Opção fundamental
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Nos últimos domingos a liturgia dominical nos proporcionou a
leitura e a meditação do capítulo seis do Evangelho de São João. Inicia com a
multiplicação milagrosa de cinco pães e dois peixes por Jesus gerando euforia
na multidão. Depois deste fato, Jesus se reencontra com a multidão na sinagoga
de Cafarnaum onde acontece um discurso, em forma de perguntas e respostas,
sobre os temas da fé, da eucaristia, do mistério da encarnação, da vida e da
vida eterna. Quanto mais avança o ensinamento mais aumenta a tensão e os
ouvintes são conduzidos fazerem a sua opção. O texto deste domingo (Josué
24,1-2.15-18, Salmo 33, Efésios 5,21-32 e João 6,60-69) relata a conclusão onde
uns abandonam o seguimento de Jesus e Pedro reafirma o seguimento.
O evangelista aponta que “muitos discípulos de Jesus que o
escutaram, disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” […] A
partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com
ele”. O que aconteceu com estes discípulos acontece em todos os períodos da
história. Em nossa forma de ver as coisas, poderíamos esperar que Jesus se
explicasse melhor, abrandasse ou mudasse o ensinamento para que estes
discípulos continuassem a caminhar com Ele. Em vez disso, se direciona aos doze
e diz: “Vós também vos quereis ir embora?”
Esta pergunta provocativa de Jesus é direcionada a todos os
ouvintes de todos os tempos e, hoje, diretamente a nós. Também hoje muitos
ficam “escandalizados” diante dos ensinamentos de Jesus que parecem “duros”
demais para serem aceitos e colocados em prática. As opções vão desde o
abandono total de Jesus; outros desvirtuam o valor dos ensinamentos e os
adaptam ao seu gosto. Jesus espera uma resposta pessoal de cada um, não aceita
uma opção superficial ou formal, mas deseja que o fiel participe do seu modo de
pensar, querer e agir.
“Vós também vos quereis ir embora?” A resposta de Pedro: “A
quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e
reconhecemos que tu és o Santo de Deus”, torna-se referência para todos os
cristãos de todos os tempos. A trajetória de vida de São Pedro testemunha a
opção fundamental feita por Jesus e todo bem que Pedro realizou movido pela fé
em Jesus Cristo.
Na vida de fé, como no cotidiano, existem momentos
decisivos. Situações onde precisamos tomar decisões fundamentais que
determinarão os passos seguintes da vida. Tomar decisões por vezes é dramático,
mas é necessário. Somos conduzidos a tomar decisões devido a nossa condição
humana de seres livres. Assim Jesus nos considera e nos conduz como seres
livres, que depois de mostrar as múltiplas opções, faz os ouvintes se
definirem. A liberdade está no coração da fé e da moral.
Josué, depois de introduzir o povo de Deus na nova terra,
provoca-o a se manifestar se quer continuar a servir o Senhor Deus que o
conduziu até ali. O mesmo fez Jesus depois de se dar a conhecer melhor. Não se
constrói uma verdadeira fé senão sobre uma plena educação à liberdade. Uma
liberdade não somente de qualquer coisa ou de alguém, isto é dos
condicionamentos externos e internos, mas também a liberdade para realizar algo
e sobretudo para alguém. A liberdade na Sagrada Escritura é uma questão de relacionamento:
certamente é ser livre de qualquer coisa, mas sobretudo é ser livre para
qualquer coisa e para alguém. Ser livre não é para a anarquia, mas é optar para
servir a Deus e aos irmãos, livres do pecado para servir a justiça, livre da
mentira para servir a verdade.
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