As primeiras comunidades cristãs
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
No tempo dos apóstolos e das primeiras pregações do
cristianismo, a civilização urbana se expandia pela bacia do mar Mediterrâneo e
as cidades promoviam uma revolução social e cultural. Paulo funda, então,
comunidades nas cidades mais importantes do Império. Isso implicava entrar na
nova organização social que emergia e modificar o estilo predominantemente
rural de ser comunidade; modelo típico na Palestina. Assim, crescia uma rede de
comunidades cristãs urbanas. Enquanto as comunidades do cristianismo palestinense
eram profundamente itinerantes, a proposta de Paulo passa a um cristianismo que
se fixa nos locais.
São Paulo usa a expressão Igreja Doméstica (Domus
Ecclesiae), indicando que as comunidades se reuniam na casa dos cristãos.
As comunidades cristãs de Jerusalém, Antioquia, Roma, Corinto, Éfeso, entre
outras, são comunidades formadas por Igrejas Domésticas: as casas serviam de
local de acolhida dos fiéis que ouviam a Palavra, repartiam o pão e viviam a
caridade que Jesus ensinou. Paulo faz da casa a estrutura fundamental das
igrejas por ele fundadas.
A Igreja do Novo Testamento será denominada como assembleia
convocada por Deus. O conceito Igreja indicava a comunidade
reunida para a liturgia, para ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Ceia
(cf. 1Cor 11, 18); era empregado também para “comunidade
doméstica”, isto é, os cristãos que se reuniam nas casas para celebrar a
liturgia (cf. Rm 16, 5); expressava, igualmente, a comunidade
local de todos os cristãos que viviam numa determinada cidade (cf. At 11,
22); enfim, designava a comunidade inteira dos cristãos, onde quer que
residissem (cf. At 9, 31).
A comunidade de Jerusalém se denomina ekklesia de
Deus (cf. 1 Cor 15,9). Ekklesia, no grego,
significa reunião pública, que pode ter o seu equivalente no Antigo Testamento
com o termo Kahal, designando a reunião do povo da antiga
aliança.
A comunidade cristã primitiva compreende-se como o povo
eleito de Deus, o verdadeiro Israel. Contudo, há uma diferença, a eleição não
se reduz aos judeus, pois se estende a todos que creem no Cristo. Também os
pagãos são chamados a essa Igreja.
A comunidade cristã foi marcada por manifestações poderosas
do Espírito Santo. Estas aprofundavam o sentido dos cristãos se compreenderem
como o novo povo de Deus. Ocorreram fenômenos como curas, profecias e visões.
Eram dons do Espírito Santo que comprovavam as palavras dos apóstolos e
discípulos de Jesus.
A comunidade primitiva é marcada pela experiência da
presença viva do Espírito Santo, pois o Reino de Deus se revela na palavra e
nas obras. Ele atinge o ser humano integralmente: o homem todo, mas não de
forma individual, mas em vista do bem comum.
A igreja primitiva anunciava Jesus Cristo com palavras e
obras que revelavam a salvação já operante na história. Assim, a salvação já
está presente mesmo que sua plenificação não tenha chegado.
O Novo Testamento, assim, permite identificar os cristãos
como peregrinos e, ao mesmo tempo, os seguidores do Caminho (cf. At 16,17).
Afinal, a Igreja, comunidade de fiéis, é integrada por estrangeiros (Ef 2,19),
pelos que estão de passagem (1Pd 1,7), ou, ainda,
pelos imigrantes (1Pd 2,11), ou peregrinos (Hb 11,13).
Sempre indicando que o cristão não está em sua pátria definitiva (cf. Hb 13,14),
que deve se comportar como quem se encontra fora da pátria (cf. 1Pd 1,17).
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