A apresentação do menino Jesus no Templo em Santo
Ambrósio de Milão.
02 de agosto de 2024 .
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV fez comentários
importantes em
relação ao evangelho de São Lucas, onde ele teve presente a apresentação do
menino Jesus no Templo de Jerusalém. Maria e José, os pais adotivos de Jesus
levaram-no ao templo para ser ofertado ao Senhor (cfr. Lc 2,21). Jesus foi a
oferta verdadeira, sublime que dá sentido a todas as ofertas realizadas pelo
ser humano. Pela sua vida, morte de cruz e ressurreição, Ele nos ensinou a
oferecer tudo o que somos para nos tornar também oferendas agradáveis a Deus e
à humanidade.
Simeão, o justo, piedoso, o ancião.
Em Jerusalém havia um homem justo, piedoso, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo lhe havia revelado que não morreria sem ver o Ungido do Senhor (cf. Lc 2, 25-26). Para Santo Ambrósio a geração do Senhor recebeu um testemunho muito importante não apenas dos anjos, dos profetas, dos pastores e dos pais, mas também da parte dos anciãos e dos justos que esperaram a vinda do Salvador (1) .
Toda a idade falou do Senhor.
Para Santo Ambrósio toda a idade anterior falou da vinda do Messias. Os
prodígios que sucederam, foram fundamentais para sustentar a fé; a Virgem
gerou, uma estéril deu à luz, um mudo falou: Isabel profetizou, os magos
adoraram, o útero fechado exultou, a viúva confessou, o justo esperou. Foram
muitas as coisas em vista da vinda do Salvador. O justo, o Simeão que não
procurava a graça para si, mas para o povo de Israel à humanidade, na medida em
que ele próprio almejava a libertação dos vínculos
da fragilidade corpórea, esperava com alegria e com amor, ver o Prometido, o
Messias.
Ele se tornou bem-aventurado porque viu o Salvador( 2) .
Ele o tomou em seus braços (cfr. Lc 2,28).
São Lucas disse que Simeão tomou o menino Jesus em seus braços e disse:
“Agora, deixa ir o teu servo em paz”(cf. Lc 2,29), possui um significado
importante porque na verdade a expressão “ver tudo”, era de fato o Salvador
esperado, o Messias anunciado, mesmo porque ele o tomou em seus braços, sendo
não somente esta grande graça neste mundo, a alegria plena em sua vida de ser
humano, mas também viu o desejo de desprendimento das coisas da realidade para
começar a estar para sempre com Cristo, aludindo, pelo bem realizado, a
recompensa da vida eterna (3) .
A despedida.
O desejo do ancião Simeão, segundo Santo Ambrósio, também
era um pedido ao Senhor da história para a despedida. Movido pelo Espírito, ele
veio à Jerusalém, veio ao templo, esperar o Cristo do Senhor, receber nas mãos
o Verbo de Deus, e o abraçou como uma pessoa que manifestou fé e amor a Cristo
e a seu povo. Será então Simeão
despedido para quem viu a vida, não veja a morte (4) .
A profecia dada aos justos.
O bispo de Milão falou de uma profecia dada aos justos através do ancião
Simeão que esperava a vinda do Salvador ao mundo. Uma generosa graça
espalhou-se sobre todas as pessoas, realizada pela geração do Senhor, que se a
profecia foi negada aos incrédulos, no entanto ela não a foi negada para as
pessoas justas( 5) . Simeão era considerado uma pessoa justa, profundamente
ligada ao Senhor da história. O fato colocou também o ancião Simeão como
profeta de modo que ele profetizou ter visto o Senhor e ter vindo o Salvador
Jesus para a ruína e o soerguimento de muitas pessoas em
Israel (cfr. Lc 2,34), para discernir os merecimentos de justos, de iníquos e
assim perceber o Messias como enviado do Pai, como Juiz verdadeiro, justo a dar
a devida recompensa para os fiéis nos suplícios ou prêmios conforme a qualidade
das ações realizadas sobretudo para a vida dos irmãos e das irmãs (6) .
A espada traspassada em Maria.
Ao dirigir-se para a mãe do Filho de Deus, Simeão profetizou que uma espada
traspassará a sua alma (cfr. Lc 2,35). Na verdade, Maria teve uma morte
natural, de modo que foi na alma que esta espada transpassaria a sua vida. Para
Santo Ambrósio a afirmação de Simeão para Maria mostrou que a palavra dirigida
a ela, não era em absoluto ignorante do mistério celeste, porque como diz a
Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que toda espada bem afiada,
atingindo também até as divisões da alma e do espírito, das juntas e das
medulas, perscrutando os pensamentos do coração e os segredos das mentes (cfr.
Hb 4,12). Maria sofreria o mistério da dor e da
paixão, morte de seu Filho, Jesus.
O profetismo se realizou em Simeão e depois em Ana.
O ancião Simeão profetizou sobre o menino Jesus em vista da salvação que ele como
Salvador trouxe à humanidade pecadora: Ele também profetizou sobre Maria e também
Ana, que tinha oitenta e quatro anos, viúva, indicando a sua idade um número importante,
sagrado, mas ela era tão respaldada pelos anos de viuvez e pelos costumes que
considerou digna de anunciar que viera o Redentor de toda a humanidade (cfr. Lc
2,36-38) (7) .
A apresentação do menino Jesus revelou a divindade e a
humanidade de Jesus porque ele foi acolhido pelo ancião Simeão, a sua profecia,
a sua alegria imensa de ver o Messias e também por Ana, que louvou ao Senhor ao
perceber a vinda de Jesus no Templo. Nós somos chamados a oferecer a nossa vida
ao Senhor para que tudo se torne vida e salvação como o foi a vida de Jesus
para nós e para a humanidade.
______________
Notas:
1 Cfr. Santo Ambrósio. Comentário ao Evangelho de São Lucas.
Tradução: Luciano Rouanet Bastos. São
Paulo: Paulus, 2022, pg. 119.
2 Cfr. Idem, pg. 119.
3 Cfr. Ibidem, pg. 119.
4 Cfr. Ibidem, págs. 119-120.
5 Cfr. Ibidem, pg. 120.
6 Cfr. Ibidem, pg. 120.
7 Cfr. Ibidem, págs. 120-121.
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