Os dez mandamentos
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
A maioria de nós já ouviu falar nos dez mandamentos da Lei
de Deus ou Decálogo. A Bíblia tem um nome para estes mandamentos; “As Dez
Palavras de Javé”(cf. 34,28;Dt 4,13 e 10,4) ou tábuas da Lei. Estes
mandamentos formam a base da aliança de Deus com o Povo reunido no monte Sinai.
O número dez não tem sentido ou valor simbólico, mas sim pedagógico, pois
permite decorar estes mandamentos contando-os pelos dedos das mãos. Nos
Evangelhos Jesus se refere a estes mandamentos e os apóstolos os indicam como
obrigatórios na nova ordem da salvação trazida por Jesus Cristo ( cf. Mt
19,17,Mc 10, 19; Lc 18,20; Rm 13,9, etc.).
O decálogo tem valor universal como síntese dos valores
religiosos e morais. Mas hoje na sociedade que vivemos, eles estão esquecidos.
Vale a pena recordar quais são estes dez mandamentos da lei de Deus: 1. Amar a
Deus sobre todas as coisas. 2. Não tomar seu santo nome em vão. 3.Descansar nos
domingos e festas. 4.Honrar pai e mãe. 5. Não matar. 6. Não cometer adultério.
7.Não roubar. 8.Não levantar falso testemunho. 9. Não desejar a mulher do
próximo. 10. Não cobiçar as coisas alheias.
Estes mandamentos são entregues a Moisés por um Deus que se
apresenta como libertador. Ele tirou o povo da escravidão do Egito. Se o povo
não quiser voltar a ser escravo, deve observar estes mandamentos. Eles são
expressão da vontade do próprio Deus. Mais do que preceitos éticos e morais,
estes mandamentos indicam a pertença ao povo de Deus. Quando o indivíduo
observa-os, ele está dentro do povo de Deus, ao não observá-los ele se coloca
fora, rompe com a aliança, com a comunhão com Deus e com a comunidade de
pertença.
Mas o que significam estes mandamentos em nossa época onde
predomina o relativismo, que pretende ser o homem não só capaz de pensar a
verdade, mas fazer sua própria verdade ou seja, cada um é lei para si mesmo e
para os outros. Então para que o Decálogo? Para nos fazer recuperar a inocência
original, na qual fomos criados por Deus e que perdemos pelo pecado. Pecado que
é construir uma sociedade com base no egoísmo e não no amor, o qual o ser
humano intui ser a lei maior que rege o universo, como escreve o poeta Dante na
sua “Divina Comédia”: “Amor que move o sol e as estrelas”.
No fundo do coração de cada ser humano está escrita a lei
natural, a lei do amor, a consciência do bem e do mal, consciência perdida pela
desagregação interna da pessoa. Porém ao entregar o Decálogo a Moisés, Deus
confirma a lei natural inscrita na consciência de cada ser humano, por mais que
ele tente negar que a vida plena está em fazer o bem e evitar o mal. No fundo
de sua consciência o homem descobre uma lei que ele não se impôs, mas que vem
de fora, é a voz da consciência, a voz de Deus.
Os dez mandamentos não são um jugo para maltratar o homem,
mas caminho de crescimento e libertação, eles possibilitam uma vida mais
humana, digna e honrada: “Minha lei será a vossa alegria e delícia”(Ez 36,24).
O que seria a humanidade sem leis justas que mostram e facilitam o caminho da
liberdade para todos? Os dez mandamentos são os marcos que indicam ao homem o
caminho para a verdade, liberdade e felicidade.
Aos poucos eles estão sendo relegados ao passado e
esquecidos. Portanto é bom lembrar o que escreveu G. K. Chesterton: “As
civilizações no seu apogeu declinam, porque esquecem as coisas
evidentes”.
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