Liberdade religiosa
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Finalmente reconheceram que houve abuso e desrespeito
ao sentimento religioso cristão. “Organizadores pedem desculpas pela paródia de
‘A última Ceia’ na abertura das Olimpíadas”, e ainda, diz o texto:
organizadores pediram desculpas a grupos cristãos católicos pela cerimônia de
abertura. Exatamente com este título, foi veiculada notícia num dos jornais
mais lidos no Brasil.
Em que pese o diretor artístico da cerimônia de abertura,
afirmar que seu desejo não “é ser subversivo nem zombar, escandalizar”, foi o
que aconteceu. Apesar da tentativa de atribuir o quadro ofensivo referindo-o à
obra do artista Jan van Bijlert, intitulada “A Festa dos Deuses”, a evidência
da zombaria foi clara. É uma constante o deboche dos símbolos e ícones da fé
cristã nos países do Ocidente. Já no Oriente, é perseguição mesmo, ao
cristianismo. Nunca foram assassinados tantos cristãos como no século XX
afirmou João Paulo II.
De onde vem este desrespeito á liberdade religiosa?
Principalmente no caso em questão, acontecido na França, que deu o tom no
progresso dos direitos humanos, com a proclamação dos valores da “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade”? Se a liberdade é propriedade essencial do
homem moderno, um valor fundamental da existência do indivíduo na sociedade,
por que este desrespeito à liberdade religiosa?
A declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 no seu
artigo 8 diz ”Todas as pessoas tem direito à liberdade de pensamento, de
consciência e religião”. Por isso se deve respeitar a religião. Proibir que
se prejudique alguém por suas opiniões religiosas. A incredulidade, a
irreligião e o ateísmo, só se podem entender em relação à religião e à fé, na
liberdade de pensamento e consciência. No respeito ao sentimento religioso de
quem o tem.
O concílio Vaticano II na Declaração “Dignitatis Humanae”
afirma o direito `a liberdade religiosa, e fundamenta-o na dignidade da pessoa
humana, como patrimônio de todos os homens. É um direito civil porque pertence
a qualquer autoridade civil tutelar e promover os direitos humanos. Mas qual a
explicação para a violação do direito à liberdade religiosa através do
desrespeito e desmoralização do cristianismo?
É patente que estamos em uma crise antropológica que marca
nossa mudança de época. Esta crise é marcada pela secularização e negação da
ética. Quando o dinheiro governa em vez de servir, olha-se com desprezo para a
ética. Ética que não sendo ideologizada, permite criar uma ordem social mais
humana e solidária.
Assistimos o crescimento enorme do poder humano através das
novas tecnologias. Mas o que não acompanhou esse crescimento foi seu potencial
ético. Tudo se tornou relativo, sem referência ao bem, ao mal e muito menos à
verdade. Aliás estamos em uma época de “pós-verdade”, na qual se troca a razão
pela paixão e os valores judaico-cristãos e a lei natural grega, pelo hedonismo
individualista. O subjetivismo moral é a regra para ser “politicamente
correto”.
“Nossa civilização sobreviveu e prosperou por um tempo.
Então começou a morrer, de dentro para fora. Ela está corroída pelas
contradições internas, comunidades desprovidas de valores e indivíduos vazios…e
o desejo de silenciar os que pensam diferente tem atingido novos e tenebrosos
níveis”(Bem Shapiro).
Como um doente que recusa o remédio, vomitando-o, assim
acontece com a recusa e descarte de Jesus Cristo, do qual pode vir a salvação.
É ele e seus seguidores, o perigo para o império do Mercado, que sem escrúpulo,
destrói indivíduos e Nações!
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