O lançamento oficial do Programa "Não Temas,
Maria!", uma iniciativa arquidiocesana de acolhimento às mulheres vítimas
de violência e de conscientização da sociedade sobre a importância do combate à
violência contra a mulher, foi realizado na noite do último sábado (31/08), no
Teatro Pedro Calmon, no Setor Militar Urbano.
03 de setembro de 2024
Na ocasião, o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar
Costa, realizou o lançamento do Programa “Não temas, Maria!”, destacando que
esta iniciativa arquidiocesana de auxílio às mulheres deseja apresentar a
grandeza da dignidade da mulher, fundada no mistério pascal de Cristo, através
de formações e ações concretas que possam conscientizar e prevenir todos os
tipos de violência.
“Desejo que as nossas paróquias se tornem lugares de
dignificação e de proteção. Nós queremos que a mulher que sofre violência e que
se sente desprotegida, encontre na comunidade Católica um lugar onde possa
desabafar, onde ela seja primeiramente acolhida. Quando uma pessoa sofre,
primeiro precisa ser acolhida. Na comunidade terá um grupo que reflita sobre
essa questão e que estará preparado para trabalhar com a dignificação da
mulher. Então, a partir do momento em que a mulher abrir seu coração, falar daquilo
que ela está vivendo, a situação será avaliada para identificar qual será o
melhor encaminhamento para ajudar essa mulher, seja na questão jurídica ou em
outra, mas que não deixe essa mulher desprotegida. No ano de 2024, onde as
capacidades são tantas, mas onde as atrocidades continuam ainda de uma forma,
às vezes, até bruta e onde os absurdos continuam a acontecer, nós precisamos
mostrar a beleza da nossa fé, pois a fé Católica é de proteção, de salvação”,
frisou o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa.
O painel do evento contou também com a presença do padre
Thaisson Santarém, da Dra. Lenise Garcia, da Dra. Tânia Manzur e da Giselle
Ferreira, Secretária da Mulher. Acompanhados pelo Cardeal, os convidados
refletiram sobre a proposta do programa inspirado no versículo do Evangelho de
Jesus Cristo segundo São Lucas (1,30), salientando que é preciso dizer para
muitas mulheres da sociedade que não estão sozinhas, ressaltando a frase do
anjo Gabriel na Anunciação: Não temas, Maria!
“A logo do programa é a expressão do acolhimento e da
proteção que são oferecidos pela Igreja Católica, por isso, temos como
referência a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. A rosa vermelha
simboliza as mulheres que precisam ser acolhidas e ressalta a voz da Igreja
dizendo para as muitas Marias da nossa cidade, da nossa Arquidiocese, dizendo:
Não temas, porque a Igreja Católica está aqui para acolher, para proteger. A
rosa tem um rosto, é o rosto da mulher que precisa ser protegida, mas também o
rosto da mulher mais importante de todas, Nossa Senhora, porque é através do
cuidado maternal de Nossa Senhora que a Igreja também vai zelar e cuidar de
cada uma dessas mulheres. Percebam que a rosa está entrelaçada na cruz, ou
seja, a raiz da divindade verdadeira, seja de Nossa Senhora, seja de cada
mulher, está no Mistério de Cristo. Na entrega total de amor Dele por cada um
de nós. A Catedral forma um M, exatamente um sinal de Maria, como um modelo
para cada mulher, um modelo de santidade a ser alcançado, mas também temos a
rosa como um símbolo da Padroeira da nossa Pátria, Nossa Senhora Aparecida, e
como Co-padroeira Santa Rita de Cássia. Quem tem devoção a Santa Rita, sabe que
a rosa é uma figura importante devido a um milagre que Deus realizou através da
intercessão dela, quando uma rosa brotou no meio do inverno, no meio da neve,
como sinal da providência de Deus. A Santa das causas impossíveis que tanto
sofreu, assim como muitas mulheres atualmente, a situação de violência
doméstica, mas ainda assim se santificou e viveu a vontade de Deus, pois não se
vingou, mas sempre rezava pelo marido agressivo e pelos filhos para que eles
não se tornassem como o pai. Por isso, nós vamos incentivar esta devoção a
intercessão de Santa Rita. A logo do programa de forma muito especial quer
mostrar que a Igreja Católica acolhe e protege, sendo um local de consolação e
refúgio”, explicou padre Thaisson Santarém, Assessor Eclesiástico do Programa
“Não Temas, Maria!”
A partir de estatísticas alarmantes divulgadas pelos órgãos
públicos em relação ao número elevado de casos de violência contra as mulheres
no Distrito Federal, que culminaram no alto índice de feminicídio em 2023, a
Arquidiocese de Brasília formulou este programa e conta com a parceria da
Secretaria da Mulher, da Rádio Nova Aliança e da Rede Canção Nova.
“Primeiro, a gente tem que entender a seriedade desse
assunto. Como é que a gente pode lutar contra a violência em um país que é a
quinta maior nação do mundo que mais mata mulheres? As pesquisas revelam que a
cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. Três em cada dez
brasileiras já enfrentaram violência doméstica. A cada seis minutos, uma menina
ou uma mulher sofre violência sexual. Em 2022, 17 mulheres foram vítimas de
feminicídio no Distrito Federal. Em 2023, foram 34. Quero salientar que a Casa
da Mulher Brasileira funciona 24 horas, na Ceilândia. A mulher que não tem para
onde ir e está sofrendo algum tipo de violência, ela pode ficar no alojamento,
que inclusive tem um espaço para criança. É muito mais do que violência
doméstica, porque às vezes a mulher quer sair da vulnerabilidade, da situação
de violência, mas ela muitas vezes pensa no filho, pensa na situação econômica.
Então, no lar também temos a questão de formação e qualificação. Esse é o
equipamento público voltado para esse tipo de acolhimento, de atendimento
psicossocial e jurídico. Então, essa é a casa mais completa e nós vamos
entregar mais quatro casas, duas na Região Norte e duas na Região Sul”,
informou Giselle Ferreira, Secretária da Mulher.
Durante o evento, Dra. Tânia Manzur fez uma importante
reflexão sobre a igualdade e dignidade da mulher e do homem. “Assim está no
Gênesis, homem e mulher os criou à sua imagem e semelhança. Então, o que tem de
fundamental é que existe uma igualdade ontológica, aquela igualdade para o mais
profundo do ser. Ser, que é o fato de sermos então essas criaturas amadas por
Deus, criadas à sua imagem e semelhança. Mas a partir daí tudo é diferente, né?
Homem e mulher os criou, então a diferença também já está estabelecida lá no
início. No entanto, o pecado acaba fazendo com que, na percepção da diferença,
muitas vezes se criem, ao longo da história, antagonismos, às vezes confrontos.
E, na verdade, o que deve haver, que a nossa Igreja Católica nos ensina, pois
se fundamenta na mensagem de Cristo, é que nas diferenças, nós somos
complementares”.
Finalizando o painel, Dra. Lenise Garcia destacou a
importância da formação na base familiar, onde reine o respeito, o amor e a
união, para que se possa criar uma nova geração de filhos que não reproduzam a
violência sofrida dentro de casa.
“É preciso que a gente possa, efetivamente, valorizar vínculos de amor. Que o
marido e a mulher saibam estabelecer vínculos de amor entre si e com os filhos,
para que a criança nasça em um ambiente acolhedor. Muitas vezes a gente vê, por
exemplo, que a própria violência é fruto de agressões sofridas na infância.
Aquela pessoa que hoje é violenta, ela sofreu violência quando era criança,
fazendo com que também essa violência vá sendo repetida. Por isso, a grande
necessidade da formação. Homem e mulher nunca foram opostos, a gente tem
exatamente essa complementariedade, e essa é a mentalidade que precisa ser
desenvolvida. Não se pode resolver uma violência com outros tipos de violência.
O próprio agressor precisa de conversão, de conscientização, é claro, também
vai pagar juridicamente pelos crimes cometidos, e aí temos toda a questão
também dos instrumentos públicos, mas antes de mais nada, é preciso olhar
dentro da família, onde há a necessidade de ser desenvolvida a base em relações
de amor. Cristo nos ensina que devemos ter uma relação de amor a todo tempo. Se
nós aprendermos isso, já teremos dado grandes passos para superarmos a situação
de violência, que muitas vezes se apresentam com falsas opções”, finalizou.
Encerrando a noite de lançamento, o teatro foi palco para
uma belíssima apresentação musical “Elas cantam Maria”, com as cantoras
Michelle Abrantes, Gabriela Carvalho, Huanda Silva, Lilian Ingrid e Marília de
Alexandria (pianista).
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