A Virgem Maria está associada plenamente à Paixão de
Jesus Cristo, Seu Filho, e por isso também Ela passou pela morte corporal,
para ressuscitar como Ele. Contudo, como Mãe de Deus, teve o privilégio de não
ter o corpo maltratado ou corrompido. Entende-se que após Sua morte Ela
foi imediatamente elevada ao Céu, sem qualquer dano físico. De fato, até o
século VII a igreja comemorava a Sua entrada no Céu como a festa da “Dormição” de
Nossa Senhora, uma referência à suavidade do Seu falecimento, oficializada no
Oriente por edito do imperador bizantino Maurício; neste mesmo século, em
687, passou a ser comemorada também no Ocidente pelo Papa Sérgio I, de
origem oriental.
No século VIII o nome mais explícito de “assunção” passou
a ser adotado. “Assunção” e não “ascensão”, porque
Ela, ao contrário de Jesus, não subiu ao Paraíso por Seu próprio poder, mas sim
pelo poder de Deus. O Dogma da Assunção de Maria foi proclamado em 1950 pelo
Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus: “A
Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida
terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.
Supõe-se que Nossa Senhora estivesse com idade entre 50 e 60 anos quando faleceu, muito provavelmente antes da dispersão dos Apóstolos e da perseguição promovida por Herodes Agripa no ano 42 ou 44. Uma antiga tradição indica como local a mesma casa da Última Ceia e da descida das línguas de fogo do Espírito Santo sobre os Apóstolos (cf. Mt 26,17-19 e At 2,1-4), e que os anjos Gabriel e Miguel a levaram ao Céu. São Bernardo e São Francisco de Sales sugerem que Maria morreu de amor, pelo desejo de estar diretamente com Jesus; que este tenha sido um dos motivos é mais que provável, mas o certo é que Deus A levou apenas quando a Sua missão nesta Terra foi completada – após a Ascensão do Senhor, Nossa Senhora ainda muito teve que auxiliar os Apóstolos e a Igreja Católica que nascia como instituição.
Esta Igreja crescia sob cruéis perseguições, como anunciara
o Cristo (“Se o mundo vos odeia, lembrai-vos que Me odiou antes. (…)
Lembrai-vos do que Eu vos disse: o servidor não é maior do que o seu mestre. Se
a Mim Me perseguiram, também a vós perseguirão”, cf. Jo 15,18.20). Em
257 ocorreu a nona perseguição do Império Romano aos cristãos, sob o imperador
Valeriano, e neste “século dos mártires”, sob o pontificado de Sisto
II, mártir, também martirizado foi São Lourenço, seu diácono e muitos outros.
A Igreja de Roma contava então com 50 sacerdotes, sete
diáconos e cerca de 50 mil fiéis, quase todos dizimados por ódio à Fé. Os
fiéis presos desejavam a Comunhão antes de morrer, mas o acesso a eles era
praticamente impossível e extremamente perigoso. Nesta circunstância
Tarcísio, um jovem de 12 anos acólito do Papa Sisto II, ofereceu-se para tentar
levar a Sagrada Eucaristia aos que esperavam a execução, alegando que a
sua juventude não despertaria suspeitas. O Papa o admoestou, mas, confiando no
seu valor, entregou-lhe um recipiente com Hóstias Consagradas para os
encarcerados.
Durante o trajeto, alguns rapazes o interromperam por
qualquer pretexto, e notando que ele procurava continuar, quiseram saber por
que e em seguida o que ele levava na mão. Tarcísio não respondeu e logo eles se
tornaram violentos, tentado abrir-lhe a mão à força, e começando a lhe bater e
apedrejar. Contudo ele segurava as Hóstias com tal firmeza que não foi
possível tomá-las, mesmo quando caiu ao chão. Há duas versões dos
acontecimentos seguintes. Uma diz que Tarcísio morreu ali e nada foi encontrado
com ele, pois seu corpo havia se tornado um com a Eucaristia, uma única
hóstia imaculada, oferecida a Deus; outra diz que Tarcísio foi socorrido por um
oficial ou soldado romano, cristão, chamado Quadrato, a quem entregou
as Hóstias antes de morrer. O certo é que seu corpo foi recolhido por um
militar romano, ocultamente cristão, e sepultado nas catacumbas.
O Papa Dâmaso I (366-384) mandou colocar no seu túmulo a
data da sua morte, 15 de agosto de 257, e a seguinte inscrição: “Enquanto
um criminoso grupo de fanáticos se atirava sobre Tarcísio que levava a
Eucaristia, o jovem preferiu perder a vida, antes que deixar aos raivosos o
Corpo de Cristo".
São Tarcísio é o Padroeiro dos Coroinhas ou Acólitos,
isto é, dos que servem no altar ajudando o sacerdote durante a Missa.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A glorificação imediata da alma e do corpo de Nossa Senhora,
na Assunção, é a recompensa pelas Suas virtudes e participação direta e única
na corredenção da Humanidade, por meio dos Seus sofrimentos semelhantes aos do
Cristo: a mais perfeita participação na missão de Jesus merece a mais perfeita
participação na Sua glória divina. Assim, a honra e o poder (de intercessão) de
Maria Virgem no Céu só é menor que os da Trindade. Seu título de Mãe de Jesus A
torna igualmente Rainha do Céu e Mãe da Igreja (que é o Corpo Místico do Seu
Filho), portanto, igualmente, de todos nós, irmãos de Cristo e membros do Seu
Corpo. Como Mãe de Jesus, é igualmente a única Medianeira de todas as graças,
porque da mesma forma que Cristo veio a nós por Ela, também só por Ela, por Sua
humanidade igual à nossa, somos irmãos de Jesus Encarnado. Não podemos ter
acesso a Cristo a não ser por meio da Mãe que no-Lo dá. Nesta mesma
identificação de criatura, de humanidade com Maria, a nossa possível
ressurreição ao Céu fica Nela garantida: Assunta, Ela conduziu à plenitude a
expectativa humana da vitória definitiva sobre a morte e o mal. A Sua honra
transborda para todo o gênero humano, e por isso a Igreja – nós – nos
alegramos, tanto por Ela quanto pelo que Ela obteve para nós. A corredenção de
Maria na nossa Salvação não terminou com a Sua Assunção, mas continua por Suas
orações e intercessão, de modo eminente e eficaz porque o Filho não pode negar
à Sua Mãe o que poderia nos negar se Lhe pedíssemos diretamente: por amor e
obediência filial, atende às nossas súplicas por Ela purificadas e tornadas
dignas de serem atendidas. O servidor não é maior do que o seu mestre… Maria,
São Tarcísio, e nós, temos passagem obrigatória pela morte física (a menos que
Deus determine de outra forma por exceção). O fundamental é que, como Maria e
Tarcísio, estejamos unidos a Cristo neste momento: em comunhão com Ele. A união
de Nossa Senhora com Jesus é única e não pode ser repetida, está num grau de
perfeição inalcançável a qualquer outra criatura, anjo ou ser humano. Mas
podemos ser santos num grau heroico como São Tarcísio, se esta for a vontade de
Deus para nós e se correspondermos a esta Sua graça. No caso de São Tarcísio, a
comunhão foi espiritual e física, pois estava literalmente abraçado ao Senhor
na hora da morte... A consciência de que portava o Corpo de Cristo, vivo, e não
um pão qualquer, como parte da sua decisão de correr o risco e responsabilidade
que isto implicava, deixa claro que a maturidade espiritual do acólito de 12
anos no amor pelo Sagrado era de idade muito mais avançada do que os seus
poucos anos no físico. Ele realmente entendeu que conservar no coração a graça
de Deus vale mais do que conservar todos os bens criados, inclusive a própria
vida, e que no seu caso não apenas a graça do Senhor, mas Ele mesmo!, estava
nos seus braços. Por isso não hesitou em sofrer o martírio, que São Tomás
explica ser, “por natureza, o mais perfeito dos atos humanos, como sinal do
mais alto grau de amor” (Suma Teológica II-II, 124, 3 c.). Se oferecer a própria
vida por outra pessoa, como fez por exemplo São Maximiliano Maria Kolbe, já é
martírio que chama mais a atenção do que a morte por si mesmo, o que pensar de
quem oferece a vida pela integridade do próprio Cristo vivo, presente
diretamente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade? Ao menos somos cuidadosos e
respeitosos com as Hóstias Consagradas que estão nos sacrários das igrejas, e
que comungamos? Realmente nos preocupamos em não deixar cair nem uma mínima das
suas partículas, já que em cada uma delas está plenamente Jesus? Se não temos
as mãos ungidas como os sacerdotes, e nem lavadas ritualmente como as deles,
por que pretendemos ter a dignidade de receber o Senhor em mãos que até,
talvez, tenham segurado pouco antes moedas e cédulas sujas (pelo manuseio constante
e pouco higiênico por inúmeras pessoas) no Ofertório? Seríamos capazes de
morrer para evitar a profanação de uma única migalha da Hóstia Consagrada?
Sabemos que ela é o Cristo, vivo… Cremos realmente que é melhor morrer a
cometer um único pecado mortal que seja? Se pais de Tarcísio, diríamos a ele o
mesmo que a mãe dos Santos Macabeus? (“Meu filho, não temas este carrasco, mas
sê digno de teus irmãos e aceita a morte, para que no dia da misericórdia eu te
encontre no meio deles”, 2Mc 7,29). Porque os pais católicos têm que saber que
a vida sobrenatural dos filhos, recebida no Batismo, é o que de mais precioso
possuem, e que verdadeiramente mais vale que eles morram e vão para o Céu do
que cometam um único pecado mortal. Não nascemos para este mundo, e tampouco
devemos criar nossos filhos para ele. Os exemplos dos santos são admiráveis,
mas não basta isso, é preciso imitar ao menos as virtudes que os fizeram agir.
Se ainda não chegamos a essa disposição de entrega – talvez do próprio filho,
como Deus Pai nos entregou Jesus –, convençamo-nos ao menos da necessidade de
pedir a graça de querê-lo. “Porque Teu amor vale mais do que a vida” (Sl 62,4).
Oração:
Nossa Senhora, Mãe querida, que estais junto a Deus e sois o
nosso único caminho para Jesus, obtende-nos Dele a graça de, como São Tarcísio,
dar a vida a Seu serviço, pelo martírio se da vontade do Pai, ou pela
fidelidade heróica ao Senhor nos afazeres do dia a dia. São Tarcísio, rogai por
nós. Amém.
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