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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Comer vendo TV realmente faz mal? (2)

Estudos indicam que as crianças podem comer mais alimentos ultraprocessados enquanto assistem à TV, porque são considerados mais convenientes | Crédito, Alamy

Comer vendo TV realmente faz mal?

Por Jessica Brown

BBC Future

10 de agosto de 2024

O outro lado da distração

A relação entre assistir à televisão e comer é complexa, mesmo quando tratamos dos efeitos da distração, isoladamente. Pesquisas também indicam que a distração pode nos levar a comer menos – ou deixar de comer, segundo van Meer.

A pesquisadora conta, por exemplo, que algumas escolas primárias na Holanda decidiram reduzir a jornada escolar e fazer com que os estudantes almocem durante as aulas.

O ensino durante o almoço costuma ser mais passivo, segundo van Meer. Os professores leem para os estudantes ou apresentam vídeos educativos.

Mas ela destaca que muitos pais estão observando seus filhos voltarem para casa no final do dia com suas lancheiras cheias de comida, o que sugere que eles estavam distraídos demais para comer.

O mesmo efeito foi encontrado em pesquisas com adultos.

Em um estudo, os participantes assistiram a dois episódios da popular série de TV americana Friends. Um dos grupos assistiu ao mesmo episódio duas vezes e o outro assistiu a dois episódios diferentes. E, durante o segundo episódio, os dois grupos receberam lanches diferentes.

Os pesquisadores concluíram que as pessoas que assistiram ao mesmo episódio duas vezes comeram 211 calorias a mais do que o grupo que assistiu a dois episódios diferentes. Isso pode ter ocorrido porque eles estavam menos distraídos, segundo o professor de ciências da psicologia Dick Stevenson, da Universidade Macquarie em Sydney, na Austrália.

Em outras palavras, se o programa de TV a que estivermos assistindo for suficientemente cativante, podemos nos esquecer de comer o alimento que está à nossa frente. Mas, quando a TV nos aborrece, podemos comer mais.

Em outro pequeno estudo, um grupo de participantes assistiu a uma palestra "maçante" sobre arte na TV. Um segundo grupo assistiu a uma série "envolvente" e um terceiro não viu televisão. Eles receberam lanches de baixa caloria (uvas) e com alto teor de calorias (chocolate).

Os pesquisadores concluíram que a palestra maçante incentivou os participantes a comerem mais, enquanto o programa envolvente os levou a comer menos, em comparação com o grupo controle, que não tinha acesso à televisão. Em outras palavras, quanto mais tédio entre os participantes, mais eles comiam.

Mas o interessante é que a principal mudança de consumo foi verificada no número de uvas. A quantidade de chocolate permaneceu mais ou menos sem alteração.

Afinal, devemos evitar comer em frente à TV?

Existem diversas teorias sobre os motivos que nos levam a comer mais quando estamos em frente à televisão. Mas as pesquisas confiáveis nesta área enfrentam diversas dificuldades.

Os pesquisadores costumam confiar nos diários alimentares das pessoas e acompanhar seus hábitos de assistir à televisão. Mas elas, muitas vezes, reduzem o consumo de alimentos não saudáveis nos seus relatórios, segundo Fernanda Rauber.

Pelo menos no estudo de Monique Alblas, os participantes que forneceram seus dados registravam todas as atividades do seu dia a dia, ou seja, eles não registravam apenas as refeições ou o uso da TV, especificamente.

Assistir a um programa tedioso pode nos levar a comer mais do que quando vemos uma série de TV cativante | Crédito,Getty Images

Os pesquisadores também estudam as pessoas comendo e assistindo à TV em ambientes de laboratório. Mas a natureza da televisão faz com que, em casa, fiquemos normalmente relaxados e pode ser difícil tentar recriar este ambiente no laboratório.

"Os métodos de observação direta podem introduzir viés de mudança comportamental, com os participantes alterando seus hábitos de alimentação ao saberem que estão sendo observados", afirma Rauber.

Alblas defende que é preciso ter mais pesquisas em ambientes reais, pois os nossos hábitos alimentares – e seus fatores de influência – são muito complexos.

"Nós conhecemos algumas das formas de influência da TV sobre a nossa alimentação, mas existem muitos processos e coisas que não sabemos e precisam ser mais bem compreendidas", afirma ela.

A influência da TV sobre a alimentação depende de muitos fatores, incluindo o tipo de conteúdo a que estamos assistindo, segundo Dick Stevenson.

Ele pode alterar o nosso humor, mas também nos influencia de forma inconsciente. Se um personagem estiver comendo na tela, por exemplo, podemos também ser levados a comer junto com eles.

O ritmo do programa também pode fazer diferença. Um estudo indicou que filmes de ação podem nos induzir a comer mais do que programas de entrevistas.

E, naturalmente, o sabor dos alimentos que temos em mãos também é importante, bem como a nossa impulsividade pessoal em relação à comida.

A própria distração também é algo complexo. Assistir à TV pode não causar tanta distração quanto outras atividades que realizamos enquanto comemos – e que também podem nos levar a comer mais.

Uma análise de estudos concluiu, por exemplo, que existem poucas evidências que indiquem que nós comemos mais quando assistimos à TV em comparação com outras atividades, como ler, jogar videogame ou comer com os amigos. E as pesquisas também indicam que os nossos hábitos alimentares são complicados e quase impossíveis de entender completamente.

O certo é que existe muito mais no jantar em frente à TV do que o simples consumo de alimentos processados com alto teor de sal e gordura.

Por isso, se você estiver se sentando à mesa em busca de uma opção mais saudável, talvez seja melhor analisar se realmente vale a pena ter nas mãos aquele controle remoto.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2dgpznl42do

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF