Iñigo Lopez de Loyola nasceu no Castelo de Loyola, cidade
de Azpeitia, província basca de Guipúzcoa, Espanha, no ano de 1491. A
família era rica, nobre e cristã, e ele foi o último de 13 filhos. Em 1506, sua
família servia ao tesoureiro do reino de Castela, de quem Iñigo era parente.
Assim, com oito anos, Iñigo passou a frequentar a
corte como pajem e cresceu numa atmosfera mundana, que adotou. Mas estudou,
adquirindo grande cultura, bem como tornou-se excelente cavaleiro. De
modo não incomum para a situação e local, Iñigo desenvolveu um temperamento
forte, orgulhoso, violento, dado a conflitos.
Em 1517, com 26 anos, tornou-se militar, servindo a outro
importante parente, o duque de Najera e vice-rei de Navarra. Participou
de inúmeras batalhas, militares e diplomáticas. Em 1521, defendendo a cidade de
Pamplona dos franceses, recusou-se a aceitar os termos da trégua, considerados
vergonhosos, oferecida pelos adversários, alegando ser melhor morrer com
honra. Forçou assim a sua tropa à resistência, e foi ferido gravemente na perna
por uma bala de canhão.
Os vencedores o enviaram para o castelo de Loyola, onde
permaneceu convalescendo por longo tempo. Após um primeiro e penoso
tratamento, a perna ficou deformada. Ordenou então que os médicos a quebrassem
e recuperassem perfeitamente. O resultado da cirurgia não lhe agradou,
e ordenou que fizessem outra. Não queria se apresentar manco diante
das donzelas da corte...
Embora mal orientadas para falsos valores mundanos, sua
firmeza de caráter, força de vontade e aspirações grandiosas lhe seriam
necessárias para os planos de Deus, que começaram a despertar nele
durante o obrigatoriamente prolongado período de recuperação. Através
da leitura, que lhe ocupava o tempo de convalescência, sua alma foi tocada mais
a fundo que o corpo pelo obus. Inicialmente desejava romances de guerra com
narrações fantasiosas, mas os únicos dois livros no castelo,
disponibilizados por sua irmã, eram “A Vida de Cristo” e “O Ano Cristão”, esta
a biografia dos santos de cada dia.
Começou a perceber então a verdadeira grandeza, à qual
aspirava sem saber, reconhecendo nas batalhas espirituais de santos como São
Francisco de Assis e São Domingos os grandes feitos a serem desejados.
Considerou que estes gigantes da Fé também eram “feito de
barro” como ele mesmo, e começou a se perguntar por que não conseguiria
imitá-los, chegar também ao elevado grau de grandeza verdadeiramente humana (e
portanto relativa ao espírito e não ao mundo) que eles alcançaram. “Pedi,
e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta vos será aberta.
Pois todo aquele que pede, recebe; quem busca, acha; e a quem bate, a porta
será aberta” (Mt 7,7-8). Passou a ansiar pela realização de
grandes feitos, não mais proezas de cavalaria profana, “mas para a máxima
glória de Deus”, o que veio a ser o seu lema.
As ideias amadurecendo, no silêncio de uma noite prostrou-se
diante da Virgem Maria e ofereceu-se a Jesus como Seu fiel soldado. No
mesmo instante, o castelo, com grande estrondo, foi violentamente abalado, até
os fundamentos, e no quarto de Iñigo, o local mais atingido, abriu-se uma larga
rachadura, existente até hoje. A fúria do demônio manifestava-se
diante desta sua primeira simples mas convicta consagração. Então, com
propósito definitivo, Iñigo prometeu fazer, com a graça de Deus, o que os
santos haviam feito.
Tão logo curado, peregrinou ao Santuário de Nossa Senhora de
Montserrat, em Barcelona, Catalunha. Fez uma confissão geral, trocou
suas ricas vestes pelas de um mendigo, e deixou no altar a sua espada.
Abandonou ali o mundo, a corte e as aparências.
Seguiu para o povoado de Manresa, a 15 quilômetros de
distância, para orar e fazer penitência, durante um ano, de 1522 a 1523. Vivia
numa gruta, solitário, mendigando para sobreviver e passando sérias
necessidades. Recebeu o dom do discernimento dos espíritos, pelo qual
se sabe o que se passa no íntimo de cada pessoa e quais os conselhos
necessários para que ela distinga o Bem do Mal. Desenvolveu e praticou
também a base dos seus famosos “Exercícios Espirituais”, livro que
posteriormente seria um tesouro de bênçãos para a Humanidade.
Partiu em seguida para a Terra Santa, pregando energicamente
a conversão dos muçulmanos, durante outro ano. Voltou à Espanha e
estudou Latim, Física, Lógica e Teologia, em Barcelona, Salamanca, Alcalá,
Veneza, Paris. Nesta cidade reuniu um grupo de sete amigos, com Pedro
Fabro, Diogo Laynes, Afonso Salmerón, Simão Rodrigues, Nicolau Bobadilha e
Francisco Xavier, este último futuro e famoso santo evangelizador no Oriente,
dispostos a realizar os Exercícios Espirituais, depois do que estavam decididos
a tudo sacrificar pela máxima glória de Deus.
Em 15 de agosto de 1534, festa da Assunção de Maria, na
igreja de Montmartre, em ato solene pronunciaram os votos religiosos de
pureza, pobreza e obediência, comprometendo-se a estar sempre à disposição do
Papa para o que ele entendesse como o melhor para a glória de Deus. Estava
fundado assim o primeiro esboço da Companhia de Jesus, que Iñigo pensou
inicialmente em chamar de Companhia de Maria, pois depois da sua conversão
Nossa Senhora lhe aparecera por 30 vezes.
Dividiram-se para as primeiras atividades apostólicas. Buscaram
cidades onde as universidades atraíam os jovens: Bolonha, Ferrara, Siena,
Pádua, Roma. Trabalharam em universidades e colégios. Suas
conferências espirituais eram para toda classe de pessoas, e em Roma Iñigo
aplicava os Exercícios Espirituais e catequizava o povo.
Em janeiro de 1537, Pedro Ortiz, ex-professor em Paris e
embaixador do Imperador Carlos V junto ao Papa Paulo III, obteve junto a este
uma audiência para Iñigo e companheiros. O Papa admirou-se com a
ciência e humildade do grupo, deu-lhes a bênção e autorizou os que ainda não
eram sacerdotes a serem ordenados, ocasião na qual Iñigo assumiu o nome de
Inácio. E distribuiu funções entre eles, como cadeiras de Escolástica
e Escritura Sagrada no Colégio Sapiência. Inácio ficou encarregado de pregar em
Roma.
Em 27 de setembro de 1540 Paulo III aprovou
definitivamente, por uma bula, a Ordem da Companhia de Jesus, também conhecida
como Jesuítas. Comentou, a respeito das suas Constituições: “O dedo de
Deus está aí”.
Inácio foi eleito superior-geral, dirigindo a casa de Roma e
sempre mantendo contato com todas as casas e colégios da Ordem
espalhados pelo mundo, supervisionando a todos com detalhe. Ao
mesmo tempo lidava com o Papa e os cardeais sobre as atividades da Igreja,
correspondia-se com soberanos da Europa, organizava novas fundações, sem por
isso interromper suas obras de misericórdia na cidade. Uma atividade que se
pode dizer milagrosa.
De apenas seis jesuítas em 1541, chegou-se ao número de 10
mil em 1556, espalhados por toda a Europa, Índia e Brasil. A
contribuição dos jesuítas para a Igreja é incalculável. Foram o exército do
Papa na restauração contra o protestantismo na Europa; levaram o
Catolicismo aos extremos do Oriente e do Ocidente. Santo Inácio pessoalmente
enviou os seis primeiros missionários jesuítas para o Brasil em 1549, com o
Padre Manoel da Nóbrega, que foi o primeiro superior da província jesuíta do
Brasil.
Em 1553 um novo grupo chega trazendo o jovem e
futuro São José de Anchieta. O sólido início do catolicismo no país, a maior
nação católica do mundo, está diretamente ligado à Companhia de Jesus. Muitos
são os jesuítas canonizados.
Depois de assumir como superior geral da
Ordem, a saúde de Inácio piorou gradativamente, e ele faleceu em 31 de julho de
1556 em Roma, aos 65 anos de idade. A bula da sua canonização
numera 200 milagres por sua intercessão. É o padroeiro dos retiros
espirituais.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Aventurosa, e venturosa, foi a vida de Santo Inácio. Embora
com aspectos bem imperfeitos, mesmo antes da conversão ele buscava valores
altos, que contudo, associados às grandezas do mundo, não o satisfaziam. Era
corajoso, honrado, honesto, leal, mas sua dedicação era voltada para as
criaturas, não para o Criador, o que tornava suas virtudes, indiscutíveis,
meramente superficiais. Os objetivos, para serem verdadeiramente nobres, devem
ser orientados pelo motivo certo, e para a única razão verdadeira, a plena
comunhão com Deus. O seu combate por feitos discutivelmente grandiosos o levou
a ser seriamente ferido no corpo, o que Deus conduziu para que lhe fosse curado
o machucado da alma. E esta cura foi tão completa que o diabo quis atingi-lo,
mas, assim como o canhão, só abalou e deixou marcas no corpo do castelo, não na
morada do espírito, que com isso lhe ficou ainda mais resoluto. Não há
rachadura numa alma que se entrega, totalmente, a Deus. Santo Inácio
converteu-se lendo livros espirituais, um sobre Cristo, o outro sobre os
santos, que na sua vivência militar bem caracterizam o general e seu exército –
talvez não mera coincidência em relação à estrutura da Ordem que viria a
fundar. A importância da leitura espiritual é indescritível. Talvez ainda mais
nos tempos de séria crise de mundanismo atual. E Inácio deu a sua inspirada
contribuição para esta biblioteca. Sem dúvida, “Exercícios Espirituais” é obra
inspirada por Deus, uma das que mais levou a conversões na História da Igreja:
São Francisco de Sales, um século depois do autor, afirmou com exatidão: “Os
‘Exercícios Espirituais’ converteram tantas pessoas quantas são as letras
escritas neles”. A partir de um questionamento básico para o ser humano, “o que
desejo?”, o livro esclarece qual é a finalidade da nossa vida, o motivo pelo
qual existimos, e portanto pelo que devemos lutar. O Homem foi criado para amar
e servir a Deus; logo, se o que fazemos não é por e para Deus, ainda que em si
mesmas possam ser boas, honradas e virtuosas, não têm sentido. Uma vida sem
sentido é contraditória, repugna à Razão, ao bom senso e à vivência factual,
pois todos os sentimentos, esforços e amores evidenciam um “por quê”, e
portanto tal vida leva ao desespero – a depressão é hoje a pandemia do mundo
ateizado. “Os Exercícios” levam à descoberta do óbvio, de que estamos nesta
terra para amar e servir a Deus e assim alcançarmos a glória – à máxima
grandeza, que Inácio aspirava, e todos nós – do Céu. Por isso o seu lema, “Tudo
para a maior glória de Deus”. E o meio para este fim é entender que tudo o que
foi criado materialmente, mas não só, é bom apenas na medida em que nos levam a
Deus. Assim fica claramente resolvido o conflito de Inácio, e também nosso, da
insatisfação e sensação de desperdício no empenho desordenado pelas coisas
mundanas. Os “Exercícios Espirituais” são assim o nosso “dever de casa” nesta
vida. Todas as circunstâncias servem, como meio para fazer somente a vontade de
Deus, buscar só o que nos conduz à Salvação. E só na companhia de Maria
chegamos, todos nós, e Inácio, à companhia de Jesus. Não foi só na redação dos
“Exercícios” que se destacou Santo Inácio, mas em todas as suas atividades como
fundador, pregador, administrador, etc., atividades apostólicas baseadas na
santidade de vida – dando o exemplo prático da proposta dos “Exercícios”, de
trabalhar com as criaturas na medida certa para o encontro com Deus. Sua
têmpera também nos é exemplo de que não é possível seguir a Deus de modo tíbio.
Temos um objetivo, o mais elevado possível, e um tempo limitado para alcançá-lo
– não há sentido (desespero…) em não sermos resolutos. Neste sentido, cabem
duas de suas sentenças: “Orai como se tudo dependesse de Deus, e trabalhai como
se tudo dependesse de vós”; “Ninguém sabe o que Deus faria de nós, se não
opuséssemos tantos obstáculos à sua graça”.
Oração:
Ó Senhor, que desejais que nos exercitemos sempre mais no
caminho da santidade, auxiliando-nos para isso com a companhia de Maria Vossa
Mãe e nossa, concedei-nos por intercessão de Santo Inácio de Loyola a graça de
largarmos aos pés do altar da Vossa Cruz a espada do pecado que Vos produz
chagas, e receber cada vez mais profundamente na alma os projéteis de amor com
que quereis nos alvejar, e alvejar, de modo que com esta santa troca tudo
façamos para a Vossa maior glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa
Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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