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domingo, 11 de agosto de 2024

As crises no caminho da fé

As crises no caminho da fé (Arquidiocese de Passo Fundo)

As crises no caminho da fé 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

A leitura do capítulo 6 do Evangelho de São João (1 Reis 19,4-8, Salmo 33, Efésios 4,30-5,2 e João 6,41-51), que nos acompanha nestes domingos da Liturgia dominical, iniciou meditando sobre a milagrosa multiplicação do cinco pães e dois peixes. O evangelista registra que uma multidão se alimentou. A seguir, Jesus convida a quantos tinha saciado a esforçarem-se em buscar um alimento que permanece para a vida eterna. Quer ajudar a multidão a compreender o significado daquele prodígio que realizou saciando a fome física e depois prepara a multidão para aceitar o segundo anúncio: “Eu sou o pão que desceu do céu”. Comer deste pão significa alimentar-se para a vida eterna.  

A multiplicação do pão para saciar a fome gerou euforia a ponto de quererem proclamar Jesus rei. Mas, o segundo convite “eu sou o pão que desceu do céu” gerou murmurações a respeito de Jesus. No contexto bíblico, murmurar é uma atitude de um povo descrente. A motivação da murmuração é a pretensão satânica de querer impor a Deus a própria lógica humana, de enquadrá-lo nos esquemas construídos pelos humanos. “A incredulidade agora se direciona contra a encarnação do Cristo, contra o escândalo da sua humanidade que contradiz e torna absurda a sua proposta divina de ser “o pão descido do céu”. A visibilidade da carne e da humanidade que deveria ser um instrumento de graça, uma transparência da presença amorosa de Deus no meio dos homens, torna-se para os olhos incrédulos um obstáculo que impede de intuir no “filho de José” o Filho de Deus. O escândalo da encarnação e da cruz, porém, são a força que derrota a sabedoria humano “murmuradora” (Cardeal Gianfranco Ravasi).  

O Livro dos Reis medita a crise vivida por Elias. Ele começa a sua missão de profeta de forma triunfal, segundo a compreensão humana, e pensa que isto converterá todo o povo para Deus. Mas isto não se confirma e passa a ser perseguido pela rainha. Foge para o deserto e pede a Deus: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. Esta fuga para o deserto torna-se uma peregrinação para o início do povo de Deus. Alimentado duas vezes pelo anjo, lhe é dito: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Coloca-se quarenta dias pelo caminho até chegar ao monte Horeb, também conhecido por Monte Sinai, onde Deus, por mediação de Moisés, estabeleceu aliança com o Povo através dos dez mandamentos. Elias alimentado com o pão, a água e a Palavra de Deus renasce como profeta, no mesmo lugar onde nasceu o povo de Deus. 

A Carta aos Efésios convida “não contristeis o Espírito Santo”, isto é, não tornar muito triste o Espírito Santo pela incredulidade e o pecado. “Toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isto deve desaparecer no meio de vós, como toda espécie de maldade”.  A vida divina oferecida pelo Espírito Santo, o pão descido do céu e a Palavra de Deus são o fundamento da ética cristã. “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”.  

Somos peregrinos no mundo rumo a Deus. Uma peregrinação na qual estamos sujeitos a crises inesperadas, também no âmbito da fé. Porém a divina providência oferece “o pão vivo descido do céu” para não desanimarmos. A exortação a Elias vem dirigida a nós: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF