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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Missionária do Kivu do Norte: não sabemos o que acontecerá amanhã

Irmã Agnieszka Gugała (Vatican Media)

Há muito tempo, os voluntários humanitários foram dispensados, enquanto as missionárias permanecem porque as pessoas necessitam delas. "Partiremos apenas com aqueles que temos sob nossos cuidados", afirmou a irmã Agnieszka Gugała. A missionária polonesa trabalha no Kivu do Norte, onde há quase três décadas ocorre uma das guerras mais sangrentas da África.

Beata Zajączkowska – Cidade do Vaticano

A irmã Agnieszka foi para a África há 20 anos. Como ela recorda, percebeu sua vocação missionária ainda no ensino médio. "Pode-se dizer que foram as missões que me conduziram à Congregação das Irmãs dos Anjos", confessou. Nos primeiros anos de sua vida religiosa, trabalhou ensinando catequese nas escolas, cuidando de crianças e jovens. Recebeu permissão para ir à África após os votos perpétuos. Primeiro foi para Ruanda, depois veio a vez da República Democrática do Congo. Há uma década, ela gerencia um hospital e um centro nutricional para crianças no vilarejo de Ntamugenga. A missionária brinca dizendo ser o homem da casa: suas ocupações vão desde a compra de torneiras, sabonetes e medicamentos, pagamento dos funcionários, reparo do telhado, até a busca de panelas e colchões para os refugiados, além das arriscadas viagens a Goma, a única cidade da região onde pode adquirir os medicamentos necessários, alimentos e leite para as crianças que perderam suas mães. Durante essas expedições, é preciso passar por vários postos de controle que estão nas mãos dos rebeldes. Em quase todos, precisa negociar para poder seguir com sua missão.

Matérias-primas ensanguentadas

Os anos de trabalho da irmã Agnieszka no Kivu do Norte são marcados por sucessivos conflitos que, embora enfraqueçam, nunca terminam. "Enquanto as crianças forem testemunhas de crimes e tiverem que interromper os estudos, não haverá paz neste país", declarou a missionária, que tem o futuro dos pequenos no coração. A região está desestabilizada por mais de uma centena de grupos diferentes que buscam controlar os depósitos de cobalto, coltan e nióbio, necessários para a produção de telefones celulares. Esses minerais são mais valiosos que ouro e diamantes, que os rebeldes também saqueiam. A população civil é a que mais sofre, não vendo nem mesmo as migalhas dessas riquezas que sua terra esconde. As pessoas são forçadas a abandonar suas casas e campos devido à violência. Há mais de 5,6 milhões de deslocados internos no Congo.

Irmã Agnieszka Gugała entre os refugiados congoleses (Vatican Media)

A missão de paz das Nações Unidas, cujo custo anual supera a renda nacional de todo o Congo, não consegue mudar a situação. Os missionários não interferem na política, mas tentam enfrentar a poderosa crise humanitária que destrói o Kivu do Norte. "Todos os dias as pessoas morrem de fome e de doenças comuns. Nossa presença dá encorajamento às pessoas e garante sua segurança. Eles nos chamam de ‘nossas irmãs’, o que significa que estamos muito próximas deles", contou a irmã Agnieszka.

A pobreza diária no Kivu (Vatican Media)

Frágil em sua aparência física, nas atuais condições de guerra, a religiosa é o ponto de referência para milhares de pessoas necessitadas. Ela é corajosamente apoiada por duas irmãs do Ruanda e do Congo. "Vivemos apenas pela Providência de Deus; as bombas caíam ao redor do nosso mosteiro, poucos metros de diferença e estaríamos mortas. Trouxeram-nos os feridos, as paredes estavam vermelhas de sangue", relatou ao contar sobre um dos confrontos na região.

A área da missão torna-se um refúgio em tempos de conflito (Vatican Media)

"Outros refugiados chegaram à missão e o hospital gerido pelas irmãs estava lotado, tentando atender 5.000 pacientes, muitos dos quais feridos. Atualmente, a frente de batalha se afastou da missão, mas a situação ainda é muito turbulenta".

O mosteiro como local de refúgio

As missionárias são um ponto de referência, especialmente para as mulheres com crianças que, ao primeiro sinal de perigo, se refugiam em seu mosteiro. Quando o cenário está mais calmo, a irmã Agnieszka abastece seus recursos e busca obter o máximo de ajuda possível do exterior. Sua antecipação frequentemente salvou vidas. "Em circunstâncias normais, obter assistência médica beira o milagroso; quando a situação piora, torna-se impossível", afirmou a missionária. As Irmãs dos Anjos mantêm um ponto de alimentação que, apesar do conflito, opera ininterruptamente. "Quase metade das crianças menores de cinco anos nesta região sofre de desnutrição crônica. A tuberculose e a malária permanecem um grande desafio. Esta última é a doença que mais mata por aqui" – confidenciou a irmã Agnieszka.

A desnutrição afeta metade das crianças (Vatican Media)

Quando questionada sobre os sonhos das missionárias, como muitos habitantes da região, ela repete: "paz duradoura. Esta terra é fértil e as pessoas poderiam viver aqui com segurança e dignidade", declarou a religiosa. No entanto, como se os infortúnios sofridos até agora não fossem suficientes, jihadistas ligados ao chamado Estado Islâmico, vindos da vizinha Uganda, estão começando a se fazer presentes na região. Multiplicam-se as notícias de massacres de pessoas indefesas e estupros de mulheres e crianças. A missionária lembra o apelo do Papa Francisco para tirar as mãos da África. E enfatiza que a visita do Papa ao Congo foi uma oportunidade para lançar luz sobre este canto esquecido do mundo e direcionar ajuda humanitária tão necessária. Junto com outras Irmãs dos Anjos, ela pede orações para que tenham força e saúde para continuar sua missão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF