Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa
(Sermo 95,8-9: PL
54,465-466)
(Séc.V)
Grande paz para os que amam a tua lei
Com razão a bem-aventurança de ver a Deus é prometida aos
corações puros. Pois os olhos imundos não podem ver o esplendor da verdadeira
luz; será alegria das almas límpidas aquilo mesmo que será castigo dos corações
impuros. Para longe então a fuligem das vaidades terenas. Limpemos de toda
iniquidade suja os olhos interiores, e o olhar sereno se sacie de tão
maravilhosa visão de Deus.
Merecer tal coisa, penso eu, é o fito do que se segue: Bem-aventurados
os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). Esta
bem-aventurança, caríssimos, não consiste em um acordo qualquer nem em qualquer
concórdia. É aquela de que fala o Apóstolo: Tende paz com Deus (Rm5,1) e o
profeta: Grande paz para os que amam tua lei e para eles não há tropeço (Sl
118,165).
Mesmo os mais estreitos laços de amizade e uma igualdade sem
falha dos espíritos não podem, na verdade, reivindicar para si esta paz, se não
concordarem com a vontade de Deus. Estão fora da dignidade desta paz a
semelhança na cobiça dos maus, as alianças pecaminosas, os pactos para o vício.
O amor do mundo não combina com o amor de Deus, nem passa para a sociedade dos
filhos de Deus quem não se separa da vida carnal. Quem sempre com Deus tem em
mente guardar com solicitude a unidade do espírito no vínculo da paz (Ef
4,3), jamais discorda da lei eterna, repetindo a oração da fé: Seja
feita a tua vontade assim na terra como no céu (Mt 6,10).
São estes os pacíficos, estes os unânimes no bem, santamente
concordes, que receberão o nome eterno de filhos de Deus, co-herdeiros
de Cristo (cf. Rm 8,17). Porque o amor de Deus e o do próximo lhes
obterão não mais sentir adversidades, não mais temer escândalo algum. Mas
terminado o combate de todas as tentações, repousarão na tranquila paz de Deus,
por nosso Senhor que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos
dos séculos. Amém.
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