Januário (Gennaro em italiano) nasceu em Nápoles, cidade
italiana aos pés do vulcão Vesúvio, na segunda metade do século III. Uma
fonte cita que seu nome seria Prócolo, da família romana dos Ianuarii. Foi
eleito bispo de Benevento, cidade próxima de Nápoles, parece que ainda jovem,
em reconhecimento pela sua bondade, caridade e zelo pela Fé. Na época,
o cristianismo implicava em alto risco de vida, pelas perseguições pagãs
dos imperadores romanos. Em 304, Dioclesiano, de fato, iniciou a última
e talvez a mais violenta perseguição contra a Igreja, antes da paz de
Constantino em 313. Todos os representantes do clero eram,
potencialmente, as principais vítimas.
Há informações contraditórias a respeito do martírio de
Januário, mas o que parece mais certo é que foi preso junto com outros
cristãos, incluindo o diácono Sósio, ao ir à prisão confortar fiéis
encarcerados. Conduzidos até Puzzuoli, pequena cidade próxima de
Nápoles, foram julgados e condenados à morte. Algumas versões citam uma
tentativa de queimá-los numa fogueira, da qual saíram ilesos; mais
certo é que foram, depois disso ou diretamente, levados à arena da cidade, para
serem mortos por leões famintos.
Os animais, contudo, apenas lamberam os pés dos
condenados; foi então decretada a sua morte por decapitação. Era o dia
19 de setembro do ano 305. O sangue de Januário, como frequentemente acontecia
com os mártires, foi recolhido como relíquia por fiéis.
Este sangue, coagulado, conservado sem qualquer
produto químico ao longo dos séculos numa ampola de vidro na catedral de
Nápoles, foi exibido ao público pela primeira vez em 1305, já sendo um
milagre o fato de simplesmente se ter mantido inalterado, sem se decompor
totalmente, como seria natural. Mas em 17 de agosto de 1389, com
testemunhos verbais de cerca de 5.000 pessoas, ele se liquefez
espontaneamente, e posteriormente tornou a ficar coagulado.
O fenômeno tornou a se repetir ao longo do tempo; em 1728
Montesquieu (crítico da Igreja) o observou duas vezes, certificando que não se
tratava de artifício; em 1902 o sangue foi examinado
espectroscopicamente diante de testemunhas pelo Dr. Sperindeo, que declarou
não haver dúvida de que se trata de sangue humano. A igreja sempre permite que
o fenômeno seja investigado pela Ciência, que até o presente não tem reposta
para ele.
O milagre costuma acontecer três vezes por ano, observado
diretamente por multidões: no primeiro sábado que precede o primeiro domingo de
maio, em memória da primeira translação do recipiente de com o sangue; em 19
de setembro, memória litúrgica de São Januário e data do seu martírio; e em
16 de dezembro, quando a intercessão de São Januário impediu a destruição da
cidade pela catastrófica erupção do Vesúvio em 1631. Além da passagem
do estado sólido para o líquido, a cor do sangue muda de escuro para vermelho
vivo, o peso duplica, e é alterado o volume – independentemente de
condições de temperatura ou quaisquer outros parâmetros naturais.
Historicamente, a intercessão de São Januário, pedida pelos fiéis de Nápoles em diversas situações críticas, como a erupção vulcânica, a peste que dizimou toda a região menos a cidade em 1884, em situações de guerra, carestia, etc., naturalmente levou a que ele fosse proclamado patrono da cidade. Também as igrejas ortodoxas o veneram como santo e mártir.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
São Januário, e também seus companheiros de martírio,
resistiram à fogueira das vaidades e soberba pagãs, tornando dóceis, pela Fé e
amor a Cristo, as feras das tentações de apostasia. A espada decapitou a morte
para longe das suas almas, em total independência dos parâmetros naturais, e
evitou a catastrófica erupção de uma condenação infinita para eles. A evidência
do milagre proporcionado pelo sangue de São Januário é tão contundente que é
difícil entender a descrença de tantos homens quanto à Igreja. A argumentação
de que a Ciência “algum dia” o poderá explicar é, diante das circunstâncias,
uma pobre e feia desculpa, que se apoia não nos fatos observáveis e mensuráveis
– científicos – mas numa má vontade evidente de quem se recusa a reconhecer uma
verdade cabal e indiscutível. Só uma mentalidade tão absurdamente relativista,
da qual não se pode duvidar que chegue em algum momento a questionar se 2+2=4,
pode fornecer o tanto de estupidez necessária para recusar até mesmo uma mínima
disposição sincera para ao menos ouvir a mensagem da Boa Nova de Jesus. Ao
invés disso, de forma irracional, arbitrária e preconceituosa, decreta a vazia
soberba humana, por meio do mundanismo atual, dogmaticamente, que só o engenho
humano tem explicação para o que existe, ainda que o mesmo engenho humano
comprove, na prática, a impossibilidade desta noção. Este contraste, que
contraria a Razão e o bom senso, além das evidências diretas, é um alerta
monumental para a crítica situação do Homem, presentemente tão preocupado e obstinado
em rejeitar a realidade e a Verdade, situação esta mais grave ao longo da
História na medida em que o entendimento e o conhecimento de Deus são
potencialmente mais acessíveis, e a Sua negação cada vez menos desculpável.
Assim é que o mistério da liberdade humana, que Deus nos concedeu, e portanto a
responsabilidade em relação a ela, agravam as escolhas que fazemos, tanto
pessoal quanto socialmente. Nem por isso devemos desesperar da Sua
Misericórdia, até porque Ele mesmo a garantiu a todos que O procuram
sinceramente, mas sem dúvida é tempo de conscientemente buscar com coragem a
santidade, como fizeram São Januário e companheiros, pois ela é o único caminho
que conduz à paz.
Oração:
Senhor Deus, que nos concedestes por amor gratuito e eterno
a existência e a Salvação por meio do martírio de Cristo, concedei-nos por
intercessão de São Januário a solidificação da nossa Fé, de modo a que possamos
aumentar o peso e o volume dos atos de caridade em favor do próximo e para a
Vossa glória, e ao mesmo tempo a diluição cada vez maior dos nossos pecados no
Sangue de Cristo, a fim de obtermos o Vosso perdão e a vida celeste. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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