Juíza do Reino Unido mantém proibição de bloqueadores de puberdade
Por Kate Quiñones*
30 de jul de 2024
Uma juíza de um tribunal superior do Reino Unido manteve
ontem (29) a proibição de emergência do governo britânico de bloqueadores de
puberdade para menores de idade porque os bloqueadores têm "riscos muito
substanciais e benefícios muito pequenos".
As drogas bloqueiam o desenvolvimento natural da criança
durante a puberdade, impedindo a produção de hormônios, como testosterona e
estrogênio, e são usadas como para alterar a aparência de quem se identifica
como sendo do sexo oposto.
O grupo de defesa TransActual contestou a
proibição do Reino Unido junto com um jovem de 15 anos cuja identidade é
segredo de Justiça.
Em sua decisão, a juíza Beverley Lang citou o estudo do
Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS, na sigla em inglês) como
"evidência científica poderosa em apoio às restrições ao fornecimento de
bloqueadores da puberdade, com base em que eles são potencialmente
prejudiciais".
As restrições de 2022, baseadas em um estudo conhecido como Cass Review (link em
inglês) impedem a prescrição e o fornecimento de análogos do hormônio liberador
de gonadotrofina conhecidos como "bloqueadores da puberdade" para
menores de idade, exceto quando usados em ensaios clínicos.
Embora a proibição emergencial de prescrição de bloqueadores
da puberdade expire em setembro, o governo do Reino Unido estabeleceu
"restrições indefinidas" às prescrições de bloqueadores da puberdade
na Inglaterra, segundo as diretrizes do NHS.
A TransActual condenou ontem (29) a decisão
da Suprema Corte em uma declaração (link em
inglês), dizendo que o estudo foi conduzido por acadêmicos
"anti-trans".
Os defensores da ideologia de gênero chamam de “trans”
pessoas que se identificam como sendo do sexo oposto e fazem tratamentos
químicos ou cirúrgicos para parecer do outro sexo.
Ideologia de gênero é a militância política baseada na
teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros
muito mais variados do que homem e mulher, representados na sigla LGBTQIA+.
A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis
1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e
mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.
O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem
e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita
igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu
respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade
boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que
lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma
mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher»,
refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
"Estamos seriamente preocupados com a segurança e
o bem-estar dos jovens trans no Reino Unido", disse o diretor de saúde da TransActual,
Chay Brown. "Nos últimos anos, eles passaram a ver o estabelecimento
médico do Reino Unido como um defensor de suas necessidades da boca para fora,
e muito felizes usar a própria existência deles como arma numa guerra cultural
já desacreditada."
Os defensores dos bloqueadores de puberdade argumentam que
as drogas ajudam os jovens a ganhar "tempo para pensar", segundo
documentos judiciais.
O relatório final da Cass Review, citado com
frequência pelo juiz, descobriu que "não há evidências de que os
bloqueadores da puberdade ganhem tempo para pensar e alguma preocupação de que
eles possam mudar a trajetória do desenvolvimento da identidade de gênero
psicossexual".
A Cass Review foi um estudo aprofundado
baseado em informações de médicos e profissionais experientes em serviços de
gênero e pais e organizações que trabalham com “crianças LGBTQ+”.
"Os profissionais que participaram do estudo muitas
vezes estavam em conflito porque reconheciam a angústia dos jovens e sentiam o
desejo de tratá-los, mas, ao mesmo tempo, a maioria tinha dúvidas por causa da
falta de informações sobre os resultados físicos e psicológicos a longo
prazo", dizia o relatório final da Cass Review, conforme
citado na decisão da Suprema Corte.
Muitos profissionais e pais se sentem pressionados a aderir
ao bloqueador da puberdade para crianças por medo de aumentar a probabilidade
de suicídio em indivíduos que se identificam com o sexo diferente do natural,
disse o relatório. Embora a taxa de suicídio para indivíduos que se identificam
com o sexo oposto seja desproporcionalmente alta, o estudo não encontrou
evidências de que o tratamento hormonal reduz o risco de suicídio. O risco de
suicídio de pessoas com disforia de gênero, incompatibilidade entre o sexo
percebido e o natural, "permaneceu comparável a outros jovens com uma gama
semelhante de problemas de saúde mental e psicossociais".
Em uma carta de 2022 citada pela Suprema Corte, a médica
Hilary Cass, que liderou o estudo, recomendou mais pesquisa sobre o tema.
Segundo ela, "a falta de provas continuará a ser
preenchida com opiniões e conjecturas polarizadas, o que pouco ajuda as
crianças e jovens, e suas famílias e cuidadores, que precisam de apoio e
informações para tomar decisões".
A Cass Review é um dos muitos estudos que
analisam mais de perto o tratamento da disforia de gênero. Um estudo recente da Mayo
Clinic descobriu que os bloqueadores da puberdade podem causar
"danos irreversíveis" aos meninos, e um estudo de 2022 descobriu que
dar bloqueadores de puberdade a crianças pode prejudicar
a densidade óssea.
"Não podemos encorajar ou dar apoio a intervenções
médicas cirúrgicas ou medicamentosas que prejudiquem o corpo”, disse a
Conferência Episcopal da Inglaterra e de Gales (CBCEW, na sigla em inglês) em
declaração em 25 de abril sobre identidade de gênero. “Também não podemos
legitimar ou defender um modo de vida que não respeite a verdade e a vocação de
cada homem e de cada mulher, chamados a viver segundo o desígnio divino".
"Vocês ainda são nossos irmãos e irmãs”, disse a CBCEW
em um comunicado dirigido a pessoas que se identificam com o sexo oposto. “Não
podemos ficar indiferentes às suas dificuldades e ao caminho que vocês possam
ter escolhido. As portas da Igreja estão abertas para vocês, e vocês devem
encontrar, de todos os membros da Igreja, um acolhimento compassivo, sensível e
respeitoso".
*Kate Quiñones é redatora da Catholic News Agency e
membro do site de notícias The College Fix. Ela já escreveu para o Wall Street
Journal, para o Denver Catholic Register e para o CatholicVote, e se formou
pelo Hillsdale College. Ela mora com o marido no Colorado, nos EUA.
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