Celular causa câncer no cérebro?
- Author:
Sarah Loughran* e Ken Karipidis*
- Role:
The Conversation*
- 5
setembro 2024
Uma revisão sistemática sobre os possíveis efeitos à saúde decorrentes
da exposição às ondas de rádio mostrou que os telefones celulares não
estão relacionados ao câncer no
cérebro.
A análise, encomendada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), foi publicada nesta semana na revista científica Environment
International.
Os celulares geralmente são segurados junto à cabeça durante
o uso. E eles emitem ondas de rádio, um tipo de radiação não ionizante. Estes
dois fatores são, em grande parte, o motivo pelo qual surgiu a ideia de que os
celulares poderiam causar câncer no cérebro.
A possibilidade de que os celulares possam causar câncer é
uma preocupação de longa data. Os celulares — e a tecnologia wireless (sem
fio) de forma mais ampla — são uma parte importante das nossas vidas
cotidianas. Por isso, é fundamental que a ciência avalie
a segurança da exposição às ondas de rádio destes dispositivos.
Ao longo dos anos, o consenso científico permaneceu forte —
não há associação entre as ondas de rádio dos celulares e o câncer no cérebro,
ou a saúde de forma mais ampla.
Radiação
como possível carcinógeno
Apesar do consenso, foram publicados estudos de pesquisa
ocasionais que sugeriram a possibilidade de fazer mal.
Em 2011, a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer
(IARC, na sigla em inglês) classificou a exposição a ondas de rádio como um
possível carcinógeno para seres humanos. O significado desta classificação foi
amplamente mal interpretado — e levou a um aumento na preocupação.
A IARC faz parte da Organização Mundial da Saúde. E sua
classificação das ondas de rádio como um possível carcinógeno foi baseada, em
grande parte, em evidências limitadas de estudos observacionais com seres
humanos. Também conhecidos como estudos epidemiológicos, eles observam a taxa
de doenças, e como elas podem ser causadas em populações humanas.
Estudos observacionais são a melhor ferramenta que os
pesquisadores têm para investigar efeitos de longo prazo na saúde dos seres
humanos, mas os resultados podem ser, com frequência, tendenciosos.
A classificação da IARC se baseou em estudos observacionais
anteriores, em que pessoas com câncer no cérebro relataram que usavam o celular
mais do que realmente usavam. Um exemplo é o estudo conhecido
como Interphone.
Esta nova revisão sistemática de estudos observacionais em
seres humanos é baseada em um conjunto de dados muito maior em comparação com o
que a IARC analisou em 2011.
Ela inclui estudos mais recentes e mais abrangentes. Isso
significa que agora podemos ter mais confiança de que a exposição a ondas de
rádio de telefones celulares ou tecnologias sem fio não está associada a um
risco maior de câncer no cérebro.
Nenhuma
associação
A nova análise faz parte de uma série de revisões
sistemáticas encomendadas pela OMS para investigar mais de perto os possíveis
efeitos na saúde associados à exposição a ondas de rádio.
Esta revisão sistemática oferece a evidência mais forte até
o momento de que as ondas de rádio de tecnologias sem fio não são um risco à
saúde humana.
É a revisão mais abrangente sobre este tema. Ela levou em
consideração mais de 5 mil estudos, dos quais 63, publicados entre 1994 e 2022,
foram incluídos na análise final. A principal razão pela qual estudos foram
excluídos foi que eles não eram realmente relevantes; isso é muito comum em
resultados de pesquisa de revisões sistemáticas.
Não foi encontrada nenhuma associação entre uso de celular e
câncer no cérebro, ou qualquer outro câncer na cabeça ou pescoço.
Também não foi encontrada associação com o câncer se a
pessoa usava telefone celular por dez anos ou mais (uso prolongado). A
frequência de uso — com base no número de chamadas ou no tempo gasto ao
telefone — tampouco fazia diferença.
É importante ressaltar que estas descobertas estão alinhadas
com pesquisas anteriores. Isso mostra que, embora o uso de tecnologias sem fio
tenha aumentado enormemente nas últimas décadas, não houve aumento na
incidência de câncer no cérebro.
Notícia
boa
No geral, os resultados são muito tranquilizadores. Eles
significam que nossos limites de segurança nacionais e internacionais são
protetores.
Os celulares emitem ondas de rádio de baixo nível, abaixo
destes limites de segurança, e não há evidências de que a exposição a elas
tenha impacto na saúde humana.
Apesar disso, é importante que as pesquisas continuem. A
tecnologia está se desenvolvendo em um ritmo acelerado. Com esse avanço, vem o
uso de ondas de rádio de diferentes maneiras, com diferentes frequências. Por
isso, é essencial que a ciência continue a garantir que a exposição às ondas de
rádio provenientes destas tecnologias permaneça segura.
O desafio que temos agora é assegurar que esta nova pesquisa
acabe com as concepções equivocadas e a desinformação persistentes
sobre telefones celulares e câncer no cérebro.
Ainda não há evidências de nenhum efeito para a saúde
decorrente da exposição relacionada aos telefones celulares — e isso é uma
coisa boa.
* Sarah Loughran é diretora de pesquisa e assessoria em
radiação da Agência Australiana de Proteção à Radiação e Segurança Nuclear
(ARPANSA, na sigla em inglês), e professora da Universidade de Wollongong, na
Austrália.
*Ken Karipidis é diretor assistente de avaliação de
impacto na saúde da ARPANSA e professor da Faculdade de Saúde Pública e
Medicina Preventiva da Universidade Monash, na Austrália.
Este artigo foi publicado originalmente no site de
notícias acadêmicas The
Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative
Commons. Leia
aqui a versão original (em inglês).
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