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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Transmitir a fé (I) (2)

Foto: Mhonpoo (cc).| Opus Dei

Transmitir a fé (I)

É na própria família que se forja o caráter, a personalidade, os costumes... e também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais necessária, como se assinala neste artigo.

03/01/2012

O MISTÉRIO DA LIBERDADE

Ao utilizar a liberdade pessoal, as pessoas nem sempre fazem o que mais lhes convém, ou o que pareceria previsível tendo em conta os meios empregados. Às vezes, as coisas são bem feitas mas não saem como se esperava – pelo menos, aparentemente – e pouco serve culpar-se por esses resultados ou atribuir a culpa a outros.

O mais sensato é pensar como educar cada vez melhor e como ajudar outros a fazerem o mesmo; não há, neste âmbito, fórmulas mágicas. Cada um tem o seu próprio modo de ser, que o leva a explicar e a encarar as coisas de modo diverso. O mesmo se pode dizer dos educandos que, embora vivam num ambiente semelhante, possuem interesses e sensibilidades diversas.

Essa variedade não é, no entanto, um obstáculo. Aliás, amplia os horizontes educativos: por um lado, possibilita que a educação se enquadre, realmente, no quadro de uma relação única, alheia a estereótipos; por outro, a relação com os temperamentos e caráteres dos diversos filhos favorece a pluralidade de situações educativas.

Foto: More Good Foundation (cc). | Opus Dei

Por isso, se bem que o caminho da fé seja o mais pessoal que existe – pois faz referência ao mais íntimo da pessoa, a sua relação com Deus –, podemos ajudar a percorrê-lo; e isso é a educação. Se considerarmos com calma na nossa oração pessoal o modo de ser de cada pessoa, Deus dar-nos-á luzes para acertar.

Transmitir a fé não é tanto uma questão de estratégia ou de programação, mas é facilitar que cada um descubra o desígnio de Deus para a sua vida. Ajudá-lo a que veja, por si próprio, que deve melhorar e em quê, porque nós, de fato, não mudamos ninguém, eles mudam porque querem.

DIVERSOS ÂMBITOS DE ATENÇÃO

Há diversos aspetos que têm grande importância para transmitir a fé. Um primeiro é talvez a vida de piedade na família, a proximidade a Deus na oração e nos sacramentos. Quando os pais não a “escondem” – às vezes involuntariamente –, esse convívio com Deus manifesta-se em ações que O tornam presente na família, de um modo natural e que respeita a autonomia dos filhos. Abençoar as refeições, ou rezar com os filhos pequenos as orações da manhã ou da noite, ou ensinar-lhes a recorrer aos Anjos da Guarda ou a ter manifestações de carinho com Nossa Senhora, são modos concretos de favorecer a virtude da piedade nas crianças, tantas vezes dando-lhes recursos que os acompanharão por toda a vida.

Outro meio é a doutrina; uma piedade sem doutrina é muito vulnerável perante o assédio intelectual que sofrem ou sofrerão os filhos ao longo da vida; necessitam de uma formação apologética profunda e, ao mesmo tempo, prática.

Logicamente, também neste campo é importante saber respeitar as peculiaridades próprias de cada idade. Muitas vezes, falar sobre um tema de atualidade ou de um livro poderá ser uma ocasião de ensinar a doutrina aos filhos mais velhos (isto, quando não sejam eles próprios que se nos dirijam para nos perguntarem).

Com os menores, a formação catequética que podem receber na paróquia ou na escola é uma ocasião ideal. Rever com eles as lições que receberam ou ensinar-lhes de modo sugestivo aspectos do Catecismo que talvez tenham sido omitidos, fará com que as crianças entendam a importância do estudo da doutrina de Jesus, graças ao carinho que os pais demonstram por ela.

Outro aspecto relevante é a educação nas virtudes. Quando há piedade e doutrina, mas faltam virtudes, os filhos acabarão pensando e sentindo como vivem, e não como lhes dite a razão iluminada pela fé, ou a fé assumida, porque pensada. Formar as virtudes requer salientar a importância da exigência pessoal, do empenho no trabalho, da generosidade e da temperança.

Educar nesses bens eleva o ser humano acima dos desejos materiais; torna-o mais lúcido, mais apto para entender as realidades do espírito. Aqueles que educam os filhos com pouca exigência – nunca lhes dizem que “não” a nada e procuram satisfazer todos os seus desejos – fecham-lhes as portas do espírito.

É uma condescendência que pode nascer do carinho, mas também do querer poupar o esforço que exige educar melhor, pôr limites aos apetites, ensinar a obedecer ou a esperar. E como a dinâmica do consumismo é de per si insaciável, cair nesse erro leva as pessoas a estilos de vida caprichosos e volúveis e introduzem-nos numa espiral de procura de comodidade que implica sempre um déficit de virtudes humanas e de interesse pelos outros.

Crescer num mundo em que todos os caprichos são saciados é uma pesada carga para a vida espiritual, que incapacita a alma – quase na raiz – para a doação e o compromisso.

Outro aspeto importante é o ambiente, pois tem uma grande força de persuasão. Todos conhecemos jovens educados na piedade que se viram arrastados por um ambiente que não estavam preparados para superar. Por isso, é preciso estar pendentes de onde se educam os filhos e criar ou procurar ambientes que facilitem o crescimento da fé e da virtude. É algo parecido ao que ocorre num jardim: nós não fazemos crescer as plantas, mas podemos sim proporcionar os meios – adubo, água, etc. – e o clima adequados para que cresçam.

Como aconselhava São Josemaria aos pais: "procurai dar-lhes bom exemplo, procurai não esconder a vossa piedade, procurai ser puros na vossa conduta: então aprenderão e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice" [5].

A. Aguiló

[5] São Josemaria Escrivá, Tertúlia, 12-11-1972, em "Educação dos filhos"

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/transmitir-a-fe-i/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF