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terça-feira, 23 de julho de 2024

Uma personalidade que se identifique com Cristo (1)

Crédito: Opus Dei

Começamos uma série de editoriais sobre a formação do caráter e a maturidade cristã. Como influi a personalidade na vida diária? As pessoas podem mudar? Qual é o papel da graça?

13/03/2020

Por que reajo deste modo? Por que sou assim? Sou capaz de mudar? São algumas das perguntas que alguma vez podem assaltar-nos. Às vezes, as consideramos em relação aos outros: por que tem esse modo de ser?... Vamos refletir sobre estas questões, olhando para o nosso objetivo: ser cada vez mais parecidos com Jesus Cristo, deixando-o operar em nossas vidas.

Este processo abarca todas as dimensões da pessoa, que ao divinizar-se conserva os traços do autenticamente humano, elevando estas características de acordo com a vocação cristã. Porque Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: perfectus Deus, perfectus homo. NEle contemplamos a figura realizada do ser humano, pois «Cristo Redentor (...) revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é — se assim é lícito exprimir-se — a dimensão humana do mistério da Redenção. Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade[1] ».

A nova vida que recebemos no Batismo está chamada a crescer até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo[2].

O divino, o sobrenatural, é o elemento decisivo na santidade pessoal, que une e harmoniza todas as facetas do homem, mas não podemos esquecer que isto inclui, como algo intrínseco e necessário, o elemento humano: Se aceitamos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, devemos ter em conta que Ele nos quer muito humanos. Que a cabeça toque o céu, mas os pés assentem com toda a firmeza na terra. O preço de vivermos cristãmente não é nem deixarmos de ser homens nem abdicarmos do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de cada cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer - insisto - muito humanos e muito divinos, diariamente empenhados em imitá-lo, pois Ele é perfectus Deus, perfectus homo, perfeito Deus, perfeito homem[3].

A tarefa de formar o caráter

A ação da graça nas almas está unida ao crescimento da maturidade humana, o aperfeiçoamento do caráter. Por isso, ao mesmo tempo em que cultiva as virtudes sobrenaturais, um cristão que busca a santidade procurará alcançar os hábitos, modos de fazer e de pensar que caracterizam uma pessoa madura e equilibrada. O fim das suas ações será refletir a vida de Cristo, e não um simples empenho de perfeição. Por isso, São Josemaria anima a fazer exame de consciência: —Filho, onde está o Cristo que as almas buscam em ti? Na tua soberba? Nos teus desejos de impor-te aos outros? Nessas mesquinhezes de caráter que não queres vencer? Nessa caturrice?... Está aí Cristo? - Não!! A resposta nos dá una chave para empreender esta tarefa: —De acordo: deves ter personalidade, mas a tua personalidade tem de procurar identificar-se com Cristo![4]

Na própria personalidade influi tanto o que se herda e se manifesta desde o nascimento, que costuma chamar-se temperamento, como os aspectos que se vão adquirindo pela educação, as decisões pessoais, o trato com os outros e com Deus, e muitos outros fatores, que inclusive podem ser inconscientes.

Deste modo, existem diferentes tipos de personalidades ou caráter extrovertidos ou tímidos, vivazes ou reservados, despreocupados ou apreensivos, etc. , que se expressam no modo de trabalhar, de relacionar-se com os outros, de considerar os acontecimentos diários.

Estes elementos influem na vida moral, pois facilitam o desenvolvimento de certas virtudes, mas também podem facilitar o aparecimento de defeitos, se faltar o empenho por moldar o temperamento. Por exemplo, uma personalidade empreendedora pode ajudar a cultivar a laboriosidade, desde que ao mesmo tempo se viva uma disciplina que evitará o defeito da inconstância e do ativismo.

Deus conta com nossa personalidade para levar-nos por caminhos de santidade. O modo de ser de cada um é como uma terra fértil que precisa ser cultivada: basta tirar com paciência e alegria as pedras e as ervas daninhas que impedem a ação da graça, e começará a dar frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um[5].

Cada um pode fazer render os talentos que recebeu das mãos de Deus, se se deixa transformar pela ação do Espírito Santo, forjando uma personalidade que possa refletir o rosto de Cristo, sem que isto tire nada de suas próprias características, pois diferentes são os santos do Céu, que têm cada um as suas notas pessoais e especialíssimas[6].

Temos de reforçar e aperfeiçoar a personalidade para ajustar-se a um estilo cristão, mas não se pode pensar que o ideal seria converter-se em uma espécie de "super-homem" Na verdade, o modelo é sempre Jesus Cristo, que possui uma natureza humana igual à nossa, porém perfeita em sua normalidade e elevada pela graça.

Naturalmente, encontramos um exemplo sublime também na Virgem Maria: Nela se dá a plenitude do humano… e da normalidade. A proverbial humildade e simplicidade de Maria, talvez suas virtudes mais valorizadas em toda a tradição cristã, unidas à proximidade, afeto e ternura com todos os seus filhos que são virtudes de uma boa mãe de família , são a melhor confirmação deste fato: a perfeição de uma criatura  Mais que tu, só Deus![7] , tão plenamente humana, tão encantadoramente mulher: a Senhora por excelência!

J. Sesé


[1] São João Paulo II, Enc. Redemptor Hominis, n. 10.

[2] Ef, 4, 13

[3] Amigos de Deus, n. 75

[4] Forja, 468

[5] Mt 13, 8

[6] Caminho, 947

[7] Caminho, n. 496

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF