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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Transmitir a fé (I) (1)

Foto: Mhonpoo (cc). | Opus Dei

Transmitir a fé (I)

É na própria família que se forja o caráter, a personalidade, os costumes... e também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais necessária, como se assinala neste artigo.

03/01/2012

Cada filho é uma prova da confiança de Deus nos pais, que lhes confia o cuidado e a orientação de uma criatura chamada à felicidade eterna. A fé é o melhor legado que se lhe pode transmitir; mais ainda, é a única coisa verdadeiramente importante, pois é o que dá sentido último à existência. Deus, além disso, nunca confia uma missão sem dar os meios imprescindíveis para levá-la a termo; e assim, nenhuma comunidade humana está tão bem dotada como a família para facilitar que a fé enraíze nos corações.

O TESTEMUNHO PESSOAL

A educação da fé não é um mero ensinamento, mas a transmissão de uma mensagem de vida. Ainda que a palavra de Deus seja eficaz em si mesma, para difundi-la o Senhor quis servir-se do testemunho e da mediação dos homens; o Evangelho é convincente quando se vê encarnado.

Isto é válido de maneira especial quando nos referimos às crianças, que distinguem com dificuldade entre o que se diz e quem o diz; e adquire ainda mais força quando pensamos nos próprios filhos, pois não diferenciam claramente entre a mãe ou pai que reza e a própria oração; mais ainda, a oração tem valor especial, é amável e significativa, porque quem reza é a sua mãe ou o seu pai.

Isto faz com que os pais tenham tudo a seu favor para comunicar a fé aos filhos; o que Deus espera deles, mais do que palavras, é que sejam piedosos, coerentes. O seu testemunho pessoal deve estar presente diante dos filhos a todo o momento, com naturalidade, sem procurar dar lições constantemente.

Às vezes, basta que os filhos vejam a alegria dos seus pais ao confessar-se, para que a fé se torne forte nos seus corações. Não se deve desvalorizar a perspicácia das crianças, mesmo que pareçam ingênuas; na realidade, conhecem os seus pais, no bom e no menos bom, e tudo o que estes fazem – ou omitem – é para eles uma mensagem que os ajuda a formar ou a deformar.

Foto: celesteh (cc). | Opus Dei

Bento XVI explicou muitas vezes que as alterações profundas nas instituições e nas pessoas costumam ser promovidas pelos santos, e não pelos mais sábios ou poderosos: «Nas vicissitudes da história, [ os santos ] foram os verdadeiros reformadores que tantas vezes elevaram a humanidade dos vales obscuros nos quais está sempre em perigo de se precipitar; iluminaram sempre de novo» [1].

Na família acontece algo parecido. Sem dúvida, é preciso pensar no modo mais pedagógico de transmitir a fé, e formar-se para serem bons educadores; mas o que é decisivo é o empenho dos pais por quererem ser santos. É a santidade pessoal o que permitirá acertar com a melhor pedagogia.

"Em todos os ambientes cristãos conhecem-se, por experiência, os bons resultados que dá essa natural e sobrenatural iniciação à vida de piedade, feita no calor do lar. A criança aprende a pôr o Senhor na linha dos primeiros e fundamentais afetos, aprende a tratar a Deus como Pai e à Nossa Senhora como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de serem sinceramente piedosos, para poderem transmitir – mais do que ensinar – essa piedade aos filhos" [2].

AMBIENTE DE CONFIANÇA E AMIZADE

Vemos que muitos rapazes e moças – sobretudo, na juventude e na adolescência – acabam por afrouxar a fé que receberam, quando sofrem algum tipo de prova. A origem destas crises pode ser muito diversa – a pressão de um ambiente paganizado, amigos que ridicularizam as convicções religiosas, um professor que dá as lições numa perspectiva ateia ou que põe Deus entre parêntesis –, mas estas crises ganham força quando aqueles que passam por elas deixam de expor às pessoas adequadas o que lhes está acontecendo.

É importante facilitar a confiança com os filhos e que estes sempre encontrem os pais disponíveis para lhes dedicarem tempo. Os jovens – mesmo os que parecem mais indóceis e desprendidos – desejam sempre essa aproximação, essa fraternidade com os pais. O segredo costuma estar na confiança. Que os pais saibam educar num clima de familiaridade, que nunca deem a impressão de que desconfiam, que deem liberdade e que ensinem a administrá-la com responsabilidade pessoal. É preferível que enganem alguma vez. A confiança que se põe nos filhos faz com que eles próprios se envergonhem de terem abusado, e se corrijam. Pelo contrário, se não têm liberdade, se veem que não se confia neles, sentir-se-ão levados a enganar sempre [3] . Não se deve esperar a adolescência para pôr em prática estes conselhos; podem ser aplicados desde muito cedo.

Foto: Pyrat Wesly (cc). | Opus Dei

Falar com os filhos é das coisas mais gratas que existem e a porta mais direta para estabelecer uma profunda amizade com eles. Quando uma pessoa ganha confiança com outra, estabelece-se uma ponte de mútua satisfação e poucas vezes desaproveitará a oportunidade de conversar sobre as suas inquietações e os seus sentimentos, o que é, por outro lado, uma maneira de se conhecer melhor a si próprio. Embora haja idades mais difíceis do que outras para conseguir essa proximidade, os pais não devem afrouxar no seu entusiasmo por chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável [4]. Nesse ambiente de amizade, os filhos ouvem falar de Deus de um modo agradável e atrativo. Tudo isto requer que os pais encontrem tempo para estar com os filhos e um tempo que seja “de qualidade”; o filho deve perceber que as suas coisas nos interessam mais do que o resto das nossas ocupações. Isto implica ações concretas, que as circunstâncias não podem levar a omitir ou a atrasar uma e outra vez; desligar a televisão ou o computador quando a menina ou o garoto pergunta por nós e se percebe que querem falar; reduzir a dedicação ao trabalho; procurar formas de recreio e entretenimento que facilitem a conversa e a vida familiar, etc.

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A. Aguiló

[1] Bento XVI, Discurso na Vigília da Jornada Mundial da Juventude de Colônia, 20-08-2005.

[2] São Josemaria Escrivá, Temas Atuais do Cristianismo , n. 103.

[3] São Josemaria Escrivá, Temas Atuais do Cristianismo , n. 100.

[4] São Josemaria Escrivá, Cristo que passa , n. 27.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/transmitir-a-fe-i/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF