Translate

segunda-feira, 1 de julho de 2024

A centralidade do Domingo – Dies Domini

Santa Missa da Ressurreição do Senhor presidida pelo Papa Francisco no Domingo de Páscoa (31/03/2024) (Vatican Media)

"O domingo constitui o núcleo elementar do ano litúrgico. O surgimento do domingo (Dies Domini – Dia do Senhor) está diretamente relacionado ao evento pascal de Cristo desde o início da Igreja."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Para nós, cristãos, o centro do dia do Senhor, o domingo, é a Eucaristia, que significa “ação de graças”. É o dia para dizer a Deus: Senhor, obrigado pela vida, pela sua misericórdia, por todos os teus dons. O domingo não é o dia para anular os outros dias, mas para os recordar, bendizer e fazer as pazes com a vida. Quantas pessoas têm muitas possibilidades de se divertir, e não estão em paz com a vida! O domingo é o dia para fazer as pazes com a vida, dizendo: a vida é preciosa; não é fácil, às vezes é dolorosa, mas é preciosa. (Papa Francisco - Audiência Geral de 5 de setembro de 2018)”

O domingo recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo, escreveu São João Paulo II na Carta Apostólica Dies Domini "É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da «nova criação». É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do «último dia», quando Cristo vier na glória e renovar todas as coisas".

Já Bento XVI, no Regina Coeli de 15 de abril de 2012, explicava que "aquele dia, chamado depois de “domingo”, “dia do Senhor”, é o dia da assembleia, da comunidade cristã que se reúne para seu culto próprio, isto é, a Eucaristia, culto novo e diferente daquele judaico do sábado. De fato - enfatizou - a celebração do Dia do Senhor é uma prova muito forte da Ressurreição de Cristo, porque somente um acontecimento extraordinário e envolvente poderia levar os primeiros cristãos a iniciar um culto diferente em relação ao do sábado hebraico."

"A centralidade do Domingo – Dies Domini", é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

"A Constituição Sacrosanctum Concilium – que fala sobre a Sagrada Liturgia - aponta sobre as celebrações nos mais variados tempos litúrgicos e sobretudo que o Mistério Pascal seja acentuado na Liturgia cristã, valorizando o Domingo como dia consagrado ao Senhor, de escuta da Palavra e participação da Eucaristia. O Concílio Vaticano II, na SC nº 106, fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, “Dia do Senhor”, é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia. O Concílio, dentro das preocupações da reforma da liturgia, propõe uma revalorização do domingo. O domingo constitui o núcleo elementar do ano litúrgico. O surgimento do domingo (Dies Domini – Dia do Senhor) está diretamente relacionado ao evento pascal de Cristo desde o início da Igreja. Como escreve o frade José Ariovaldo da Silva, doutor em Teologia pelo Pontifício Santo Anselmo: “O primeiro dia da semana se tornou, para os cristãos, um dia memorável, inesquecível, por causa da impressionante novidade da ressurreição”[1].

O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10). Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o “dia que o Senhor fez para nós” (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

São João Paulo II, em 1998, antes do terceiro milênio, na sua Carta Apostólica DIES DOMINI, afirma dessa maneira: “A sua importância fundamental, reconhecida continuamente ao longo de dois mil anos de história, foi reafirmada vigorosamente pelo Concílio Vaticano II: «Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina do Senhor ou domingo». Paulo VI ressaltou novamente a sua importância, quando aprovou o novo Calendário Geral romano e as Normas universais que regulam o ordenamento do Ano Litúrgico. A iminência do terceiro milênio, ao solicitar os crentes a refletirem, à luz de Cristo, sobre o caminho da história, convida-os também a redescobrir, com maior ímpeto, o sentido do domingo: o seu «mistério», o valor da sua celebração, o seu significado para a existência cristã e humana” (DDm, n.3.)

O domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis, de modo que seja sempre um dia de alegria, de descanso do trabalho, de participação na comunidade paroquial. Diz assim os padres conciliares, na SC, número 106, pelo texto literal: “O domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso. Não deve ser sacrificado a outras celebrações que não sejam de máxima importância, porque o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico”.  Traduzindo as palavras dos padres conciliares, entenda-se claramente que nenhuma celebração que não seja o Dia do Senhor, no Domingo, seja maior que essa festa de alegria e de maior importância. O restante deve ficar em segundo plano, salvo exceções que as circunstâncias exigem. Mesmo a festa do padroeiro de uma comunidade, igreja ou paróquia deveria ter a direção de enfocar o Cristo Ressuscitado, mistério principal da vida cristã, para o qual o santo em destaque ofertou sua vida. O Domingo, por se tratar de um dia de alegria, nem na quaresma não se faz jejum. É um dia de festa, de esperança, de muito entusiasmo, pois Cristo ressuscitou e nos deu Vida Nova. É um dia de descanso, de júbilo, sem nenhum trabalho árduo, como se fosse um dia qualquer da semana. O domingo, na família e na comunidade, será sempre um dia de festa e explosão de alegria pela grande notícia de Cristo Ressuscitado.

Nenhuma liturgia de qualquer santo poderá ter proeminência sobre o Dies Domini, o Dia do Senhor. É logico que o santo padroeiro da localidade será comemorado normalmente num domingo, possibilitando a participação popular de todo o Povo de Deus. Salvo a festa do padroeiro ou padroeira, que poderá ser celebrado no domingo, as celebrações menores permanecem em segundo plano. A Ressurreição do Senhor, celebrada no Domingo, extensão da Páscoa, é colocado em destaque em todo o ano litúrgico e não somente no Tempo Pascal. A festa dos Santos, as devoções populares, não tem primazia sobre a festa máxima do Senhor Vitorioso do sepulcro. Prime-se por exaltar a maior festa do Cristão celebrada no Domingo, Dia do Senhor (Dies Domini), dia de preceito, dia de descanso, dia da Palavra e dia da Eucaristia. O Domingo, por excelência, é dia da Celebração da vitória de Cristo, devendo ter destaque todo especial na liturgia."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
________________
[1] DA SILVA. José Ariovaldo. O domingo páscoa semanal dos cristãos. São Paulo: Paulus, 1998, p. 14.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF