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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Jesus Cristo e a experiência da oração

Profunda Vida de Oração (Diocese de Valadares)

Jesus Cristo e a experiência da oração

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA) 

Na leitura dos evangelhos constatamos o fato de que Jesus não só falava da oração, mas também dela fazia experiência e a recomendava. Sua oração acontecia em várias circunstâncias, ambientes, a sós ou com seus discípulos. Considerando as diversas passagens em que se fala da oração de Jesus, não encontramos um padrão definido, nem o conteúdo das orações de Jesus, em alguns casos sim! Mas na maioria das vezes, simplesmente se fala da experiência da oração. As diversas referências à oração de Jesus são profundamente significativas para nós. 

 Mistério de Amor e comunhão 

Para Jesus a oração expressava a sua relação afetiva com Deus Pai. Na base da oração de Jesus está o mistério do Amor e da comunhão recíproca entre o Filho e o Pai e vice-versa. Por isso Jesus declarou: “Eu não posso fazer nada por mim mesmo…  não procuro fazer a minha vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.» (Jo 5,30-31.37). Jesus declara que foi enviado pelo Pai e vivia por Ele (cf. Jo 6,57). Seus momentos de oração era tempo reavivamento da consciência de estar acompanhado e em íntima relação com Deus Pai que o enviou ao mundo: “não estou sozinho, mas o Pai que me enviou está comigo” (Jo 8,16); “mas o Pai que permanece em mim, ele é que realiza suas obras. Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,10-11). 

Para Jesus Cristo a oração não tem uma função utilitária, mas sobretudo, é manifestação da consciência do seu vínculo filial e afetivo com Deus Pai. A oração de Jesus está vinculada à sua identidade! Na verdade, mais do que fazer orações, Jesus vivia permanentemente em estado de comunhão. Jesus de Nazaré, por sua manifestação de relação contínua com Deus Pai e diálogo permanente com ele, foi um homem orante!  

 Oração e missão 

Jesus era consciente de ser Filho, Missionário, Servo, Bom Pastor. Portanto, a sua oração estava em função da sua fidelidade de filho obediente, missionário generoso, servo fiel e bom pastor. Por isso afirmou: “O Pai me consagrou e me enviou ao mundo” (Jo 10,36); “Eu sou o bom pastor… assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas” (Jo 10,14.15); “o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos.» (Mt 20,28); “eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim para fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 6,38). 

A experiência da oração aparece desde o início da sua vida pública. Mas na sua adolescência já havia manifestado uma consciência extraordinária, quando procurado por Maria e José, respondeu à sua mãe: «Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?» (Lc 2,49). Esse zelo pela casa do seu Pai, significava o cuidado para com a oração, que tinha no templo o espaço comunitário privilegiado. Quando adulto Jesus vai reagir com indignação vendo o templo transformado em mercado (cf. Lc 19,46).  

No batismo temos a declaração de Deus Pai revelando-lhe seu amor predileto e recomendando aos seus ouvintes que o acolham e o escutem. Assim descreve o evangelista São Lucas:  “Jesus, depois de batizado, estava rezando. Então o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho amado! Em ti encontro o meu agrado.» (Lc 3,21-22).  Sua vida pública começa com a oração com a convicção de ser o Filho e missionário Amado de Deus Pai e impulsionado pelo Espírito Santo (cf. Lc 4,1-4). 

O evangelista Marcos nos apresenta Jesus, imediatamente após o seu batismo, imerso numa intensa vida Missionária: acolhendo as pessoas, ensinando, expulsando demônios, curando doentes, andando por todas as vilas, pregando o Reino de Deus, mas reserva tempo para a oração rejeitando dessa forma um messianismo exibicionista e populista. “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). No contexto missionário, tantas vezes pressionado pelas necessidades do povo, Jesus prioriza a experiência da oração, sendo para ele busca de repouso, serenidade, equilíbrio, concentração, manutenção de sua identidade. Após a multiplicação dos pães e dos peixes, logo após despedir as multidões, Jesus foi para o outro lado do mar e subiu um monte para rezar (cf. Mt 14,22-23; Mc 6,46).  

Após a pesca milagrosa e diversas curas, o evangelista Lucas afirma que a “fama de Jesus espalhava-se cada vez mais, e numerosas multidões se reuniam para ouvi-lo e serem curadas de suas doenças. Mas Jesus se retirava para lugares desertos, a fim de rezar” (Lc 5,15-16). A oração é antídoto contra o veneno da vaidade e da autossuficiência. Essa é uma tentação! Por isso Jesus alertou seus discípulos dizendo: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação” (Mt 26,41). 

 Momentos excepcionais de oração 

Consciente de ser filho, missionário do Pai, e estando sempre em profunda comunhão com Ele, percebemos, a partir dos textos dos evangelhos, que Jesus sempre entrava em oração antes de acontecimentos importantes e extraordinários. Vejamos alguns exemplos. Jesus rezou: 

  • Antes de iniciar a sua vida pública (cf. Lc 3,21) e louva o Pai por sua missão de servir os mais pobres (cf. Lc 10,21-23);  
  • Antes da escolha dos doze apóstolos (cf. Mc 3,13-16); 
  • Antes da multiplicação dos pães e dos peixes (cf. Mc 6,41);  
  • Antes da Ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,41-43); 
  • Antes da sua transfiguração (cf. Lc 9,28-29); 
  • Antes de ser preso e iniciar o caminho do calvário (cf. Lc 22,44). 

 Advertências sobre a oração 

  • A oração não deve ser ostensiva, orgulhosa, prepotente, vaidosa, mas recheada de espírito de humildade, discreta, íntima (cf. Mt 6,5-8; 23,14 Lc 18,11); 
  • A oração não é para nós uma experiência natural, mas é fruto de aprendizagem, por isso Jesus ensina seus discípulos a rezar (cf. Lc 11,1-4);  
  • Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina que na oração devemos nos concentrar na identidade de Deus para louvá-lo, reconhecer nossas fragilidades e renovar o compromisso de perdão e da fraternidade (cf. Mt 6,9ss); 
  • Na parábola do juiz insensível Jesus nos apresenta a necessidade da perseverança na oração, sem nunca desistir (cf. Lc 18,1); 
  • A oração deve ser a nossa resposta ao nossos inimigos, que nos perseguem e caluniam (cf. Lc 6,28); 
  • Jesus incentiva seus discípulos a confiarem na bondade de Deus, pois através da oração receberão o que necessitam (cf. Mt 7,7-8; 21,22); 
  • No episódio da visita à casa de Marta e Maria, Jesus chama a atenção de Marta porque estava ocupada com muitos afazeres deixando de dar a devida atenção ao visitante amigo, ao contrário, Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra; Jesus elogiou a atitude de Maria dizendo: “uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.» (Lc 10,38-42). 
  • A experiência da oração contribui para nossa transfiguração, ou seja, a superação das crises, do desânimo e da frustração (cf. Lc 9,29); 
  • A qualidade da oração não depende da quantidade de palavras e nem do tempo empregado (cf. Mt 6,5-13; Lc 5,33);  
  • Jesus reza por Pedro para que não esmoreça na fé diante das investidas de Satanás (cf. Lc 22,32) e alertou os discípulos: «Rezem para não caírem na tentação.» (Lc   22,40); e declarou que o jejum e a oração expulsam demônios (cf. Mt 17,21); 
  • Jesus ao refletir sobre o drama da cruz pede o conforto de Deus Pai: “Agora estou muito perturbado. E o que vou dizer? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim.  Pai, manifesta a glória do teu nome!» (Jo 12,27-28); 
  • Jesus alertou seus discípulos sobre a necessidade da oração ser sinal de compromisso de boas obras, da prática da vontade de Deus (cf. Mt 7,21); 
  • Na parábola do rico insensível e o pobre Lázaro Jesus nos ensina que, após a morte, a oração é inútil para quem nesta vida foi egoísta (cf. Lc 16,24-28). 
  • Jesus orou estando crucificado em pleno sofrimento: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34); “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34); “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” (Lc 23,46); 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Qual é a relação entre a oração e a identidade de Jesus? 

Qual aspecto da oração de Jesus mais lhe chamou a atenção? 

O que a parábola do rico insensível e o pobre Lázaro nos ensina sobre o sentido da vida e a oração? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF