A missão de Jesus
na Galiléia segundo Santo Ambrósio de Milão
Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
O Evangelista São Lucas colocou a missão de Jesus, na
Galiléia, após vencer as tentações do Diabo, no deserto, referentes ao ter,
poder e prazer, como ponto fundamental de sua vinda neste mundo em vista da
salvação da humanidade. Jesus estava cheio da força do Espírito de modo que
iniciou a sua missão na Galiléia, que o levaria até Jerusalém, pela paixão,
morte e ressurreição. Aquele povo viu uma grande luz, como já o relatou o
profeta Isaias (cf. Is 8,23), sendo Jesus Cristo a grande luz que “ilumina todo
o ser humano que vem a este mundo” (cf. Jo 1,9). A seguir nós veremos a
descrição elaborada por Santo Ambrósio na colocação da missão de Jesus a partir
da Galiléia (1).
A palavra
de Jesus nos profetas
Seguindo o evangelho de Lucas tem presente que Jesus foi
para a sinagoga de Nazaré, sua terra natal no sábado e logo lhe deram o livro
do profeta Isaias. Santo Ambrósio colocou a presença do Senhor na vida dos
profetas e nas profecias. Foi Ele quem falou nos profetas para afirmar a
unidade do Antigo Testamento com o Novo Testamento e que o Espírito do Senhor
estava sobre Ele (cf. Lc 4,17) (2) .
A
presença da Trindade santa
Na passagem do livro do profeta Isaias que fala da presença
do Espírito Santo, (cf. Is 61,1s) santo Ambrósio viu também a Trindade
Co-eterna e perfeita. Jesus é Deus e homem, perfeito em ambas as naturezas com
a presença do Pai e do Espírito Santo, sendo este cooperador, quando em forma
corporal, ao modo de pomba, desceu sobre Cristo no momento que em que o Filho
de Deus era batizado no rio, e o Pai falava do alto do céu (cf. Lc 3,21-23) (3).
O texto
de Isaias
Jesus tomou o livro de Isaias na qual disse que Ele foi
ungido com o óleo espiritual e com o celeste poder, a fim de regar a pobreza da
humana condição com o tesouro eterno da ressurreição, afastar as pessoas do
cativeiro, iluminar as cegueiras das almas, pregar o ano do Senhor que se
estenderá pela perpetuidade dos tempos (cf. Lc 4, 18-19) (4). Jesus assumiu
este programa de vida, para libertar as pessoas de suas escravidões, dando-lhes
vida, paz e amor.
A recusa
do seu povo
O povo tinha os olhos fixos nele, admirado pelas palavras
cheias de encanto que saiam de sua boca. Em seguida este povo se fechou à
presença do Senhor, na qual ele disse que nenhum profeta é bem aceito em sua
pátria (cf. Lc 4,24). Para o bispo de Milão a inveja daquelas pessoas falou
mais alto que a caridade. O Senhor não foi acolhido pelo povo de sua terra
natal, sendo desprezado por pessoas invejosas que não viam nele a manifestação
da divindade, da presença de Deus em sua vida, porque eles permaneceram na
realidade visível, humana (5).
Não
realização de milagres
Diante da incredulidade daquelas pessoas em Nazaré, sua
terra, Jesus não realizou milagre algum em sua pátria, não pelo fato de que foi
indiferente ao afeto de sua pátria, mas pela sua incredulidade, porque Jesus
amava os seus concidadãos. No entanto, segundo Santo Ambrósio, foram estes que
abdicaram da caridade à pátria por assumirem uma atitude invejosa, uma vez que
a caridade não tem inveja e também não é orgulhosa (cf. 1 Cor 13,4) (6). O fato
de que Jesus cresceu naquela pátria, não seria o maior milagre? No entanto a
inveja daquelas pessoas não deu uma atitude de acolhida e de amor a Jesus (7).
Os
exemplos da viúva de Sarepta e do sírio Naamã
O bispo de Milão teve presentes os casos da viúva de
Sarepta, na Sidônia onde Elias prestou uma grande ajuda pela sua confiança em
Deus enquanto as outras pessoas manifestaram-se incrédulas, não se convertendo
ao Senhor (cf. Lc 4,25). Igualmente haviam muitos leprosos em Israel no tempo
do profeta Eliseu mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã (cf. Lc 4,27)(8).
O Senhor quis dizer, segundo Santo Ambrósio, que nenhuma pessoa é curada ou
libertada da doença que lhe macula o corpo senão se empenha em busca da saúde
com uma religiosa submissão, porque os benefícios divinos não se concedem aos
que dormem, mas eles são dados aos observantes do mandamento da lei de Deus (9).
O fato é que o profeta Eliseu não fez curas de leprosos ao povo de Israel pelas
suas incredulidades. O benefício divino supera a nacionalidade das pessoas
porque é dado para aqueles e aquelas que manifestam a bondade no Senhor, a
confiança na cura pela medicina, o amor de Deus dado às pessoas nas quais os
dons divinos são concedidos (10).
A revolta
das pessoas de Nazaré
Diante daquelas palavras e ações, os nazarenos levantaram-se
contra Jesus e lançaram-no fora da cidade (cf. Lc 4,28-29). A sua missão passou
pelo sofrimento naquele momento, mas ela será dada em Jerusalém. Enquanto Jesus
distribuiu benefícios divinos entre os povos, em outras comunidades, as pessoas
de casa, em Nazaré, infligiram-lhe injúrias. Sendo o verdadeiro Mestre, com o
exemplo de vida, ensinou aos seus discípulos e a todas as pessoas que o seguem
como fazer-se tudo para todos, não rejeitou aqueles que o queriam acolhê-lo,
nem constrangiu os que não o almejavam, não resistiu aos que o lançaram fora,
nem faltou aos que o invocavam . Desta forma Jesus abandonou os nazarenos, como
gente fraca e ingrata, segundo o bispo de Milão, por não poderem suportar os
seus milagres, por não verem nele o Filho de Deus na carne .
A missão de Jesus na Galiléia foi o início de sua grande
caminhada que o levará até Jerusalém na qual ele doará a sua vida pela salvação
humana. Santo Ambrósio teve presentes estes pontos nas quais viu Jesus como
Redentor, o Salvador do gênero humano.
_____________
1 Cfr. Santo Ambrósio. Comentário ao Evangelho de São Lucas.
Tradução de Luciano Rouanet Bastos. São
Paulo: Paulus, 2022, pg. 220.
2 Cfr. Idem, pg. 220.
3 Cfr. Ibidem, pg. 220-221.
4 Cfr. Ibidem, pg. 221.
5 Cfr. Ibidem, pg. 221
6 Cfr. Ibidem, pg. 222.
7 Cfr. Ibidem, pg. 222.
8 Cfr. Ibidem, pg. 222.
9 Cfr. Ibidem, pg. 223.
10 Cfr. Ibidem, pg. 223.
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