Na alegre esperança de Cristo
Deixar que o amor de Deus nos toque, deixar que Cristo olhe
para nós. A esperança abre um mundo diante de nós, porque se fundamenta no que Deus
quer fazer em nós.
04/12/2017
Deixar
Cristo olhar para nós
Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia de
Deus, porque n’Ele Deus nos fala com uma linguagem à nossa medida: uma
linguagem em escala humana que vem ao encontro da sede do amor fora de toda escala
que Ele mesmo colocou em cada um de nós. “E você, já sentiu alguma vez pousar
sobre você este olhar de amor infinito que, para além de todos os seus pecados,
limitações e fracassos, continua a confiar em você e a olhar com esperança para
a sua vida? Você está consciente do valor que tem diante de um Deus que, por
amor, deu-lhe tudo? Como nos ensina São Paulo, assim “Deus demonstra o seu amor
para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rom 5,
8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?”[8]
E
VOCÊ, JÁ SENTIU ALGUMA VEZ POUSAR SOBRE VOCÊ ESTE OLHAR DE AMOR INFINITO QUE,
PARA ALÉM DE TODOS OS SEUS PECADOS, LIMITAÇÕES E FRACASSOS, CONTINUA A CONFIAR
EM VOCÊ E A OLHAR COM ESPERANÇA PARA A SUA VIDA? (PAPA FRANCISCO)
Para descobrir o rosto de Jesus, é necessário percorrer o
caminho da adoração e da contemplação. “Que doce é estar diante de um
crucifixo, ou de joelhos diante do Santíssimo e simplesmente ser diante
de seus olhos! Quanto bem nos faz deixar que Ele volte a tocar nossa existência
e nos lance a comunicar sua nova vida!”[9].
Trata-se, como dizia o Papa em outra ocasião, de “olhar Deus, mas acima de tudo
[de] sentir-se olhado por Ele”[10].
Parece algo simples: deixar-se olhar, simplesmente ser na
presença de Deus... Mas o certo é que, em um mundo hiperativo e saturado de
estímulos como o nosso, isso nos custa terrivelmente. Por isso, é necessário
pedir a Deus o dom de entrar no seu silêncio e de deixar que Ele olhe para nós:
convencer-se, em suma, de que estar na sua presença já é uma
oração maravilhosa e tremendamente eficaz, mesmo se não tirarmos dela nenhum
propósito imediato. A contemplação do rosto de Cristo tem em si mesma um poder
transformador que não podemos medir com os nossos critérios humanos. “Ponho
sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei.
Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará
seguro” (Sal 15, 8–9).
O rosto de Jesus é também o rosto do Crucificado. Ao
constatar a nossa fraqueza, poderíamos pensar, com um critério exclusivamente
humano, que o decepcionamos: que não podemos nos dirigir a Ele como se não
tivesse acontecido nada. No entanto, essas objeções delineiam somente uma
caricatura do Amor de Deus. “Há uma falsa ascética que apresenta o Senhor na
Cruz enraivecido, rebelde. Um corpo retorcido que parece ameaçar os homens: vós
me quebrantastes, mas eu lançarei sobre vós os meus pregos, a minha cruz e os
meus espinhos. Esses não conhecem o espírito de Cristo. Ele sofreu tudo quanto
pôde — e, por ser Deus, podia tanto! — . Mas amava mais do que padecia... E,
depois de morto, consentiu que uma lança Lhe abrisse outra chaga, para que tu e
eu encontrássemos refúgio junto ao seu Coração amabilíssimo.”[11]
Como São Josemaria compreendia o Amor que irradia o rosto de
Jesus! Lá da Cruz Ele nos olha e nos diz: “Conheço você perfeitamente. Antes de
morrer pude ver todas as suas debilidades e misérias, suas quedas e traições...
E conhecendo você tão bem, tal como você é, julguei que vale a pena dar
a vida por você”. O olhar de Cristo é amoroso, afirmativo, que vê
todo o bem que existe em nós – o bem que nos somos – e que Ele
mesmo nos concedeu ao chamar-nos à vida. Um bem digno de Amor,
mais ainda, digno do Amor maior. (cfr. Jo 3,16; 15,13).
Caminhar
com Cristo deixando sua marca no mundo
O olhar de Jesus nos ajudará a reagir com esperança diante
das quedas, das escorregadelas, da mediocridade. E não é simplesmente porque
sejamos bons do jeito que somos, mas também porque Deus conta com cada um de
nós para transformar o mundo e enchê-lo do seu Amor. Também essa chamada está
no olhar amoroso de Cristo. “Você me dirá: “Padre, mas eu sou muito limitado,
sou pecador, que posso fazer?” Quando o Senhor nos chama, não pensa no que
somos, no que éramos, no que fizemos ou deixamos de fazer. Ao contrário: No
momento que nos chama, Ele está olhando tudo o que poderíamos dar, todo o amor
que somos capazes de contagiar. Sua aposta sempre é no futuro, no amanhã. Jesus
te projeta no horizonte, nunca em um museu.”[12]
O olhar de Cristo é um olhar do Amor, que afirma sempre
a pessoa que está na sua frente e exclama: “É bom que você exista, que
maravilha ter você aqui”![13] Ao
mesmo tempo, conhecendo-nos perfeitamente, conta conosco. Descobrir essa dupla afirmação
de Deus é o melhor modo de recuperar a esperança e de nos
sentirmos novamente atraídos para cima, em direção ao Amor, e depois lançados
ao mundo inteiro. Essa é, no fim das contas, nossa segurança mais firme: Cristo
morreu por mim, porque acreditava que valia a pena fazer isso.
Cristo, que me conhece, confia em mim. Por isso o Apóstolo
exclamava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu
próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com
ele todas as coisas?" (Rom 8, 31-32).
Dessa segurança nascerá o nosso desejo de retomar o caminho,
de lançar-nos ao mundo inteiro para deixar nele as marcas de Cristo. Sabendo
que, muitas vezes, tropeçaremos, que, nem sempre, conseguiremos realizar o que
nos propusermos... Mas, no fundo, não é isso o que conta. O que importa é
seguir em frente, com o olhar fixo em Jesus: “expectantes beatam spem”
acordados e atentos à sua alegre esperança[14].
É Ele que nos salva e conta conosco para encher o mundo de paz e de alegria.
“Deus criou-nos para estarmos de pé. Existe uma bela canção que os alpinos
cantam quando sobem. A canção diz assim: “na arte de subir, importante não é o
não cair, mas não ficar caído”!”[15] Em
pé, alegres. Seguros. A caminho. Com a missão de acender “todos os caminhos da
terra com o fogo de Cristo” que levamos no coração[16].
Lucas Buch
Tradução: Mônica Diez
[8] Francisco,
Mensagem, 15-VIII-2015.
[9] Francisco,
Ex. Ap. Evangelii Gaudium (26-XI-2013), n. 264.
[10] S.
Rubin, F. Ambrogetti, El Papa Francisco. Conversaciones con Jorge
Bergoglio, Edições B, Barcelona 2013, p. 54.
[11] São
Josemaria, Via Sacra, estação XII, nº 3.
[12] Francisco,
Vigília de oração, 30-VII-2016.
[13] Cfr.
J. Pieper, Las Virtudes fundamentales, Rialp, Madrid 2012, 435-444.
[14] Missal
Romano, Rito de Comunhão.
[15] Francisco,
Homilia, 24-IV-2016.
[16] Caminho,
nº 1.
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