Catequese completa do papa Francisco sobre a descida do Espírito Santo sobre Jesus no rio Jordão.
Por Papa Francisco*
21 de agosto de 2024
O papa Francisco deu hoje (21) a sexta catequese do ciclo
intitulado O Espírito e a Esposa que começou em 29 de maio e
que hoje foi centrada na vinda do Espírito Santo sobre Jesus no batismo no rio
Jordão.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje reflitamos sobre o Espírito Santo que desce sobre Jesus
no batismo do Jordão e, d’Ele, se difunde no seu corpo, que é a Igreja. No
Evangelho de Marcos, a cena do batismo de Jesus é assim descrita: «Naqueles
dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado no Jordão por João. E
assim que saiu da água, viu os céus abertos e o Espírito que desceu sobre Ele
como uma pomba. E do céu ouviu-se uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado: em
ti pus toda a minha complacência”» (Mc 1, 9-11).
Toda a Trindade marcou encontro, naquele momento, nas
margens do Jordão! É o Pai que se faz presente com a sua voz; é o Espírito
Santo que desce sobre Jesus sob forma de pomba; e é aquele que o Pai proclama
como seu Filho amado, Jesus. É um momento muito importante da Revelação, é um
momento importante da história da salvação. Far-nos-á bem reler esta passagem
do Evangelho.
O que aconteceu de tão importante no batismo de Jesus, para
induzir todos os evangelistas a narrá-lo? Encontramos a resposta nas palavras
que Jesus pronuncia, pouco tempo depois, na sinagoga de Nazaré, com clara
referência ao acontecimento do Jordão: «O Espírito do Senhor está sobre mim;
foi por isto que me consagrou com a unção» (Lc 4, 18).
No Jordão, Deus Pai “ungiu com o Espírito Santo”, ou seja,
consagrou Jesus como Rei, Profeta e Sacerdote. Com efeito, no Antigo
Testamento, os reis, os profetas e os sacerdotes eram ungidos com óleo
perfumado. No caso de Cristo, em vez do óleo físico, há o óleo espiritual que é
o Espírito Santo; em vez do símbolo, há a realidade: é o próprio Espírito que
desce sobre Jesus.
Jesus está cheio do Espírito Santo desde o primeiro instante
da sua Encarnação. Mas esta era uma “graça pessoal”, incomunicável; agora, pelo
contrário, com esta unção, recebe a plenitude do dom do Espírito,
mas para a sua missão que, como cabeça, comunicará ao seu corpo, que é a
Igreja, e a cada um de nós. Por isso, a Igreja é o novo “povo real, povo
profético, povo sacerdotal”. O termo hebraico “Messias” e o vocábulo
correspondente em grego “Cristo” - Christós - ambos referidos a Jesus,
significam “ungido”: foi ungido com o óleo da alegria, ungido com o Espírito
Santo. O nosso próprio nome “cristãos” será explicado pelos Padres em sentido
literal: cristãos significa “ungidos à imitação de Cristo”.
Na Bíblia um Salmo fala de um óleo perfumado derramado sobre
a cabeça do sumo sacerdote Aarão e que desce até à orla da sua veste (cf. Sl 133,
2). Esta imagem poética do óleo que desce, usada para descrever a felicidade de
viver juntos como irmãos, tornou-se realidade espiritual e realidade mística em
Cristo e na Igreja. Cristo é a cabeça, o nosso Sumo Sacerdote; o Espírito Santo
é o óleo perfumado e a Igreja é o corpo de Cristo no qual se difunde.
Vimos por que, na Bíblia, o Espírito Santo é simbolizado
pelo vento e, aliás, recebe dele o próprio nome, Ruah - vento. Vale
a pena perguntar-nos também por que é simbolizado pelo óleo e que ensinamento
prático podemos obter deste símbolo. Na Missa de Quinta-Feira Santa,
consagrando o óleo chamado “Crisma”, o bispo, referindo-se a quantos receberão
a unção no Batismo e na Confirmação, diz: «Que esta unção os penetre e
santifique, para que, libertados da corrupção nativa e consagrados como templo
da sua glória, propaguem o perfume de uma vida santa». É uma aplicação que
remonta a São Paulo, que aos Coríntios escreve: «Sim, diante de Deus nós somos
o perfume de Cristo» (2 Cor 2, 15). A unção faz de nós perfume, e
também uma pessoa que vive com alegria a sua unção perfuma a Igreja, perfuma a
comunidade, perfuma a família com este aroma espiritual.
Sabemos que, infelizmente, às vezes os cristãos não difundem
o perfume de Cristo, mas o mau cheiro do próprio pecado. E nunca nos
esqueçamos: o pecado afasta-nos de Jesus, o pecado transforma-nos em óleo mau.
E o diabo - não vos esqueçais disto - normalmente, o diabo entra pelos bolsos -
tende cuidado! E isto, no entanto, não nos deve desviar do compromisso de
realizar, na medida do possível e cada um no seu ambiente, esta sublime vocação
de ser o bom perfume de Cristo no mundo. O perfume de Cristo emana dos “frutos
do Espírito”, que são «amor, alegria, paz, magnanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio de si» (Gl 5, 22). Paulo disse-o, e
como é bom encontrar uma pessoa com estas virtudes: uma pessoa com amor, uma
pessoa alegre, uma pessoa que cria a paz, uma pessoa magnânima, não mesquinha,
uma pessoa benevolente que acolhe todos, uma pessoa bondosa. É bom encontrar
uma pessoa boa, uma pessoa fiel, uma pessoa mansa, não orgulhosa... Se nos
esforçarmos por cultivar estes frutos e quando encontrarmos estas pessoas,
então, sem nos darmos conta, alguém sentirá ao nosso redor um pouco da
fragrância do Espírito de Cristo. Peçamos ao Espírito Santo que nos torne mais
conscientes, ungidos, ungidos por Ele.
*O papa Francisco, nascido em 17 de dezembro de 1936 em
Buenos Aires (Argentina), é o primeiro papa da América Latina na história da
Igreja Católica, assumindo o papado em 13 de março de 2013. O seu estilo de
proximidade e a sua ênfase na misericórdia deixaram uma marca distintiva em seu
pontificado.
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