EM QUE SENTIDO MARIA É RAINHA?
Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Alguém poderia questionar o sentido de proclamar Maria
Rainha em pleno século XXI. Ocorre que esse título, quando aclamado pela
Igreja, tem um lato senso, há um alargamento do sentido habitual que atribuímos
a monarcas e soberanas. Desde o século IV Maria é aclamada Rainha na
Igreja, mas denominar especificamente esse título a um povo, como no caso de
Aparecida, Mãe e Rainha do Povo Brasileiro e a Medianeira, Rainha do povo
gaúcho, implica aprofundar o sentido bíblico e teológico de tal afirmação.
Dentre todos os santos e santas de Deus se
destaca a Santíssima Mãe do Senhor, a intercessora por excelência, a medianeira
da Graça. Maria é rainha de
todos os santos porque nos recorda que a consagração
batismal nos possibilita participar da vida de Deus e entrar em relação com ele, buscando a própria
santidade.
Maria é rainha porque vive as bem-aventuranças do Reino de
Deus. Jesus: “Felizes os pobres.” No Magnificat, Maria
canta que o Senhor olhou para a condição humilde de sua serva. (Lc 1,48).
O Reino de Deus já é dos pobres embora permaneça a tensão entre o presente e o
futuro. Maria é a mulher bendita e feliz, porque nela se cumpre o que o Senhor
prometera.
Depois Jesus disse: “Felizes os aflitos.” “Consolação”
indica a alegria do mundo novo, no qual não haverá mais o mal. Um dos títulos
que a tradição atribuiu a Maria é “Consoladora dos Aflitos”. Como
consoladora dos aflitos, Maria expressa sua solidariedade para com os
sofredores e, ao mesmo tempo, a esperança de mediação e intercessão ao
Espírito– o “Consolador”.
Jesus também declara felizes os mansos, pois eles
herdarão a Terra. Mansos são os que não fazem valer os seus
próprios direitos e cedem, ao invés de se irritarem. Quantas vezes Maria
enfrentou situações complexas diante do mistério da vida de Jesus. Em todas
essas situações, ela silencia e medita mansamente, em seu coração.
Disse Jesus: “Felizes os que têm fome e sede de
justiça, pois serão saciados. No Magnificat a Virgem
declara: “O Senhor sacia de bens os famintos, depõe os poderosos e despede
os ricos sem nada.” (Lc 1,52-53). Jesus quer uma justiça que
dê ao outro o que ele precisa para refazer sua vida com
dignidade.
E Jesus felicita os misericordiosos, cujo
coração se deixa tocar pela miséria do outro como se fosse
dele mesmo. A Virgem proclama que a misericórdia do Senhor “Se estende de
geração em geração. (Lc 1,50).
Jesus proclama: “Felizes os puros de coração, pois
verão a Deus”. O coração, centro da pessoa, contém o Filho que mora
pela fé em nosso coração. (Ef 3,17). A Virgem sempre foi aclamada como “toda
pura”, sem mancha e resplandecente de beleza, reza o Prefácio da
Imaculada. Sua pureza indica sua integralidade de humana que não conhece
ambiguidades em sua forma de ser e agir. Ela é toda de Deus, o “Santo!”
“Felizes os que promovem a paz”, diz Jesus, “porque
serão chamados filhos de Deus”. Inúmeras são as manifestações e devoções da
Mãe de Jesus estimulando o fim das guerras, do ódio e da violência. Maria
exerce, sempre, um verdadeiro ministério da paz sobre o mundo.
“Felizes os que são perseguidos, desses é o reino dos
Céus” falou Jesus. A Virgem viveu essa dura experiência de
acolher o Reino em meio à rejeição que seu Filho enfrentou a ponto de ser
crucificado. Mas Maria estava lá, aos pés da Cruz.
Sobre o lugar da santidade de Maria na comunhão dos santos,
escreveu a mística Santa Terezinha do Menino Jesus: “Sabe-se bem que a
Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da Terra, porém é
mais mãe do que rainha; e seria necessário não fazer acreditar (como com
frequência tenho ouvido dizer) que a causa de suas prerrogativas eclipsa a
glória de todos os santos, como o sol ao levantar-se faz desaparecer as
estrelas. Meu Deus, que estranho! Uma mãe que faz desaparecer a glória de seus
filhos! Eu penso exatamente o contrário, eu creio que ela aumentará muito o
esplendor dos eleitos!”
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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