O que acontece com o cérebro quando rezamos
28 junho 2024
Atribui-se ao famoso escritor britânico C.S. Lewis,
criador do universo literário de Nárnia, uma frase que descreve muito bem o
que rezar significa para muitas pessoas.
"Rezo porque não posso evitar, rezo porque
estou desconsolado, rezo porque a necessidade de fazer isso flui de mim o tempo
todo, acordado ou dormindo. (Rezar) Não muda Deus. Me muda", disse o autor
certa vez.
Hilary, ouvinte do programa de ciência da BBC Crowdscience, sente algo semelhante quando reza sentada no tronco de uma árvore ou
fazendo uma caminhada: "Quando rezo, sinto uma conexão com Deus. Mas a
oração tem muitas variações. Pode acontecer na calma de um momento e pode ser
sem palavras, e há vezes em que pode ser uma oração em grupo na igreja."
Mas ultimamente, quando se senta para rezar, uma
pergunta vem à cabeça: "Como rezar afeta o cérebro e o bem-estar
mental?"
A equipe do BBC Crowdscience consultou
especialistas para tentar entender o que acontece no cérebro das pessoas que
rezam e saber se esse mecanismo está necessariamente relacionado a crenças
religiosas, ou se talvez possa estar presente naqueles que meditam ou levam uma
vida criativa.
O cérebro
O neurocientista Andrew Newberg, diretor de
pesquisa do Instituto Marcus de Medicina Integrativa da Universidade Thomas
Jefferson, nos Estados Unidos, dedica-se a estudar os efeitos da oração e de
outras práticas religiosas no bem-estar mental de seus pacientes.
Por meio de ressonâncias magnéticas, sua equipe
conseguiu ver as áreas do cérebro que são ativadas no momento em que uma pessoa
está rezando.
"Uma maneira comum de rezar é quando uma
pessoa repete uma oração específica várias vezes como parte de sua prática. E
quando você faz uma ação como essa, uma das áreas do cérebro que é ativada é o
lobo frontal", explicou o especialista à BBC.
Isso não surpreende, já que o lobo frontal tende a
se ativar quando nos concentramos profundamente em uma atividade. O que
surpreende Newberg é o que acontece quando as pessoas entram no que sentem como
"oração profunda".
"Quando a pessoa sente que a oração está quase
tomando conta dela, por assim dizer, a atividade do lobo frontal realmente
diminui. Isso ocorre quando o indivíduo relata sentir que não são eles que
estão gerando a experiência, mas que é uma experiência externa que está se
passando com ele", disse o pesquisador.
A oração profunda, descobriu Newberg, também gera
uma redução na atividade no lobo parietal, na parte mais traseira do cérebro.
Essa área recebe informações sensoriais do corpo e cria uma representação
visual dele.
Newberg diz que uma redução na atividade do lobo
parietal poderia explicar os sentimentos de transcendência reportados por quem
reza profundamente: "À medida que a atividade nessa área diminui, perdemos
o senso do eu individual e temos esse senso de unidade, de conexão".
Uma questão de fé?
Para Hillary, a explicação de Newberg faz sentido,
e a relaciona com o que sente quando reza: "Suponho que o sentimento de
perder o senso de eu individual tenha a ver com essa conexão que sinto com Deus
quando estou em oração contemplativa".
Mas rezar é uma experiência imensamente pessoal: se
para Hillary ela pode acontecer sentada em um tronco de árvore ou em uma
caminhada na natureza, para outros, pode ser em um diálogo em voz alta com
Deus, no silêncio absoluto ou mesmo no canto.
Práticas semelhantes à oração, mas sem qualquer
fundamento religioso, poderiam produzir os mesmos efeitos sentidos por aqueles
com crenças profundas?
Para Tessa Watt, especialista em práticas de
meditação e mindfulness que já trabalhou com centenas de clientes, esse estado
pode ser alcançado concentrando a atenção no presente e nas sensações que
experimentamos.
"Acredito que tanto o ato de rezar quanto o
mindfulness ajudam a tranquilizar uma pessoa, para que ela tenha mais tempo
para si mesma e também ative o sistema nervoso parassimpático", explica
Watt.
O sistema nervoso é composto por dois sistemas
autonômicos distintos que controlam a maioria das respostas automáticas do
corpo.
Por um lado, o sistema simpático regula as chamadas
respostas de "luta ou fuga", aquelas que exigem que o corpo reaja
rapidamente a uma ameaça. Por outro lado, as tarefas relacionadas ao
"descanso e digestão" ficam a cargo do sistema parassimpático.
"Isso significa que, ao praticar mindfulness,
você aprende a acalmar sua resposta de luta ou fuga, tornando-se mais eficiente
no controle de suas emoções", diz Watt.
Esta é uma adaptação do
programa Crowdscience da BBC, apresentado por Caroline Steel e produzido por Jo
Glanville. O episódio original pode ser ouvido aqui.
Fonte: https://www.bbc.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário