Raimundo nasceu na cidade de Portell, na região da
Catalunha, Espanha, no ano de 1204, de família nobre mas sem grande
fortuna. Sua mãe faleceu durante o trabalho de parto, e por isso ele
foi chamado “Nonato”, isto é, “não-nascido”, já que foi retirado do
corpo falecido da mãe. Possuía inteligência privilegiada, tendo facilidade nos
estudos primários, e já adolescente descobriu sua vocação para a vida
religiosa.
O pai não aprovava esta ideia, e o colocou para trabalhar
num pedaço de terra da família, de modo a que ele desenvolvesse outros
gostos. Mas no ambiente propício da solidão e silêncio do contato com a
natureza, Raimundo se dedicava à oração e contemplação nas horas de
descanso, sedimentando seu discernimento de entrar para a Ordem de Nossa
Senhora das Mercês, fundada pelo futuro São Pedro Nolasco, seu amigo.
O carisma da Ordem era voltado para a libertação dos cristãos
escravizados pelos mouros muçulmanos.
Obtida, com dificuldade, a permissão paterna, Raimundo
ingressou na Ordem em 1224, e nela foi ordenado sacerdote. Missionário, foi
para a Argélia, no norte da África, conseguindo libertar e devolver às famílias
150 cristãos.
Voltou para a Europa com o encargo de conseguir do Papa a
aprovação da Regra da sua Ordem, e depois tornou à Argélia. Como os
recursos para os resgates escasseassem, ofereceu-se ele mesmo para ficar no
lugar dos presos, e por mais de um ano sofreu no cárcere torturas e
humilhações.
Como continuasse a evangelizar, evitando a apostasia de
muitos dos companheiros, reconvertendo apóstatas e até convertendo
alguns muçulmanos, os mouros o condenaram a ter a boca perfurada para a fixação
de cadeados, de modo a que ele não pudesse mais falar. Como consequência,
seu testemunho silencioso de fé, confiança, paz e oração converteu outros mais.
Por fim, liberto, voltou para a Catalunha em 1239, mas com a
saúde abalada. O Papa Gregório IX, informado das suas obras apostólicas
na Argélia, tornou-o cardeal e seu conselheiro em Roma, o que não agradou à sua
humildade, mas o que aceitou por obediência. Raimundo preparou-se o melhor
que pôde para a viagem, mas com a saúde precária foi atingido por uma febre
fortíssima e, em Cardona, próximo a Barcelona, faleceu em 31 de agosto
de 1240, com 36 anos. O seu túmulo passou a ser um centro de
peregrinação por causa dos inúmeros milagres aí obtidos.
São Raimundo Nonato é padroeiro dos nascituros, das
gestantes na hora do parto, das parteiras e dos obstetras.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A natividade incomum de São Raimundo foi uma prefiguração do
seu verdadeiro nascimento no Batismo, o qual nos faz realmente nascer da morte
do pecado para a vida em Cristo. Esta vida tem que ser mantida, e sempre de
novo gerada entre os que não O conhecem, ou resgatada naqueles que se deixaram
prender no cárcere do mundanismo. Para isso, os recursos de Deus jamais
escasseiam, e por isso sempre será possível encerrar as torturas da apostasia,
e a humilhação de quem não quis obter para si mesmo a aprovação das regras da
ordem divina. Os meios de que Deus dispõe para o nosso bem são infinitos, e
mesmo as mais bárbaras oposições às obras de caridade não as podem impedir. Não
se pode calar a boca de Deus, que sempre terá os meios adequados para a
salvação, individual, de todos os homens de boa vontade. De fato, o apostolado
é sempre algo pessoal, pois não são “massas” de homens que o Criador fez, mas
sim gerou particularmente a cada filho Seu, cuidando de cada um como se fosse o
único. E portanto para cada um há um caminho próprio de salvação, pelo qual
Deus age naquela alma. A evangelização é divinamente criativa, e, como sugere
nesse sentido uma frase usualmente atribuída a São Francisco de Assis, “é
preciso evangelizar sempre, até com palavras”. (Talvez ele não tivesse
formulado a ideia exatamente nesta forma, mas uma versão da sua regra
explicita, por um lado, a proibição dos frades de pregarem sem consentimento,
mas que “No entanto, todos os irmãos podem pregar pelas obras” (RegNB 17.1 e
3). Oferecer-se de algum modo para devolver à família de Deus, isto é, a
Igreja, os que dela estão afastados, é um direito e um dever oriundos do mesmo
Batismo que nos salva. Esta é a vida do cristão, faz parte do exercício da sua
caridade. E há muitos, muitos, muitos os que dela necessitam. A começar,
sempre, por nós mesmos, na confissão frequente.
Oração:
Senhor Deus infinitamente bom e misericordioso, que nos
libertais da morte infinita pela obra da Redenção, concedei-nos por intercessão
de São Raimundo Nonato a graça de abrirmos os cadeados do coração de modo a
que, depois de receber-Vos nos Sacramentos, podermos dar à luz Cristo para os
irmãos, na pregação e nas boas obras, e viajarmos para a morte neste mundo
obedecendo ao chamado superior da Ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e
Nossa Senhora. Amém.
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