esperança e caminhe ao encontro definitivo com Deus no Reino que Ele preparou
para todos nós. Esse é o mundo desejado e anunciado por Jesus Cristo.
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