Francisco assinou o prefácio de
"Mulheres e ministérios na Igreja sinodal", um volume publicado
recentemente, escrito pelos cardeais Hollerich e O'Malley e por três teólogas,
incluindo a bispa anglicana Wells, que participaram da reunião de fevereiro do
C9. "O drama dos abusos forçou a abrir os olhos para a chaga do
clericalismo. Não se trata apenas de ministros ordenados, mas de uma forma
distorcida de exercer o poder na Igreja, na qual todos podem cair: até mesmo
leigos e mulheres".
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As
mulheres, seu papel e o sofrimento pelo reconhecimento "do que são e do
que fazem". Em seguida, os ministérios ordenados, a sinodalidade, o drama
dos abusos que abriu os olhos para a "chaga" do clericalismo e o
exercício distorcido do poder dentro da Igreja, até mesmo pelos leigos, até
mesmo pelas próprias mulheres.
Há todas as
questões eclesialmente sensíveis no prefácio que o Papa Francisco assinou para
o livro, publicado pelas Paulinas, “Mulheres e ministérios na Igreja sinodal”,
um volume escrito por dois cardeais e três teólogas: a irmã salesiana Linda
Pocher, professora de Cristologia e Mariologia no Auxilium de Roma (que também
assinou a introdução); Jo B. Wells, bispa da Igreja da Inglaterra e
subsecretária geral da Comunhão Anglicana; Giuliva Di Berardino, consagrada da
Ordo Virginum da Diocese de Verona, liturgista, professora e responsável pelos
cursos de espiritualidade e exercícios espirituais. Os dois cardeais são
Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo e relator geral do Sínodo, e
Seán Patrick O'Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos
Menores.
Diálogo
entre os autores
Um diálogo,
neste caso virtual, ou melhor, "literário", que é, no entanto, o
fruto do diálogo real entre os próprios autores e com o Papa e o Conselho de
cardeais durante a conhecida reunião do C9 em 5 de fevereiro. Aquela à qual -
pela primeira vez desde a instituição do órgão - as três teólogas também foram
convidadas pelo Pontífice a participar, a fim de oferecer contribuições e
"provocações", como Francisco as define, sobre o tema do "papel
feminino na Igreja".
A questão é
agora aprofundada nessa nova publicação, datada de 9 de julho, que segue o
livro anterior da irmã Linda Pocher e outros autores intitulado
"Desmasculinizar a Igreja", tomado emprestado da expressão que
Francisco proferiu pela primeira vez em sua audiência à Comissão Teológica
Internacional.
Ministérios
eclesiais, um tema importante e delicado
No
prefácio, publicado na íntegra esta quinta-feira (11/07), pelo L'Osservatore
Romano, o Papa desenvolve sua reflexão a partir de uma das principais
máximas de seu pontificado: "A realidade é mais importante do que a
ideia". É o mesmo princípio - e Francisco diz estar satisfeito com isso -
que orienta "o programa proposto pela irmã Pocher para a formação do
Conselho de cardeais sobre o tema das mulheres na Igreja, também com relação a
um tema tão importante quanto delicado como o dos ministérios na comunidade
eclesial".
O drama dos
abusos
O tema por
trás do qual se encontra "um certo sofrimento das comunidades eclesiais em
relação ao modo como o ministério é entendido e vivido não é uma realidade
nova", enfatiza o Papa, apontando como "o drama dos abusos nos forçou
a abrir os olhos para a chaga do clericalismo, que não diz respeito apenas aos
ministros ordenados, mas a um modo distorcido de exercer o poder dentro da
Igreja, no qual todos podem cair: até mesmo os leigos, até mesmo as
mulheres".
"Ouvir
os sofrimentos e as alegrias das mulheres é certamente uma maneira de nos
abrirmos para a realidade", diz Francisco. "Ouvindo-as sem
julgamentos e sem preconceitos, percebemos que em muitos lugares e em muitas
situações elas sofrem justamente pela falta de reconhecimento do que são e do
que fazem e também do que poderiam fazer e ser se tivessem o espaço e a
oportunidade. As mulheres que mais sofrem são geralmente as mais próximas, as
mais disponíveis, preparadas e prontas para servir a Deus e ao seu Reino.
Não
sacrificar a realidade no altar das ideias
Portanto, o
Papa Francisco nos convida a olhar a realidade mais do que a ideia, para evitar
cair na "armadilha" na qual a própria Igreja tropeçou com frequência
durante a era moderna. A saber, a de "considerar a fidelidade às ideias
mais importante do que a atenção à realidade". "A realidade, no
entanto, é sempre maior do que a ideia, e quando nossa teologia cai na
armadilha das ideias claras e distintas, ela inevitavelmente se transforma em
um leito de Procrustes, que sacrifica a realidade, ou parte dela, no altar da
ideia", ressalta o Pontífice. O mérito do volume "Mulheres e
ministérios na Igreja sinodal" é, portanto, "não partir da
ideia, mas da escuta da realidade, da interpretação sapiencial da experiência
das mulheres na Igreja".
O tema das mulheres no Instrumentum Laboris
A questão
do papel feminino na Igreja ressurgiu dias atrás com a
publicação do Instrumentum laboris da segunda sessão da XVI
Assembleia Geral do Sínodo, em outubro. De fato, nos fundamentos do
texto-base para o trabalho dos padres e madres sinodais destaca-se "a
necessidade de dar um reconhecimento mais pleno" a seus carismas e
vocações. As mulheres, diz o texto, "em virtude do Batismo, estão em uma
condição de plena igualdade, recebem a mesma efusão de dons do Espírito e são
chamadas ao serviço da missão de Cristo". A primeira mudança a ser feita,
portanto, "é a de mentalidade", com "uma conversão a uma visão
de relacionalidade, interdependência e reciprocidade entre mulheres e homens,
que são irmãs e irmãos em Cristo, em vista da missão comum".
Quanto ao
tema do diaconato feminino, o cardeal secretário-geral do Sínodo, Mario Grech,
na coletiva de imprensa de apresentação do Instrumentum, lembrou
que ele não será abordado na próxima Assembleia, pois é objeto de um dos grupos
de estudo criados pelo Papa para aprofundar a reflexão teológica e pastoral
sobre questões específicas. O tema do diaconato das mulheres Francisco o
confiou ao Dicastério para a Doutrina da Fé, no contexto mais amplo das formas
ministeriais, em colaboração com a Secretaria Geral do Sínodo. O trabalho,
anunciou o documento sobre os grupos de estudo publicado em março, terá como
objetivo responder ao desejo da Assembleia sinodal de "um maior
reconhecimento e valorização da contribuição das mulheres e um aumento das
responsabilidades pastorais confiadas a elas em todas as áreas da vida e da
missão da Igreja".
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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