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domingo, 23 de junho de 2024

Trabalho de Deus (2)

Fotografias do artigo sob licença Creative Commons de (por ordem de aparição): catdancing, ciro_40tokyo, danncer, moriza, drp | Opu Dei

Trabalho de Deus

“Não vos digo: abandonai a cidade e afastai-vos dos negócios. Não. Permanecei onde estais, mas praticai a virtude”. Isso dizia um santo do século quarto e o repetia São Josemaria ao proclamar que Deus nos espera na vida cotidiana e no trabalho bem feito.

24/05/2010

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Os ensinamentos que São Josemaria transmitiu com a sua palavra e os seus escritos, juntamente com o seu exemplo, constituem um espírito com traços característicos, como o sentido de filiação divina, a contemplação na vida cotidiana, a fusão da alma sacerdotal com a mentalidade laical, o amor à liberdade e a alegria dos filhos de Deus... Estes e todos os outros aspectos dos ensinamentos do Fundador do Opus Dei não são simplesmente elementos justapostos, mas centelhas de um único espírito capaz de informar e penetrar em todos os momentos e circunstâncias da vida.

Do mesmo modo que uma porta gira com naturalidade à volta do seu gonzo, assim o espírito da Obra apoia-se, como que na sua dobradiça, no trabalho ordinário, no trabalho profissional exercido no meio do mundo [7]. A dobradiça de uma porta não é mais importante que a porta, mas um elemento que ocupa uma posição única. Assim como uma dobradiça sozinha não serviria para nada sem porta, do mesmo modo não teria sentido – por muito que brilhasse - um trabalho profissional isolado do conjunto, convertido enfim em si mesmo: um trabalho que não fosse eixo da santificação de toda a vida ordinária, familiar e social. Mas, ao mesmo tempo, o que seria da porta sem o eixo? Para nós, o trabalho profissional, os deveres familiares e sociais são elementos inseparáveis da unidade da vida, imprescindível para nos santificarmos e santificar o mundo de dentro, formação da sociedade humana, de acordo com o querer de Deus [8].

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O nosso trabalho profissional pode ser, efetivamente, trabalho de Deus, operatio Dei, porque somos filhos adotivos de Deus e formamos uma só coisa com Cristo. O Filho Unigênito fez-se Homem para nos unir a Si – como os membros de um corpo estão unidos à cabeça – e agir por meio de nós. Verdadeiramente somos de Cristo como Cristo é de Deus [9]. Ele vive e atua no cristão pela graça.

São Josemaria pregou incansavelmente que qualquer trabalho honesto pode ser santificado – tornar-se santo –, converter-se em obra de Deus. E que o trabalho assim santificado nos identifica com Cristo – perfeito Deus e perfeito Homem –, nos santifica e aperfeiçoa, transformando-nos na sua imagem. É tempo de os cristãos dizerem em voz alta que o trabalho é um dom de Deus [10]: não um castigo ou uma maldição, mas uma realidade querida e abençoada pelo Criador antes do pecado original [11], uma realidade que o Filho do Deus encarnado assumiu em Nazaré, onde levou uma vida de muitos anos de trabalho diário em companhia de Santa Maria e São José, sem brilho humano, mas com esplendor divino. Nas mãos de Jesus o trabalho, e um trabalho profissional semelhante ao que desenvolvem milhões de homens no mundo, converte-se em tarefa divina, em trabalho redentor, em caminho da salvação [12]. O próprio esforço que exige o trabalho foi elevado por Cristo a instrumento de libertação do pecado, de redenção e santificação [13]. Não existe trabalho humano limpo que não possa “transformar-se em âmbito e matéria de santificação, em campo de exercício das virtudes e em diálogo de amor” [14].

Fotografias do artigo sob licença Creative Commons de (por ordem de aparição): catdancing, ciro_40tokyo, danncer, moriza, drp | Opu Dei

Nas nossas mãos, como nas de Cristo, o trabalho tem de se converter em oração a Deus e em serviço aos homens para a corredenção da humanidade inteira. O Criador formou o homem do barro da terra e tinha-o feito participar do Seu poder criador para que aperfeiçoasse a Criação, transformando-a com seu engenho [15]. No entanto, depois do pecado, em vez de elevar as realidades desta terra à glória de Deus por meio do trabalho, muitas vezes o homem cega e degrada a si mesmo. Mas Jesus converteu o barro em colírio para curar a nossa cegueira, como fez com o cego de nascença [16]. Quando descobrimos que é possível santificar o trabalho, tudo fica iluminado com um novo sentido e começamos a ver e a amar a Deus – a ser contemplativos – nas situações que antes pareciam monótonas e vulgares ou se desenvolviam num horizonte apenas terreno, sem alcance eterno e sobrenatural.

Um panorama esplêndido abre-se à nossa frente: santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho [17].

Fotografias do artigo sob licença Creative Commons de (por ordem de aparição): catdancing, ciro_40tokyo, danncer, moriza, drp | Opu Dei

Somos protagonistas do desígnio divino de pôr Cristo no cume de todas as atividades humanas. Desígnio que Deus quis que São Josemaria, compreendesse com uma visão clarividente que o levava a escrever, cheio de fé na graça e de confiança na nossa correspondência: Contemplo já ao longo dos tempos até o último dos meus filhos – porque somos filhos de Deus, repito – atuar profissionalmente, com sabedoria de artista, com felicidade de poeta, com segurança de mestre, com pudor mais persuasivo do que a eloquência, buscando – ao procurar a perfeição cristã na sua profissão e seu estado no mundo – o bem de toda a humanidade[18].

* * *

Oh Deus, que preciosa é a tua misericórdia! Por isso, os filhos dos homens, se acolhem à sombra das tuas asas (...). Em ti está a fonte da vida, e na tua luz veremos a luz [19]. A Santíssima Trindade concedeu ao nosso Fundador a sua luz para que contemplasse profundamente o mistério de Jesus Cristo, a luz dos homens [20]: concedeu-lhe “uma vivíssima contemplação do mistério do Verbo Encarnado, graças à qual compreendeu com profundidade que o emaranhado das realidades humanas se compenetra intimamente no coração do homem renascido em Cristo, com a economia da vida sobrenatural, convertendo-se assim em lugar e meio de santificação” [21]. O espírito da Obra iluminou já a vida de uma multidão de homens e mulheres das mais diversas condições e culturas, que empreenderam a aventura de ser santos na naturalidade da vida cotidiana. Uma aventura de amor a Deus, abnegado e forte, que enche de felicidade a alma e semeia no mundo a Paz de Cristo [22].

João Paulo II convidava a seguir fielmente o exemplo de São Josemaria. “Seguindo as pegadas do vosso Fundador, prossegui com zelo e fidelidade a vossa missão. Mostrai com o vosso esforço diário que o amor de Cristo pode animar todo o arco da existência” [23]. Contamos, sobretudo, com a intercessão de nossa Mãe. Pedimos a Ela que nos prepare diariamente o caminho e no-lo conserve sempre. Dulcissimum Cor Mariae, iter para tutum!, Serva tutum Iter!

J. López

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Bibliografia:

[7] É Cristo que passa, n. 45.

[8] Cfr. Conc. Vaticano II, Cons. dogm. Lumen gentium, n. 33.

[9] Cfr. Jo 6, 56-57; 17, 23; 1 Co 3, 23; Cl 1, 26-29; Gal 2, 20; Rm 8, 10-11.

[10] É Cristo que passa, n. 47.

[11] Cfr. Gn 2, 15.

[12] Questões atuais do Cristianismo, n. 55.

[13] Cfr. 1 Cor 6, 11.

[14] João Paulo II, Alocução na Audiência aos participantes no Congresso “A grandeza da vida cotidiana”, 12-01-2002, n. 2.

[15] Cfr. Gn 2, 7, 15.

[16] Cfr. Jo 7, 7.

[17] É Cristo que passa, n. 44.

[18] São Josemaria, Carta 9-01-1932, n. 4.

[19] Sal 35, 8, 10.

[20] Jo 1, 4.

[21] Congregação para as Causas dos Santos, Decreto sobre o exercício heroico das virtudes do Servo de Deus Josemaria Escrivá de Balaguer, Fundador do Opus Dei, 9-04-1990, §3.

[22] Cfr. Ef 1, 10.

[23] João Paulo II, Alocução na Audiência aos participantes no Congresso “A grandeza da vida cotidiana”, 12-01-2002, n. 4.

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Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF