O projeto de
Jesus não ensina primeiro acumular para depois dividir, mas partilhar o que
cada um possui, para que todos fiquem saciados.
Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News
Para quem diz que a religião deve se preocupar apenas com o
espírito, deverá surpreender o tema deste domingo onde na primeira leitura e no
Evangelho o pão é multiplicado para que todos se alimentem bem. Aliás, na
Sagrada Escritura, o verbo comer aparece quase mil vezes, enquanto que rezar só
umas cem.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu não aceita comer, em
uma situação de penúria, de fome mesmo, os 20 pães que um devoto de outro lugar
lhe traz. Ele diz a esse bom homem que o distribua aos seus cem seguidores. O
benfeitor diz ser impossível, que o pão é pouco e os ouvintes são cinco vezes
mais. Eliseu ordena, confiando na Palavra de Deus dita a ele. “O homem
distribuiu e ainda sobrou” nos diz a Sagrada Escritura.
Naquela época isso aconteceu, bem como outros sinais
semelhantes, para que o povo confiasse só em Deus e não nos ídolos. Deus se
preocupa com nossas necessidades materiais, mas quer a nossa colaboração. Por
isso a multiplicação do que foi trazido, do esforço físico de quem trabalhou,
da solicitude de quem o trouxe e da generosidade e fé do profeta, que não
reteve o dom para si, mas ensinou o homem a partilhar o que Deus criou para
todos.
A atitude de Eliseu faz Deus ser verdadeiro e não mentiroso,
já que o Senhor havia dito “Comerão e ainda sobrará”.
Em nossa realidade social somos os primeiros a fazer Deus
passar por mentiroso, quando vivemos no Brasil, país que faz parte do grupo
G20, e apesar disso temos mais de 10 milhões de pessoas vivendo abaixo da
“pobreza absoluta”. País tão rico e população tão pobre! Deus não é mentiroso,
nós é que somos egoístas e não queremos abrir mão de nossos pães que sobram
para saciar a fome dos irmãos.
E não é só o pão. É a saúde, as vestes, o afeto, a educação,
tudo aquilo que depende de nós, porque nós os temos, pouco até, mas os temos.
Se confiarmos em Deus, Ele cumprirá sua Palavra e do pouco sobrará
bastante. Conta-se que São Vicente de Paulo ao chegar à cidade em que foi
destinado como pároco, assistiu a morte de uma senhora e ficou penalizado por
ter deixado sua filhinha de pouca idade. Após o sepultamento perguntou à
população bastante pobre, quem tinha mais filhos e apareceu uma mãe com seus
quatro filhos. Aí São Vicente entregou a ela a pequena órfã e ele acrescentou,
mais ou menos assim: quem tem menos posses e mais filhos, sabe dividir e aceita
o novo membro como bênção.
No Evangelho, ao mandar as pessoas se sentarem, Jesus quer
dizer que todos são cidadãos livres, já que os escravos não se sentavam para
comer. Mais ainda, no projeto de Jesus não ensina primeiro acumular para depois
dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem saciados.
Esta é a autêntica Eucaristia, o dom de Deus, associado ao
esforço das pessoas, em vista da partilha, da fraternidade e da igualdade.
E a Carta de Paulo aos Efésios nos diz que há “um só Deus e
Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em
todos”.
Que nosso testemunho de crer no Deus único e verdadeiro nos
leve a colocar as mãos em nosso bolso e partilhar tudo aquilo que recebemos ou
produzimos porque dele tudo recebemos para partilhar, para sermos irmãos.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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