"Acolher um dom implica uma reconsideração profunda do
preceito, que, por séculos, caracterizou a participação na sinaxe dominical e
que hoje, à luz da sensibilidade contemporânea, deve ser proposto e
compreendido não tanto como obrigação de santificar um dia, mas justamente como
ocasião para redescobrir o valor do Dies Domini, o seu significado teológico e
as suas potencialidades pastorais”. Todo o povo de Deus é destinatário desse
Dom maravilhoso que Deus ofereceu."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Por que ir à Missa aos domingos?”, era a pergunta que o
Papa Francisco nos convidava a fazer, na Audiência
Geral de 13 de dezembro de 2017, no contexto do ciclo de catequeses sobre a
Missa.
“Não é suficiente responder que é um preceito da Igreja –
afirmou. Isto ajuda a preservar o seu valor, mas sozinho não basta. Nós,
cristãos, temos necessidade de participar na Missa dominical, porque só com a
graça de Jesus, com a sua presença viva em nós e entre nós, podemos pôr em
prática o seu mandamento, e assim ser suas testemunhas credíveis.”
De fato, “a celebração dominical da Eucaristia está no
centro da vida da Igreja. Nós, cristãos, vamos à Missa aos domingos para
encontrar o Senhor Ressuscitado, ou melhor, para nos deixarmos encontrar por
Ele, ouvir a sua palavra, alimentar-nos à sua mesa e assim tornar-nos Igreja,
isto é, seu Corpo místico vivo no mundo.”
Depois de “Os santos venerados na perspectiva de Cristo,
centro da fé”, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão
“O Domingo como um dom – antes de um preceito”:
"O volume 12 da Coleção "Cadernos do
Concílio" trata do Domingo, tema presente na Constituição
Conciliar Sacrosanctum Concilium, e é de autoria do Pe.
Giuseppe Midili, diretor do Escritório Litúrgico da Diocese de Roma e professor
de liturgia pastoral no Pontifício Ateneu e Colégio Santo Anselmo, em Roma.
Atendendo ao pedido do Papa Francisco, o Dicastério para a Evangelização tomou
a iniciativa de elaborar subsídios ágeis e eficazes em preparação para o
Jubileu de 2025. Assim nasceu a Coleção "Cadernos do Concílio", que
reúne 34 volumes produzidos por teólogos, estudiosos da Sagrada Escritura e
jornalistas que procuram redescobrir as quatro grandes Constituições do
Concílio Vaticano II.
Na introdução do subsídio de número 12 – Cadernos do
Concílio - o autor diz assim: “a ligação entre o domingo e a Eucaristia – que
a Lumen Gentium não trata, remetendo a Sacrosanctum
Concilium – é reiterada no número 42 da Constituição litúrgica, na
qual, com linguagem daquela época, diz-se que o sentido da comunidade paroquial
floresce sobretudo na celebração comunitária da missa dominical. Comunidade e
comunitário - adjetivo derivado etimologicamente - exprimem a dimensão popular
da liturgia e a sua pertença ao povo de Deus, que resplandecem, exprimem-se e
florescem na Eucaristia dominical”.
Giuseppe Midili, padre diretor do Gabinete Litúrgico da
Diocese de Roma, comenta no caderno que o próprio Papa Francisco, no número 65
da carta Apostólica Desiderio
Desideravi, que diz: “No decurso do tempo feito novo pela Páscoa,
em cada oito dias a Igreja celebra no domingo o acontecimento da salvação. O
domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo (por esse
motivo a Igreja o guarda como um preceito). A celebração dominical oferece à
comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo em
domingo, a Palavra do Ressuscitado ilumina a nossa existência, querendo
realizar em nós aquilo para que foi mandada (cf. Is 55, 10-11). De domingo em
domingo, a comunhão no Corpo e no Sangue de Cristo quer fazer também da nossa
vida um sacrifício agradável ao Pai, na comunhão fraterna que se faz partilha,
acolhimento e serviço. De domingo em domingo, a força do Pão partido nos
sustenta no anúncio do Evangelho no qual se manifesta a autenticidade da nossa
celebração”.
O Papa Francisco diz com clareza que o domingo, antes de ser
um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo e, por esse motivo, a Igreja o
guarda como um preceito, justamente, porque, antes de tudo é um dom maravilhoso
para a Igreja, o batizado, o filho de Deus. Giuseppe, na página 9 da
introdução, comenta esta afirmativa do Papa Francisco da Eucaristia e do
Domingo ser um dom dizendo assim: “apresentar o domingo como dom reenvia
a celebração eucarística na qual Cristo se oferece, isso é, quando cumpre a doação de
si ao Pai e associa esse ato de amor à humanidade inteira, tornando atual a
prática de culto que constitui a característica da Igreja. Acolher um dom
implica uma reconsideração profunda do preceito, que, por séculos, caracterizou
a participação na sinaxe dominical e que hoje, à luz da sensibilidade
contemporânea, deve ser proposto e compreendido não tanto como obrigação de
santificar um dia, mas justamente como ocasião para redescobrir o valor
do Dies
Domini, o seu significado teológico e as suas potencialidades
pastorais”. Todo o povo de Deus é destinatário desse Dom maravilhoso que Deus
ofereceu.
Em relação ao domingo, onde o povo se reúne para celebrar a
ressurreição do Senhor, o autor italiano nesse caderno do Concilio também
recupera um texto do Papa João Paulo II, na Carta
Apostólica Tertio Millennio Adveniente que trata sobre a
preparação para o Jubileu do Ano 2000, datada de 10 de novembro de 1994. Dizia
assim São João Paulo II, nessa Carta Apostólica na preparativa do novo milênio:
“O significado do rito é claro: põe em evidência que Cristo é o Senhor do
tempo; é o seu princípio e o seu cumprimento; cada ano, cada dia e cada momento
ficam abraçados pela sua Encarnação e Ressurreição, reencontrando-se assim na
«plenitude do tempo». Por isso, também a Igreja vive e celebra a liturgia no
espaço do ano. O ano solar fica assim permeado pelo ano litúrgico, que, em
certo sentido, reproduz todo o mistério da Encarnação e da Redenção, começando
do primeiro domingo do Advento para terminar na solenidade de Cristo Rei,
Senhor do universo e da história. Cada domingo recorda o dia da ressurreição do
Senhor”."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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