O nascimento de um bebê é uma centelha que revela o amor eterno de Deus, diz o papa
10 de setembro de 2024
O papa Francisco celebrou missa para cerca de 600
mil pessoas na esplanada “Taci Tolu”, em Díli, capital de Timor-Leste, na qual
disse que o nascimento de um bebê “nada mais é do que uma centelha reveladora
de um espírito igualitário de maior luz, porque na raiz de toda a vida está o
amor eterno de Deus”.
12 horas esperando o papa sob o sol
A esplanada foi coberta com milhares de guarda-sóis com as
cores da Santa Sé de pessoas que aguardaram o início da missa e o papa
Francisco durante horas sob o sol.
Lareina Rosa Marcia Claver Da Cruz e Zuizina Abigael Maria
Fátima de Jesus, duas amigas aguardaram desde as quatro da manhã a missa
marcada para as 16h30. Para as meninas de 12 anos de idade, a espera sob o sol
escaldante “valeu totalmente a pena”.
O governo do país concedeu três dias de folga do trabalho e
das escolas para que os seus habitantes possam assistir aos diversos encontros
com o papa Francisco.
Taci Tolu é uma área protegida na costa do país, oito
quilômetros a oeste da capital, Díli, exatamente na parte oeste de Comoro Suco,
no Distrito Capital.
No dia 12 de outubro de 1989, na mesma esplanada, são João
Paulo II celebrou missa por ocasião da sua viagem ao país ainda sob ocupação
indonésia.
Uma “grande necessidade de conversão”
Em sua homilia, lida em espanhol, o papa Francisco refletiu
sobre a primeira leitura, quando o profeta Isaías se dirige ao povo de
Jerusalém para lhes dizer que “um menino nos nasceu, um filho nos foi dado”.
O papa disse que aquele tempo foi marcado por uma “grande
decadência moral”, em que o poder e a riqueza cegaram os poderosos, “fazendo-os
acreditar que podem ser autossuficientes, que não precisam do Senhor; e sua
presunção os leva a serem egoístas e injustos”.
Naquela época, em que a infidelidade a Deus era
generalizada, segundo o papa Francisco havia “uma grande necessidade de
conversão, de misericórdia e de cura”.
O nascimento de Jesus
E foi então, com o nascimento de Jesus, que Deus “brilha a
sua luz salvadora através do dom de um filho”, disse o papa.
Nesse sentido, Francisco disse que “o nascimento de um filho
é um momento luminoso, de alegria e de festa, que inspira em todos os bons
votos: renovar-se no bem, regressar à pureza e à simplicidade”.
“Diante de um recém-nascido até o coração mais duro se
emociona e se enche de ternura, quem está desanimado encontra esperança, quem
está resignado volta a sonhar e acredita na possibilidade de uma vida melhor”,
disse Francisco.
O papa também disse que a fragilidade de uma criança “traz
consigo uma mensagem tão forte que toca até os espíritos mais endurecidos,
trazendo consigo propósitos de harmonia e serenidade”.
E tudo isso, disse o papa, “nada mais é do que uma centelha
reveladora de uma luz ainda maior, porque na raiz de toda a vida está o amor
eterno de Deus, está a sua graça, a sua providência e o poder da sua Palavra
criadora”.
O papa Francisco disse que o próprio Deus se fez homem “para
estar perto de nós e para nos salvar”.
O convite a esse mistério, segundo o papa, “não é apenas
ficar maravilhado e emocionado, mas também abrir-nos ao amor do Pai e
deixar-nos modelar por Ele”.
“Para que possa curar as nossas feridas, corrigir as nossas
diferenças, pôr ordem na nossa existência, até que se torne o alicerce da nossa
vida pessoal e comunitária, em todos os âmbitos”, disse Francisco.
Mais tarde, definiu a presença de tantos jovens e crianças de
Timor-Leste “um presente imenso”.
“Não tenhamos medo de nos tornarmos pequenos diante de
Deus”
O papa Francisco também mencionou Nossa Senhora como exemplo
de “pequenez”, que se tornou “cada vez menor, servindo, rezando, desaparecendo
para dar lugar a Jesus”.
“Não tenhamos medo de nos tornarmos pequenos diante de Deus
e uns dos outros; perder a vida, dar o nosso tempo, reexaminar os nossos
programas, renunciar a tudo o que for necessário para que um irmão melhore e
seja feliz”, disse o papa.
No final da sua homilia, traduzida na língua tétum, o papa
Francisco falou de Kaibauk e Belak, adereços
feitos de metal usados por uma tribo do Timor, os liurai, que simbolizam,
segundo o papa, “a força e a ternura do Pai e da Mãe”. Assim, segundo o papa,
“o Senhor manifesta a sua realeza, feita de caridade e de misericórdia”.
“Cada um de nós peça juntos, nesta Eucaristia, como homens e
mulheres, como Igreja e como sociedade, saber refletir no mundo a luz poderosa
e terna do Deus do amor”, disse o papa Francisco ao concluir.
“Cuidado com os crocodilos que querem mudar a sua
cultura”
No final da missa, depois das palavras de agradecimento do
arcebispo de Díli, dom Virgílio cardeal do Carmo da Silva, o papa improvisou
algumas palavras dirigidas aos católicos presentes.
Francisco disse que “o melhor de Timor-Leste” é o seu povo,
e principalmente “o sorriso do seu povo”, especialmente o das crianças.
Da mesma forma, o papa pediu-lhes que “estejam atentos
àqueles crocodilos que querem mudar a sua cultura, que querem mudar a sua
história, permaneçam fiéis e não se aproximem desses crocodilos porque eles
mordem, e mordem muito”, disse o papa.
“Desejo-vos paz e que continueis a ter muitos filhos, que o
sorriso deste povo sejam os vossos filhos”, disse o papa Francisco ao concluir.
*Almudena Martínez-Bordiú é uma jornalista espanhola
correspondente da ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em Roma e no
Vaticano, com quatro anos de experiência em informação religiosa.
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