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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Algo grande e que seja amor (11): Frutos da fidelidade (2)

O Farol (Crédito: Opus Dei)

Algo grande e que seja amor (11): Frutos da fidelidade

A certeza de saber-nos sempre com Deus é uma fonte viva de esperança, da qual brotam mananciais de alegria e paz, que fecundam as nossas vidas e as vidas das pessoas que convivem conosco.

20/08/2019

Uma eficácia que não podemos imaginar

Hoje tornou-se indispensável cultivar e divulgar a própria imagem e o perfil pessoal perante os outros, para estar presentes e ter impacto nas várias áreas das redes sociais e profissionais. No entanto, se perdermos de vista o fato de que vivemos em Deus, que Ele “está junto de nós continuamente”[11], esse interesse pode levar a uma obsessão mais ou menos sutil de nos sentirmos aceitos, reconhecidos, seguidos e até mesmo admirados. Há então uma necessidade constante de verificar o valor e a transcendência de tudo o que fazemos ou dizemos.

Esse desejo de ser reconhecidos e comprovar o nosso valor, no fundo responde, mesmo que de um modo tosco, a uma verdade profunda. É que de fato, valemos muito. Tanto, que Deus quis dar a sua vida por cada um. No entanto, com muita facilidade, começamos a exigir, mesmo de maneira muito sutil, o amor e o reconhecimento que só podemos acolher. Talvez seja por isso que o Senhor quis salientar no Sermão da Montanha: “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu” (Mt 6,1). E, ainda de forma mais radical: “que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (Mt 6,3).

Este risco de exigir Amor em vez de acolhê-lo perderá força em nós se agirmos com a convicção de que Deus contempla a nossa vida com um carinho minucioso – porque o amor está nos detalhes. “Se queres ter espectadores das coisas que fazes, aí os tens: os anjos, os arcanjos e até o próprio Deus do Universo”[12]. Experimenta-se então na alma a autoestima de quem se sabe sempre bem acompanhado e não precisa de estímulos externos especiais para confiar na eficácia da sua oração e da sua vida. E isso, tanto se ela é conhecida por muitos, como se passasse ignorada pela grande maioria. Será suficiente para nós termos em mente o olhar de Deus e sentir as palavras de Jesus dirigidas a cada um de nós: “e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á” (Mt 6,4).

Podemos aprender muito, neste sentido, dos anos ocultos de Jesus em Nazaré. Lá, Ele passou a maior parte da sua vida na terra. Sob o olhar atento do seu Pai do Céu, da Virgem Maria e de São José, o Filho de Deus já estava realizando, em silêncio e com infinita eficácia, a Redenção da humanidade. Poucos o viam, mas lá, em uma modesta oficina de artesão, em uma pequena aldeia na Galiléia, Deus mudava para sempre a história dos homens. Nós também podemos ter essa fecundidade da vida de Jesus, se O deixarmos transparecer em nós, se O deixarmos amar em nossa vida, com essa simplicidade.

Deus continua a mudar o mundo, ficando oculto em cada Sacrário, nas profundezas do nosso coração. É por isso que a nossa vida de entrega, em união com Deus e com os outros, adquire, pela Comunhão dos Santos, uma eficácia que não podemos imaginar nem medir. “Não sabes se progrediste, nem quanto... – De que te serviria esse cálculo?... – O importante é que perseveres, que o teu coração arda em fogo, que vejas mais luz e mais horizonte...: que te afadigues pelas nossas intenções, que as pressintas – mesmo que não as conheças -, e que por todas rezes”[13].

Deus é o de sempre

São Paulo incentivava os cristãos a serem fiéis, a não se preocuparem em ir contra a maioria e trabalhar com os olhos no Senhor: “Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não é em vão” (1 Cor 15,58). São Josemaria repetia de diferentes maneiras a mesma exortação do apóstolo: “Se fordes fiéis, podereis chamar-vos vencedores. Na vossa vida, não conhecereis derrotas. Não existem fracassos, quando se trabalha com retidão de intenção e querendo cumprir a vontade de Deus. Com êxito ou sem ele, teremos triunfado, porque teremos feito o trabalho por Amor”[14].

Saber-se acompanhando sempre por Deus aumenta nossa simplicidade e confiança em que Ele tudo pode

Em qualquer caminho vocacional, após um tempo de entrega, podemos vir a sentir a tentação do desânimo. Talvez pensemos que não fomos muito generosos até este momento, ou que a nossa fidelidade dá poucos frutos e que temos pouco sucesso apostólico. Nesses casos é bom lembrar o que Deus nos assegurou: “Não trabalharão mais em vão” (Is 65,23). São Josemaria o expressava assim: “Ser santo implica ser eficaz, mesmo que o santo não toque nem veja a eficácia”[15]. Deus às vezes permite que os seus fiéis sofram provações e dificuldades em seu trabalho, para fazer a sua alma mais bela, o seu coração mais terno. Quando, apesar da nossa vontade de agradar a Deus, ficamos desanimados ou cansados, não deixemos de trabalhar com sentido de mistério: tendo presente que a nossa eficácia, muitas vezes, “é invisível, incontrolável, não pode ser contabilizada. A pessoa sabe com certeza que a sua vida dará frutos, mas sem pretender conhecer como, onde ou quando. (…) Continuemos para diante, empenhemo-nos totalmente, mas deixemos que seja Ele a tornar fecundos, como melhor Lhe parecer, os nossos esforços”[16].

O Senhor pede que trabalhemos com abandono e com confiança nas suas forças e não nas nossas, na sua visão das coisas e não na nossa limitada percepção. “Quando te abandonares de verdade no Senhor, aprenderás a contentar-te com o que vier, e a não perder a serenidade, se as tarefas – apesar de teres posto todo o teu empenho e utilizado os meios oportunos – não correm a teu gosto... Porque terão ‘corrido’ como convém a Deus que corram”[17]. A consciência de que Deus pode tudo e de que Ele vê todo o bem que fazemos e o guarda com carinho, por menor e escondido que possa parecer, nos ajudará “a estar seguros e otimistas nos momentos duros que podem surgir na história do mundo ou na nossa existência pessoal. Deus é o mesmo de sempre: onipotente, sapientíssimo, misericordioso, e, em todo o momento, sabe tirar, do mal, o bem; das derrotas, grandes vitórias para os que confiam n’Ele”[18].

Unidos a Deus, nós vivemos no meio do mundo como seus filhos, e vamos nos convertendo em semeadores de paz e alegria para todos os que vivem ao nosso redor. Essa é a obra paciente e artesanal que Deus realiza em nossos corações. Deixemos que ilumine todos os nossos pensamentos e que inspire todas as nossas ações. É o que fez nossa Mãe, a Virgem Maria, feliz ao ver as grandes coisas que o Senhor fez em sua vida. Possamos nós também saber dizer todos os dias, como Ela: Fiat! Faça-se em mim segundo a Tua palavra (Lc 1,38).

Pablo Edo

Tradução: Mônica Diez


[11] São Josemaria, Caminho, n. 267.

[12] São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 19.2 (PG 57, 275).

[13] São Josemaria, Forja, n. 605.

[14] São Josemaria, A sós com Deus, n. 314 (AGP, Biblioteca, P10).

[15] Forja, n. 920.

[16] Francisco, Ex. Ap. Evangelii gaudium (24/11/2013), n. 279.

[17] São Josemaría, Sulco, n. 860.

[18] D. Javier, Carta pastoral, 4/11/2015.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/algo-grande-e-que-seja-amor-frutos-da-fidelidade/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF