E O AMANHÃ?
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
A tragédia que se abateu
recentemente sobre o Rio Grande do Sul, produzindo destruição e mortes requer
reflexão e coragem para possíveis decisões a fim de promover o necessário
respeito e cuidado para com o meio ambiente. Eventos meteorológicos com chuvas
intensas, prolongadas e em grande volume, ou períodos de seca prolongados e
calor intenso sempre aconteceram; são fenômenos naturais! No entanto, a
frequência maior de tais eventos suscita particular atenção, pois são expressão
de uma doença silenciosa que afeta a todos! O aquecimento global não é uma
ideologia! São visíveis os sinais de um desequilíbrio ambiental!
O desenvolvimento tecnológico e
as alterações climáticas, com suas consequências para todos, são certamente um
dos principais desafios que a sociedade e a comunidade global terão de
enfrentar com objetividade, coragem e determinação. O impacto das mudanças
climáticas prejudicará cada vez mais a vida de muitos. As consequências
atingirão os âmbitos da saúde, emprego, acesso a recursos, habitação, migrações
forçadas, entre outros.
Os recursos naturais necessários
para os avanços da tecnologia não são ilimitados. Provavelmente pela primeira
vez na história do gênero humano, os seres humanos estão, na prática, sendo
postos diante da tarefa de assumir a responsabilidade
solidária pelos efeitos de suas ações em um parâmetro que envolve todo o
planeta. Trata-se de uma crise. E “a ideia (pode-se dizer o modo de proceder!)
que criou a crise não será a mesma que nos tirará dela; temos que mudar” (A.
Einstein).
A cultura atual, marcada por
enormes avanços tecnológicos, exalta a democracia e a liberdade, sem, no
entanto, considerar a necessidade de discernimento e responsabilidade. Ora,
Cultura é liberdade que respeita e cultiva paridade e fraternidade. “Democracia
é resolver ‘juntos’ os problemas de todos” (Papa Francisco). Liberdade é filha
do conhecimento, proporcionado pela razão; é colocar-se a serviço uns dos
outros!
A razão moderna que tudo determina, deve reconhecer
seus limites, caso contrário não pode se considerar inteligente. A
implementação de programas de adaptação para reduzir os efeitos da alteração
climática em curso, exigirá estadistas, nobreza política, espírito
autenticamente democrático, humildade, coragem, liberdade, discernimento e
responsabilidade.
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