A AVAREZA: UM VÍCIO CAPITAL QUE ENFRAQUECE A ALMA
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
No Catecismo da Igreja Católica (n. 1866), a
avareza se encontra entre os sete pecados capitais. Ela é um pecado que se opõe
à liberalidade e é considerado um dos vícios capitais porque gera outros
pecados e vícios. Hugo de São Victor, em sua obra “Os cinco setenários”,
explica que os vícios capitais são doenças que enfraquecem a alma. Ele coloca a
avareza em quinto lugar, descrevendo-a como o vício que “joga o homem no chão”.
Despojado pela soberba, inveja, ira e tristeza, o homem busca consolo exteriormente
por meio da acumulação de bens.
Na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino
discute a avareza de maneira detalhada e conclui que a avareza é um pecado
porque representa o desejo imoderado de possuir bens materiais, excedendo a
medida necessária para a vida humana. Para Santo Tomás, a avareza se opõe à
liberalidade, virtude que modera nossos desejos e afetos em relação às
riquezas, ensinando-nos a usar nossos bens de maneira justa e generosa. Segundo
ele, a avareza é um pecado especial porque representa um desejo excessivo e
desordenado de possuir bens materiais, superando a medida necessária para a
vida humana. A avareza pode ser tanto um pecado mortal quanto venial,
dependendo da intensidade do desejo e das ações resultantes desse desejo.
Em sua Catequese na Audiência Geral de
24/01/2024, o Papa Francisco destaca que a avareza não é apenas uma questão de
dinheiro, mas uma doença do coração que afeta pessoas de todas as classes
sociais. Ele observa que a avareza impede a generosidade e cria uma relação
doentia com os bens materiais, comparando esse apego ao comportamento infantil
de se agarrar a brinquedos. Para curar essa doença, o Papa recomenda a
meditação sobre a morte, lembrando-nos de que não podemos levar nossos bens
conosco após a morte e que devemos focar em acumular tesouros no céu.
A avareza é um vício capital que leva à busca
desenfreada por bens materiais, impedindo a prática da generosidade e do amor
ao próximo. Aprender com Jesus que “a vida de alguém não consiste na abundância
dos bens que possui” (Lc 12,15) é fundamental para superar a avareza.
O Rico Avarento da parábola contada por Jesus
(Lc 12,13-21) passou a vida acumulando riquezas e, ao alcançar sua meta,
acreditava que poderia finalmente usufruir delas. No entanto, morreu naquela
mesma noite, sem aproveitar o que acumulou, deixando tudo para outros que deles
irão desfrutar. A avareza é o mais estúpido dos vícios capitais, pois impede o
avarento de desfrutar do poder de suas posses, uma vez que ele tem medo de se
utilizar do seu dinheiro, vendo o uso dele como gasto e perda. Ele transforma o
dinheiro em um fim em si mesmo, vivendo em constante angústia de perder o que
possui e, com isso, não desfruta do bem-estar e prazeres que o dinheiro pode
proporcionar. O avarento acredita que o dinheiro lhe dá poder absoluto, mas
esse poder nunca se concretiza. Ele evita usar seus bens como meios para uma
vida feliz e generosa, vivendo uma vida vazia. A realização humana, conforme
ensinado por Jesus, não reside na acumulação de bens materiais: “O homem não
vive somente de pão, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,
4). A verdadeira realização humana está em seguir a palavra de Deus e viver uma
vida de generosidade e desapego material.
Combater a avareza requer uma mudança de coração e
de atitude em relação aos bens materiais. Hugo de São Victor destaca a
importância de buscar consolo não na acumulação de bens, mas na prática das
virtudes e na relação com Deus. Encorajar a liberalidade, meditar sobre a
mortalidade e focar na acumulação de tesouros espirituais são passos essenciais
para superar esse vício capital. Assim, podemos viver uma vida mais plena,
focada no que realmente importa: nossa relação com Deus e com o próximo. A verdadeira
riqueza não está na acumulação de bens materiais, mas na capacidade de viver
uma vida de generosidade, amor e serviço. Seguir os ensinamentos de Jesus e a
sabedoria dos santos nos ajuda a encontrar a realização verdadeira e a viver de
acordo com a vontade de Deus.
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