Idade
Média
Idade Média (476 a 1453) ficou marcada pelo feudalismo, pela influência da Igreja, e pelas Cruzadas e Inquisição. Encerrou-se com a crise do século XIV e a expansão marítima.
Por Daniel Neves Silva*
A Idade Média é o nome do período da
história localizado entre os anos 476 e 1453. A nomeação “Idade
Média” é utilizada pelos historiadores dentro de uma periodização que engloba
quatro idades: Antiga,
Média, Moderna e Contemporânea.
Quando nos referimos à Idade Média, geralmente referimo-nos a assuntos
relacionados, direta ou indiretamente, com a Europa.
A Idade Média iniciou-se com a desagregação
do Império Romano do Ocidente, no século V. Isso deu início a um processo
de mescla da cultura latina, oriunda dos romanos, e da
cultura germânica, oriunda dos povos que invadiram e instalaram-se nas
terras que pertenciam a Roma, na Europa Ocidental.
Desse período destacam-se o processo de ruralização que a Europa viveu entre os séculos V e X; o fortalecimento da Igreja Católica; a estruturação do sistema feudal, não apenas economicamente mas também política e socialmente. A partir do século XI, o renascimento urbano e comercial abre caminho para a crise do século XIV, que determina o fim da Idade Média.
1. Quando começou e quando terminou a Idade Média?
Como mencionado, a Idade Média é assim chamada dentro de uma
periodização, estipulada pelos historiadores, que a determina entre os anos de
476 e 1453. O que estipula o início da Idade Média é a destituição de
Rômulo Augusto do trono romano, em 476, e o que estipula seu fim é
a conquista
de Constantinopla pelos otomanos, em 1453.
A Idade Média é dividida pelos historiadores em duas grandes
fases, que são:
- Alta
Idade Média: século V ao século X;
- Baixa
Idade Média: século XI ao século XV.
Durante a Alta Idade Média, a Europa passava pelas transformações derivadas da desagregação do Império Romano e o feudalismo estava em formação. A Baixa Idade Média foi o período auge do feudalismo e no qual a Europa começou a sofrer transformações oriundas do renascimento urbano e comercial.
2. Por que o nome “Idade Média”?
O nome Idade Média, usado para referir-se a esse período
entre 476 e 1453, foi uma invenção dos renascentistas. Uma das
primeiras menções a essa época como “tempo médio”, segundo o historiador
Hilário Franco Júnior, remonta ao bispo italiano Giovanni Andrea|1|. Essa ideia
popularizou-se no século XVI, durante o renascimento.
O sentido por trás dessa nomenclatura era pejorativo,
uma vez que, na visão dos renascentistas, a Idade Média teria sido um
tempo marcado pela interrupção da tradição clássica, isto é,
greco-romana. Nessa perspectiva, tal tradição estava sendo retomada na época
deles, inclusive, por isso, eles chamaram seu próprio período de
“renascimento”.
Eles acreditavam estar vivendo um momento de renascimento
intelectual, científico e artístico. Isso nos leva a concluir que, na ótica
renascentista, a Idade Média era um período ruim, de atraso e de interrupção no
progresso humano. Outros grupos, conforme seus interesses, teciam suas críticas
a essa Idade, sempre a taxando como “ignorante”.
Essa visão negativa fez com que muitos a chamassem de “Idade das Trevas”, um termo negativo e rechaçado pelos historiadores. A primeira menção à Idade Média dessa maneira remonta a Francesco Petrarca, que, no século XVI, já a chamava de “tenebrae”.
3. Feudalismo
O feudalismo é o termo que usamos para toda organização social, política, cultural, ideológica e econômica que
existiu na Europa durante a Idade Média. Esse conceito explica a estruturação
da sociedade da Europa Ocidental, e a organização que ele representa existiu,
na sua forma clássica, entre os séculos XI e XIII, aproximadamente.
Do século V ao século X, o feudalismo estava em processo
de estruturação, uma vez que as relações políticas características da
vassalagem estavam em formação, o poder da Igreja Católica estabelecia-se aos
poucos, e a ruralização e feudalização da Europa desenvolviam-se.
Do século XI ao século XIII, o feudalismo estava no seu
auge, sobretudo nas regiões que hoje correspondem à Alemanha, à França, e ao
norte da Itália e da Inglaterra. A partir do século XIV, o sistema
feudal entra em decadência, uma vez que a Europa urbanizava-se
e o comércio ganhava importância.
No aspecto econômico, podemos dizer que o feudalismo era um
sistema baseado na produção agrícola e na exploração
servil dos camponeses. Com o fim do Império Romano, a Europa Ocidental
ruralizou-se e as pessoas empobrecidas passaram a estabelecer-se nas cercanias
de grandes propriedades rurais, à procura de comida e proteção. Dessa situação
criou-se a relação de dependência entre o senhor feudal e o camponês.
O senhor feudal, dono das terras, permitia que o
camponês ficasse nelas, desde que este cultivasse-as e entregasse parte do que
tinha sido produzido àquele. O camponês era sujeito a uma
série de tributos a serem pagos aos senhores feudais, tais como a corveia,
a talha e a banalidade. O senhor feudal, por sua
vez, tinha como obrigação proteger aqueles instalados em sua propriedade.
No âmbito religioso, a Igreja
Católica era
dona de grande influência, uma vez que seu poder chegava a atingir decisões
do poder secular. A Igreja também elaborava a construção ideológica que
justificava as desigualdades do mundo feudal. Na visão estipulada por ela, e
abraçada pela nobreza, os servos cumpriam seu papel por uma designação divina.
A sociedade feudal era estamental, isto é,
dividida em classes com funções muito bem definidas, e na qual a ascensão
social era bastante difícil. Nela existiam três grandes classes sociais:
- Nobreza (bellatores):
classe privilegiada, detentora de terras, que tinha como função, dentro da
ideologia medieval, proteger a sociedade;
- Clero (oratores):
membros da Igreja Católica que cumpriam funções religiosas. Também era uma
classe privilegiada, uma vez que a Igreja detinha riqueza, poder e terras;
- Camponeses (laboratores):
grupo empobrecido que sustentava a sociedade feudal por meio de seu
trabalho e dos altos impostos que pagava.
No aspecto político, a vassalagem era
uma das grandes manifestações do feudalismo. Essa estrutura surgiu por volta do
século VIII e estabelecia as relações de poder entre rei e nobres de cada
reino.
Por meio da vassalagem, o rei (suserano) e os nobres (vassalos) realizam um acordo estabelecendo laços de fidelidade entre si. Os vassalos recebiam um feudo (terra) e tinham como obrigação auxiliar o seu suserano na execução da justiça, na administração do reino e na guerra, se necessário.
4. Principais acontecimentos
A Idade Média foi muito longa e, logicamente, impactada por
diferentes acontecimentos importantes para a história humana. A Idade Média, em
si, é fruto do fim do Império Romano do Ocidente, após o qual uma série de
reinos germânicos estabeleceu-se na Europa Ocidental.
O caso mais simbólico foi o dos francos,
povo germânico que se estabeleceu na Gália e formou um reino governado,
primeiro, pelos merovíngios e, depois, pelos carolíngios.
Estes foram a primeira grande dinastia a governar um reino na Europa, e, por
meio de Carlos Magno, seu principal rei, formaram um império com um
território bastante vasto.
O surgimento do islamismo no
século VII marcou um rompimento do Ocidente com o Oriente, sobretudo quando os
muçulmanos conquistaram a Península Ibérica. O avanço muçulmano na Europa só
foi interrompido por Carlos Martel, em 732. Séculos depois, a
Igreja Católica encontrou na guerra contra os muçulmanos uma forma de estender
sua riqueza até o Oriente.
As Cruzadas ocorreram
do século XI ao século XII e mobilizaram tropas cristãs contra os muçulmanos,
na Palestina e no norte da África. Ao todo foram nove cruzadas, sendo a primeira delas
convocada pelo Papa Urbano II, em 1095. A nona Cruzada foi
encerrada em 1272, e o objetivo inicial dos cristãos (conquistar Jerusalém) não
foi alcançado.
Outros destaques que podem ser feitos sobre a Idade Média são o Império Bizantino e o estabelecimento da Inquisição. Assuntos também relevantes são a cultura e a ciência medievais, geralmente pouco estudadas.
5. Fim da Idade Média
O fim da Idade Média tem relação com o renascimento
urbano e comercial que a Europa experimentou a partir do século
XI. Novas técnicas agrícolas permitiram o aumento da produção
de víveres, gerando um excedente que pôde ser comercializado. O aumento na
produção de alimentos garantiu um aumento populacional, mas também do comércio
e, consequentemente, da circulação de moeda.
Com o aumento populacional, o número de pessoas mudando-se
para as cidades aumentou e a quantidade de comerciantes ao redor delas também.
O século XIII intensifica esse processo de êxodo rural,
pois as produções agrícolas ruins fizeram com que muitos buscassem sobreviver
nas cidades.
O século XIV é quando os historiadores estipulam a fronteira
final da Idade Média. Trata-se de um século de crise,
caracterizado por guerras que causaram destruição e geraram
mais fome, e isso resultou na Peste. O século XIV
é marcado pela famosa Peste
Negra — surto de peste bubônica responsável pela morte de 1/3
da população europeia ao longo desse período.
A fome gerou grandes revoltas
de camponeses, sobretudo a partir do século XIII, e o crescimento
urbano colocou fim no isolamento feudal. Revoltas também aconteceram nas
grandes cidades, principalmente pela falta de empregos. Novas estruturas de
poder começaram a surgir, a organização política dos reinos modificou-se e,
assim, surgiram os Estados
nacionais.
O enfraquecimento do feudalismo e o fortalecimento do
comércio resultaram no mercantilismo.
Quando Constantinopla cai e o comércio com o Oriente fecha-se, a Europa
volta-se para o Oeste. A exploração
do Oceano Atlântico abriu novas fronteiras e consolidou o fim da Idade
Média.
Notas
|1| JUNIOR, Hilário Franco. A Idade
Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 11.
Crédito da imagem
[1] Lucamato e Shutterstock
Fontes
JUNIOR, Hilário Franco. A Idade Média: nascimento do
Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente
medieval. Petrópolis: Vozes, 2016.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petrópolis:
Vozes, 2011.
*Escrito
por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual
de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela
Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde
2010.
SILVA, Daniel Neves. "Idade Média"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/idade-media.htm. Acesso em 04 de setembro de 2024.
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