Trabalho de Deus
“Não vos digo: abandonai a cidade e afastai-vos dos negócios. Não. Permanecei onde estais, mas praticai a virtude”. Isso dizia um santo do século quarto e o repetia São Josemaria ao proclamar que Deus nos espera na vida cotidiana e no trabalho bem feito.
24/05/2010
São Josemaria Escrivá costumava falar da antiga novidade da
mensagem que recebeu de Deus: antiga como o Evangelho e, como o
Evangelho, nova [1]. Antiga, pois o espírito do
Opus Dei é aquele que viveram os primeiros cristãos, que se sabiam
chamados à santidade e ao apostolado sem saírem do mundo, nas suas ocupações e
tarefas diárias. Por isso, a maneira mais fácil de entender o
Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos. Viviam a sério sua
vocação cristã, procuravam seriamente a perfeição, a que estavam chamados pelo
fato, simples e sublime, do batismo [2].
Enchia de alegria o fundador do Opus Dei encontrar trechos desta
mensagem nos escritos dos primeiros Padres da Igreja. Bem claras a esse
respeito são as palavras que São João Crisóstomo dirige aos fiéis no século IV:
“Não vos digo: abandonai a cidade e afastai-vos dos negócios. Não. Permanecei
onde estais, mas praticai a virtude. Para dizer a verdade, quisera antes que
brilhassem pela sua virtude os que vivem no meio das cidades, que os que foram
viver nos montes. Porque disso se seguiria um bem imenso, já que ninguém acende
uma luz e a coloca debaixo do alqueire... E não me digas: tenho filhos, tenho
mulher, tenho que cuidar da casa e não posso cumprir o que me dizes. Se nada
disto tivesses e fosses tíbio, tudo estava perdido; mesmo quando tudo isso te
rodear, se fores fervoroso, praticarás a virtude. Só uma coisa é necessária:
uma disposição generosa. Se ela existe, nem idade, nem pobreza, nem riqueza,
nem negócios nem qualquer outra coisa pode constituir um obstáculo à virtude.
E, na verdade, velhos e jovens, pais de família, artesãos e soldados, cumpriram
tudo o que foi mandado pelo Senhor. Davi era jovem; José, escravo; Áquila era
artesão; a vendedora de púrpura estava à frente do seu comércio; outro era
guarda de uma prisão; outro, centurião como Cornélio; outro estava doente, como
Timóteo; outro era um escravo fugitivo, como Onésimo. No entanto, nada disso
foi obstáculo para nenhum deles e todos brilharam pela sua virtude: homens e
mulheres, jovens e velhos, escravos e livres, soldados e civis” [3].
“O SENHOR QUER ENTRAR EM COMUNHÃO DE AMOR COM
CADA UM DOS SEUS FILHOS NA TRAMA DAS OCUPAÇÕES DE CADA DIA, NO CONTEXTO
ORDINÁRIO EM QUE SE DESENVOLVE A EXISTÊNCIA” (JOÃO PAULO II)
As circunstâncias da vida cotidiana não são obstáculo, mas matéria e
caminho de santificação. Com as fraquezas e defeitos de cada um, como aqueles
primeiros discípulos, cidadãos cristãos que querem corresponder
cabalmente às exigências da sua fé [4]. O espírito do Opus Dei
dirige-se a cristãos que não precisam sair do seu lugar para encontrar e amar
Deus, justamente porque – como recordou João Paulo II glosando o ensinamento de
São Josemaria – “o Senhor quer entrar em comunhão de amor com cada um dos seus
filhos na trama das ocupações de cada dia, no contexto ordinário em
que se desenvolve a existência”[5].
Por isso, exclamava o nosso Padre: Ao suscitar nestes anos a sua
Obra, o Senhor quis que nunca mais se desconheça ou se esqueça a verdade de que
todos devem santificar-se e de que compete à maioria dos cristãos santificar-se
no mundo, no trabalho ordinário. Por isso, enquanto houver homens na terra,
existirá a Obra. Sempre se produzirá este fenômeno: que haja pessoas de todas
as profissões e ofícios, que procurem a santidade no seu estado, na profissão
ou no seu ofício, sendo almas contemplativas no meio da rua [6].
J. López
___________
Bibliografia:
[1] Questões atuais do Cristianismo, n. 24.
[2] Idem.
[3] São João Crisóstomo, In Matth. hom., XLIII, 5.
[4] Questões atuais do Cristianismo, n. 24.
[5] João Paulo II, Alocução na Audiência aos participantes no
Congresso "A grandeza da vida cotidiana", 12-01-2002, n. 2.
[6] De nosso Padre, Carta 9-01-1932, nn. 91-92. Citado
em O Fundador do Opus Dei, p. 304.
Fonte: https://opusdei.org/pt-br
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