Deus não suscitou para salvar a América um grande
pregador, mas sim uma mulher dotada de uma missão de caráter universal: Santa
Rosa de Lima.
Redação (22/08/2022 19:01, Gaudium Press) Quem
conhece a frase: “Cristo é a minha força, a Oração é meu baluarte, a Fé é meu
escudo” tem a tendência de julgar que ela seja o dito de um cavaleiro medieval,
o lema de um cruzado cheio de religiosidade ou ainda o testemunho de um
guerreiro destemido e temente a Deus.
E não há nenhum descabimento nesse julgamento. Porque esta
afirmação fogosa faz parte de uma das orações preferidas por uma pessoa que, na
realidade, foi uma lutadora na presença do Altíssimo, uma conquistadora de
almas para Deus, uma batalhadora mística “tomada pelo íntimo ardor causado pela
proximidade de Jesus Cristo”.
– Então, quem fez esta proclamação tão destemida?
Uma donzela! Donzela frágil, persistente, sofredora,
obediente, pura. Uma jovem que, desde pequena, teve grande pendor para a
oração, a meditação e o serviço junto aos mais necessitados. Uma jovem que,
ainda menina, viu seu nome mudado por causa de sua grande beleza, fragilidade e
meiguice. E quem foi ela?
Isabel,
que se tornou Rosa de Santa Maria…
Seu nome de batismo era Isabel Mariana de Jesus Paredes
Flores y Oliva….
Ela era descendente de conquistadores espanhóis, foi a
terceira dos onze filhos do próspero casal Gaspar de Flores, um espanhol que
prestava serviço ao Vice-Rei do Peru como arcabuzeiro, e de Maria de Oliva, uma
distinta senhora que vivia em Lima.
Isabel nasceu na Vila de Quives, na cidade de Lima, capital
do Peru, no dia 30 de abril do ano de 1586. Na casa de seus pais vivia uma
índia que se chamava Mariana. Como criada, ela ajudava Dona Maria de Oliva nos
serviços domésticos e era muito prestativa. Num dia em que toda a família
estava reunida, Mariana dirigiu-se a Isabel exclamando: “Você é bonita como uma
rosa!
A família inteira ouviu a afirmação e todos concordaram com
a fiel índia. Dai surgiu o apelido de “Rosa”. A extraordinária beleza de Isabel
motivou a mudança de seu nome. Sua mãe mesma, ao ver aquele rosto rosado e
belo, começou a chamar a filha de “Rosa”. De Isabel ela passou a ser chamada de
Rosa. E um dia a menina mesma mostrou como gostaria de ser chamada: Rosa de
Santa Maria. Bem mais tarde ainda, Isabel Mariana de Jesus Paredes Flores y
Oliva tornou-se conhecida no mundo todo pelo título que a Santa Igreja lhe deu:
Rosa de Lima, ou melhor, Santa Rosa de Lima!
“Dedique
a mim todo seu amor…”
Desde pequena Rosa teve grande tendência para a oração e a
meditação. Procurava ver na beleza das coisas criadas os reflexos da sabedoria,
da bondade de Deus. E bem cedo ela deu mostras de ser uma alma predestinada:
tornou-se grande devota de Nossa Senhora. A cada instante recorria à proteção
certa da Santa Virgem Mãe de Deus.
Rosa, cresceu tendo o piedoso costume de rezar diante de uma
imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus em seus braços. Certo dia, estando
absorta em suas orações, a jovenzinha ouviu uma voz que vinha da pequena imagem
de Jesus:
– “Rosa, dedique a mim todo o seu amor…”
Ela não duvidou: aquele apelo vinha de Deus. Ouvindo-o, ela
tomou a decisão de dedicar inteiramente a Nosso Senhor um amor excludente. Só a
Ele ela dedicaria seu amor, seu amor seria somente de Jesus. E assim foi até
fim de seus dias.
Sua grande beleza, aliada à boa formação recebida e à fama
de ser a moça mais virtuosa e prendada da cidade, levou jovens entre os mais
ricos e distintos cavaleiros de Lima e arredores a se interessarem por ela e
dela se aproximarem com o desejo legítimo e sincero de constituir uma família.
Ela, porém, já havia se comprometido com o Esposo das Virgens. Levava isso
muito a sério e encontrava sua felicidade nesse comprometimento. Por isso ela
costumava dizer que “o prazer e a felicidade que o mundo pode me oferecer são
simplesmente uma sombra em comparação com o que sinto”.
A fim de evitar qualquer volta atrás em sua decisão de
dedicar a Jesus todo seu amor, para que não fosse causa de tentação para
rapazes que a vissem e também para que ela mesma não fosse alvo de tentações
que a levassem a esquecer o pedido de Nosso Senhor, Rosa tomou uma decisão
radical: cortou seus longos e bem tratados cabelos e passou a cobrir seu belo
rosto com um véu.
Pobre e
sem revolta
A família de Rosa tinha bons recursos econômicos. Apesar
disso, o pai necessitava trabalhar, inclusive prestando serviços ao Vice-Rei, a
fim de manter sua posição econômica e social.
Devido ao insucesso ocorrido numa empresa de mineração em
que Gaspar de Flores estava empenhado, sua situação financeira comprometeu-se a
tal ponto que a família ficou pobre, chegando à beira da miséria. Por isso,
Rosa cresceu na pobreza e, ainda na adolescência, teve que trabalhar duramente
para ajudar a família.
Ela trabalhou como doméstica e, além disso, durante o dia,
trabalhava no campo como lavradora e até altas horas da noite costurava,
bordava, fazia rendas e brocardos para assim poder ajudar no sustento da casa.
Rosa nunca deixava de fazer suas orações por causa dos
trabalhos que tinha que exercer. Ainda encontrava tempo para visitar
frequentemente os pobres e enfermos. Rosa nunca deixava de fazer suas orações
por causa dos trabalhos que tinha que exercer. Ainda encontrava tempo para
visitar frequentemente os pobres e enfermos.
É por isso mesmo que dela se afirma ser alegre e ter sabido
executar a harpa de forma graciosa e ainda cantar belas canções com uma voz
doce e melodiosa.
Milagres,
sofrimentos e espírito missionário
Aqueles que com ela conviveram ou escreveram sua biografia
afirmam que, ainda em vida, era grande intercessora junto a Deus e por sua
mediação foram atribuídos acontecimentos e fatos prodigiosos. Entre aqueles que
atestam sua poderosa intercessão ainda em vida, encontramos Frei Juan de
Lorenzana que, além de ter convivido com Rosa, foi confessor da Santa. Ela
tinha dons e carismas especiais, afirma.
A ela são atribuídos milagres de curas, de conversões, de
propiciações de chuvas e amenizações do clima. Todos eles são unanimes em
admitir que suas orações foram que impediram que Lima fosse invadida por
piratas holandeses em 1615.
Apesar de ter sido agraciada com experiencias místicas
incomuns e com o dom dos milagres, nunca lhe faltou as dificuldades na vida. Em
toda sua vida, a cruz foi sua companheira inseparável. Ela aproveitou-se de sua
vida crucificada para, de certo modo, compartilhar com os sofrimentos do Divino
Salvador. Eram sofrimentos provindos, muitas vezes de incompreensões gratuitas
e perseguições descabidas, sem falar de sofrimentos físicos, das agudas dores
causadas por uma prolongada doença que a acompanhou até o final de seus dias.
Seus sofrimentos pareciam inexplicáveis. E ela tentava
mostrar seus sentimentos e não sabia como: “Posso explicá-los só com o
silêncio” e admitia: “eu não acreditava que uma criatura pudesse ser acometida
de tão grandes sofrimentos”. Finalmente, as atitudes que tomava demonstravam
que, por amor a Deus, ela tinha uma aceitação plena de tudo que lhe era
oferecido pela Providencia Divina: -“Meu Deus, podes aumentar os sofrimentos,
contanto que aumentes meu amor por ti”, dizia ela, enquanto rezava.
Rosa era particularmente devota de Nossa Senhora e pedia
insistentemente à Santa Mãe de Deus pelo crescimento da Igreja, sobretudo entre
os indígenas americanos. Era tão grande seu amor apostólico pelos índios que em
certa ocasião afirmou que, se não fosse mulher, seria um missionário entre
esses seres que também foram redimidos pelo sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Como missionário, ela acreditava poder dedicar-se inteiramente à
salvação de todos eles, poderia fazer por eles ainda mais do que já fazia.
Uma
borboleta nas cores branca e preta
Tendo idade para casar-se, ela preferiu fazer voto
particular de castidade. Isso, depois de lutar contra o desejo contrário de
seus pais. Quis então, para satisfazer um desejo de sua alma, ingressar no
convento de uma ordem religiosa para viver uma vida consagrada a Deus.
Escolheu, então, a ordem em que gostaria de entrar. No dia de sua admissão,
estando rezando diante de uma imagem de Nossa Senhora, sentiu que não conseguia
levantar-se de onde estava, nem mesmo com a ajuda de seus irmãos. Nesse instante
Rosa percebeu que aquilo só poderia tratar-se de um aviso dos céus: que ela não
se dirigisse para aquele convento que estava prestes a ingressar.
Foi, então, que ela fez uma prece a Nossa Senhora na qual
submetia-se inteiramente à vontade divina. Ela iria para onde fosse da vontade
de Deus. Isto foi suficiente para que a paralisia desaparecesse por completo e,
imediatamente, ela recuperasse os movimentos, levantando-se e caminhando sem
precisar do auxilia dos irmãos. A partir deste dia, Rosa, que se espelhava em
Santa Catarina de Sena como modelo de vida a ser seguido, passou a pedir
diariamente que, por intercessão da Santa, Nosso Senhor lhe indicasse em que
ordem religiosa deveria ingressar.
Todos os dias, enquanto rezava, ela percebeu que, assim que
iniciava suas orações, aparecia uma pequena borboleta que tinha as cores branca
e preta. Sem perturbar o recolhimento e a compenetração de Rosa, o pequeno
animal voava de um lado para o outro, enquanto ela estivesse em oração.
Para Rosa, isso era outro sinal de Deus. E foi suficiente
para a jovem entender onde serviria melhor a Deus e aos irmãos: ela deveria
ingressar na Ordem Terceira da Congregação de São Domingos, cujas vestimentas
eram nas cores preto e o branco. As cores da pequena borboleta que a visitava
diariamente eram as mesmas do hábito de Santa Catarina de Sena, a santa pela
qual tinha tanta devoção e a quem deseja tanto imitar. Em 1606, aos vinte anos,
ingressou na Ordem Terceira Dominicana.
Pediu licença para emitir os votos religiosos em casa e não
no convento. Sendo aceito seu pedido, ela fez os votos, passando, então, a
pertencer oficialmente à Ordem de São Domingos. E ela escolheu também seu nome
de religiosa que passou a ser oficialmente Rosa: Rosa de Santa Maria.
No jardim e quintal da casa de seus pais, edificou um
eremitério. Construiu para si uma pequena e estreita cela e passou a levar uma
vida religiosa de austeridade, de mortificação e de abandono à vontade de Deus.
Praticava a penitencia e castigava seu corpo com jejuns constantes consumindo o
mínimo necessário de alimentos para sua sobrevivência. Quase não bebia água.
Sua cama era um tábua coberta com um saco de estopa.
Na simplicidade de vida de leiga que levava, foi modelo de
vida de penitencia, de pureza ilibada, de oração perseverante e do contínuo
serviço espiritual e material aos irmãos. Portava cilícios dolorosos e conta-se
que utilizava muitas vezes um aro de prata semelhante a uma coroa de espinhos.
Numa época em que isso não era comum, Rosa comungava diariamente. Ela conseguiu
eliminar de sua vida todo orgulho, amor próprio e vaidade, tendo sido cumpridas
nela as palavras de Cristo: “Quem se humilha será exaltado”. Meditava com
frequência e ao olhar para o crucifixo dizia:
– “Senhor, Vossa cruz é muito mais cruel que a minha”.
Dentro da vida austera, pobre e alegre que levava, seu
coração voava. E em seus voos contemplativos ela admirava a beleza das coisas
criadas à imagem e semelhança do Criador e a Ele prestava louvor, honra e
glória. Um verso de sua autoria e que ela costumava repetir em forma de oração
mostra como era sua alma e em que cogitações vivia:
– Meu querido Senhor, quanto é bom ver nas flores, e no
verde sombrio da copada oliveira, toda vossa beleza. Como é doce saber que
abençoar-me quereis, e meu coração de alegrias encher!
De fato, dentro e sua vida simples e de abandono à vontade
de Deus, alcançou um alto grau de vida contemplativa e de experiência mística.
Compreendeu em profundidade o mistério da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Suas orações e penitências conseguiram converter muitos pecadores. Rosa
de Santa Maria foi extremamente bondosa e caridosa para com todos,
especialmente para com os índios e negros, aos quais prestava os serviços mais
humildes em caso de doença. Frequentemente visitava os enfermos e os pobres.
Núpcias
eternas e canonização
Todos os anos, na festa de São Bartolomeu, Rosa passava o
dia inteiro em oração. Quando lhe perguntavam por que aquela data a deixava tão
contemplativa, mais orante e mais posta nas mãos de Deus, ela dava uma resposta
que seus ouvintes não chegavam a compreender bem:
– “É porque este é o dia das minhas núpcias eternas”, dizia.
A cada 24 de agosto o fato se repetia. E os que a cercavam
continuavam sem entender. Isso aconteceu até o ano de 1617. Rosa vinha
suportando uma grave enfermidade que insistia em não abandoná-la. No dia de São
Bartolomeu desse ano, ela morreu. Tinha apenas 31 anos. Como ela havia
anunciado, aconteceu o que ela já previra: o dia 24 e agosto seria o dia de seu
encontro eterno com Deus, seria o dia de suas “núpcias eternas” com Nosso
Senhor Jesus Cristo! Suas últimas palavras foram:
– Jesus está comigo!
O Peru inteiro chorou sua morte. Seu sepultamento foi
apoteótico. Seu túmulo, os locais onde viveu e trabalhou pela Igreja bem cedo
tornaram-se locais de peregrinações. Muitos milagres começaram a acontecer. A
beatificação de Rosa de Santa Maria deu-se no ano de 1667, logo no primeiro ano
do pontificado do Papa Clemente IX.
A concretização de sua canonização demorou um pouco mais
para acontecer. O Papa Clemente X relutava em elevá-la à glória dos altares.
Mas o Papa convenceu-se de que deveria canonizá-la depois que presenciou uma
milagrosa chuva de pétalas de rosas que caiu sobre ele e que todos atribuíram à
ação da Beata Rosa de Santa Maria.
Clemente X a canonizou em 12 de abril de 1671. Rosa, a
menina que um dia foi crismada por São Turíbio de Mongrovejo, passou a ser
conhecida no mundo católico como Santa Rosa de Lima. Era a primeira mulher da
América a receber essa honra tão excelsa. Santa Rosa de Lima é a
padroeira da América Latina e das Filipinas.
Fontes:
– (*) Joseph, Card. Ratzinger
– www.santarosadelima-rj.com.br/historia.htm (Acessado em 18/8/2011)
– www.santarosadelima-rj.com.br/historia.htm (Acessado em 18/8/2011)
–
http://storico.radiovaticana.org/bra/storico/2010-08/417273_santa_rosa_de_lima_padroeira_da_america_latina.html
(Acessado em 18/8/2011)
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