A missa como sacrifício
Na Missa, Jesus não é “morto de novo e de novo”, como
alguns críticos reivindicam, mas Ele é oferecido continuamente, numa oblação
pura, desde o nascer até o pôr do sol.
Sabemos que ainda não somos dignos do céu. É por isso que
somos dependentes do cálice que recebemos na Missa, o sangue de Jesus, cujo
“sangue aspergido… fala mais misericordiosamente do que o sangue de Abel”. O
sangue de Cristo, o cálice do Seu sangue, purifica os pecadores arrependidos e
é, para eles, um cálice de bênção e de perdão.
A Igreja Católica ensina que a Sagrada Comunhão remove todos
os pecados veniais da alma do pecador. Através de nosso contato com Jesus
tornamo-nos, pela graça, o que Ele é por natureza. Participamos de Sua
natureza. Ele é todo puro, todo santo, e por isso, Seu toque nos purifica. O
que Ele diz ao leproso é igualmente válido para nós: “Eu quero, fica
purificado” (Mt 8,3).
Na Antiga Aliança, os israelitas ofereciam sacrifícios para
expiar os pecados, mas agora, Cristo se tornou o sacrifício plenamente
suficiente. Por Sua morte, Ele cumpriu o que muitos milhões de oferendas do
mundo antigo jamais puderam cumprir. Vejamos a Epístola aos Hebreus: “De fato,
se o sangue de bodes e touros e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres
impuros os santificam, realizando a pureza ritual dos corpos, quanto mais
sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos
ao Deus vivo” (Hb 9,13-14). A morte e ressurreição de Cristo marcam um
sacrifício “de uma vez por todas”: “somos santificados pela oferenda do corpo
de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,10).
A morte e ressurreição de Jesus aconteceram apenas uma vez
na história, mas Ele quis que todas as pessoas, das diversas épocas,
participassem daquele sacrifício. E a forma desejada por Deus é a Missa, que é
em si, o sacrifício de Jesus Cristo. Ele não é “morto de novo e de novo”, como
alguns críticos reivindicam, mas Ele é oferecido continuamente, numa oblação
pura, desde o nascer até o pôr do sol.
O sacrifício de Cristo não anula o nosso, mas faz com que
seja possível. Com efeito, foi Jesus quem ordenou a Seus ministros sacerdotes
para que participassem de Seu ato sacrificial, pois foi Ele quem disse: “Fazei
isto em memória de mim”. Os Seus Apóstolos, como todos os sacerdotes católicos
subsequentes, não submetiam a Jesus, mas antes, O representam e participam de
Seu sacerdócio.
Os primeiros cristãos viviam num mundo onde o sacrifício era
parte integrante de uma religião. Se tivessem se convertido do Judaísmo,
conheceriam os sacrifícios do Templo de Jerusalém. Se tivessem vindo do
paganismo, conheceriam os sacrifícios dos deuses pagãos. Mas agora, todos esses
sacrifícios deram lugar ao rito habitualmente chamado de “o sacrifício”. A
Carta aos Hebreus cita o Salmo 50,23 para incentivar um contínuo “sacrifício de
louvor” (Hb 13,15) na Igreja. Paulo, comumente, usa uma linguagem com palavras
próprias de um culto de sacrifício, tais como: leutourgia (liturgia; por
exemplo, Rm 15,16), eucaristia (ação de graças, eucaristia; por exemplo, 2Cor
9,11), thusia (sacrifício; por exemplo, Fl 4,18); hierougein (serviço
sacerdotal; por exemplo, Rm 15,16); e prosphoron (oferenda; por exemplo, Rm
15,16). Pedro fala de toda a Igreja como um sacerdócio chamado de “a oferta dos
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pd 2,5).
Essa linguagem sacrifical aparece também nos escritos
cristãos dos discípulos dos Apóstolos. Um livro antigo, chamado Didaqué,
repetidamente usa a palavra “sacrifício” para descrever a Eucaristia: “E no dia
do Senhor, reuni-vos para partir o pão e dar graças, primeiramente confessando
suas transgressões, para que o seu sacrifício seja puro”. Santo Inácio de
Antioquia, escrevendo apenas alguns anos depois da morte dos Apóstolos,
habitualmente se referia à Igreja como o “lugar do sacrifício”.
No Antigo Testamento, os sacrifícios iniciavam ou
restauravam a comunhão entre Deus e o homem; e assim o faz a Missa, no Novo
Testamento, só que de forma mais perfeita. Para Santo Inácio e seus
contemporâneos em 105 d. C., a Igreja estava unida em comunhão pela Eucaristia.
Isso eles tinham aprendido bem de São Paulo, que disse: “Porque há um só pão,
nós, embora muitos, somos um só corpo, esclareceu esta doutrina para qualquer
um que pudesse estar em dúvida: “Acautelai-vos, então, de ter, porém, uma Eucaristia.
Porque há uma só carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, e um cálice para
manifestar a unidade do seu sangue; um altar, como há um só bispo, juntamente
com os sacerdotes e diáconos, meus companheiros no serviço”. E, Inácio, definia
como hereges aqueles que se abstém da Eucaristia e da oração, porque não
confessam que a Eucaristia é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual
sofreu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, O ressuscitou”.
Pelo fato de não crescermos ao redor de cultos de
sacrifício, como os primeiros cristãos faziam, não estamos acostumados à
linguagem que Inácio utiliza a todo o momento, uma linguagem de sacrifício, ao
falar de um altar, por exemplo, e da oferenda da carne. Numa outra carta sua,
ele mesmo se compara a uma oferenda de trigo e de pão. Para cada culto
sacrifical, fosse em Israel, na Grécia ou em Roma, era necessário um sacerdote.
Esse, por definição, é alguém que oferece o sacrifício (ver Hb 8,3). Santo
Inácio reconhece o sacerdócio de todos os fiéis, como São Pedro; mas ele também
reconhece, como São Paulo, que alguns homens são separados para presidir os
ritos da Igreja. Inácio escreveu aos cristãos de Esmirna: “Que a Eucaristia só
seja considerada válida se for celebrada na presença do bispo ou daquele a quem
ele tiver confiado à celebração”.
No Apocalipse, o livro do Novo Testamento que os católicos
consideram um “ícone da liturgia”, Cristo aparece como um cordeiro do
sacrifício (Ap 5,6). É o sangue desse Cordeiro, dado em sacrifício, que “tira
os pecados do mundo” (Jo 1,29).
Agora a oferenda está no céu, exatamente onde João a viu,
mas o céu toca a terra na Missa. Os Padres da Igreja gostavam de citar o
Profeta Isaías quando falavam sobre o sacrifício Eucarístico e seu poder de
apagar os nossos pecados: “Um dos serafins voou para mim segurando, com uma
tenaz, uma brasa tirada do altar. Com ela tocou meus lábios dizendo: ‘Agora que
isto tocou os teus lábios, tua culpa está sendo tirada; teu pecado, perdoado”
(Is 6,6-7). Para os primeiros cristãos, a “queima com carvão” prefigurava o
Santíssimo Sacramento, o Pão que desceu do altar de Deus para purificar a
Igreja em oração.
Retirado do livro: “Razões Para Crer”. Scott Hahn. Ed.
Cléofas.
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