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sábado, 7 de setembro de 2024

Viagem à Ásia, entre os presentes de Francisco uma medalha que fala ao Oriente

Lado anverso das medalhas de prata e bronze da 45ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura (Vatican Media)

Segundo a tradição, o Papa oferece às autoridades políticas e religiosas uma medalha cunhada por ocasião da viagem apostólica. Em poucos centímetros de diâmetro, os quatro países orientais são resumidos através dos seus símbolos principais, dominados pela proteção da Virgem com o Menino. No anverso da medalha, o brasão papal. A partir do terceiro ano de pontificado, por vontade do próprio Pontífice, não aparece a sua imagem, mas apenas o seu brasão.

Maria Milvia Morciano – Vatican News

O Papa Francisco doou, como é habitual, o medalhão comemorativo da viagem e a medalha de ouro do pontificado ao presidente da República da Indonésia, e doará também aos presidentes de Timor-Leste e Singapura e ao governador-geral da Papua Nova Guiné, bem como a cada nunciatura apostólica dos quatro países visitados. Ele entregará uma medalha da viagem ao primeiro-ministro de Singapura.

O presente, um vínculo de amizade

Na tradição mais arcaica, o presente é algo que uma pessoa leva consigo quando vai a um lugar. A troca de presentes é recíproca, entre convidado e anfitrião, símbolo universal de amizade e, portanto, de vínculo. Basta ler os poemas gregos para ter uma ideia precisa e perceber também como esse uso manteve o mesmo significado ao longo do tempo.

Uma linguagem dos tempos que mudam

Durante as suas viagens, o Papa dá e recebe presentes que, para além do seu valor intrínseco, têm um valor metafórico. As medalhas estão entre elas e o fato de serem realizadas para a ocasião, de terem imagens compreensíveis em todos os lugares e em todas as línguas, sublinha estes aspectos. O reverso anuncia os locais visitados ou as ocasiões nos seus aspectos fundamentais. O anverso refere-se ao Papa, ao seu nome e ao ano do seu pontificado. Nas medalhas papais o busto do Pontífice ficava principalmente de perfil, mas com o passar do tempo parece girar progressivamente, primeiro em três quartos e depois em posição frontal, que acabou prevalecendo. O perfil, na tradição das moedas gregas e romanas, mas também do Renascimento, provavelmente faz mais sentido no baixo-relevo inscrito nos poucos centímetros disponíveis, mas também confere à pessoa retratada um carácter hierático e, portanto, uma sensação de distância em quem olha. Talvez para evitar tudo isto, as imagens dos Papas mais recentes têm rostos a três quartos, ou estão em posição frontal, e por vezes com sorriso. A medalha por sua natureza parece querer parar o tempo, comemora uma determinada ocasião oficial, mas destaca, como qualquer obra figurativa, as mudanças de estilo, a percepção dos símbolos, sobretudo as mudanças na forma de comunicar: é uma verdadeira e própria linguagem de sinais em miniatura.

Com o Papa Francisco não a imagem, mas o seu brasão

Nos primeiros anos de seu pontificado, o Papa Francisco também foi representado de perfil ou vista de três quartos, mas com o tempo, em vez do rosto, o brasão papal se destaca no anverso da medalha. Aparece junto com outras figuras, por exemplo, uma criança na medalha anual do segundo ano de pontificado. Por fim, prevalece o seu brasão, acompanhado pelo nome e ano de pontificado: uma mudança de estilo que acaba por se consolidar totalmente.

Eleonora Giampiccolo, diretora do Departamento de Numismática da Biblioteca Apostólica Vaticana, confirma que “desde o terceiro ano de pontificado, nas medalhas oficiais, bem como nas moedas, do Papa Francisco a sua imagem já não está presente, mas o brasão, por escolha do próprio Pontífice. Não existe lei que estabeleça a presença ou ausência de uma ou de outra representação. É verdade que antigamente a representação do busto prevalecia nas medalhas, sobretudo nas anuais, mas em tempos mais recentes não faltam exemplos de medalhas oficiais em que encontramos o brasão em vez da imagem. Refiro-me, por exemplo, a algumas medalhas de Paulo VI, as celebrativas do 39º Congresso Eucarístico de Bogotá (1968), da viagem a Uganda (1969) e da viagem ao Extremo Oriente (1970). Elas trazem o brasão e não a imagem. Para as moedas, no passado, brasões e imagens se alternavam indiferentemente."

Arianna Cicconi criou a medalha comemorativa da viagem do Papa Francisco à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura de 2 a 13 de setembro de 2024, cunhada pela empresa Senesi. Ela descreve isso nos microfones dos meios de comunicação do Vaticano: “A medalha é um conjunto de símbolos dos países que o Papa visitará. Em particular, temos o Merlion para Singapura, a ave do Paraíso para a Papua Nova Guiné, um rapaz usando o kaibauk para Timor-Leste que é um cocar tradicional, e por fim, o Garuda dourado para a Indonésia, um símbolo nacional, ou seja, uma águia dourada. No centro, continua a desenhista, eu quis também incluir a figura de Nossa Senhora com o Menino em atitude de bênção, como que para consagrar a visita do Papa. Por fim, considerando que na minha opinião se trata de países com uma natureza de uma beleza incrível, eu quis acrescentar alguns elementos como flores e plantas típicas e uma faixa no centro com um elemento decorativo que lembra a água, porque são locais com tradições muito fortes ligadas ao mar. Quis fazer esta homenagem que pudesse abranger tanto o ponto de vista cultural da tradição quanto da natureza que são fundamentais para este povo”, conclui.

Uma das grandes dificuldades da arte da medalha é inserir e tornar legíveis tantos símbolos num espaço relativamente pequeno. Cicconi observa que “obviamente o espaço é limitado e procuramos sempre dar a mesma importância a cada elemento, até porque podemos criar o risco de a composição ficar muito cheia, e que os elementos se percam e se confundam. Criar o equilíbrio certo é bastante difícil, mas fazendo várias tentativas consegue-se sempre chegar à harmonia desejada."

Cliente e inspiração

“Recebi sugestões sobre quais tipos de símbolos representativos usar, e depois analisei mais detalhadamente para ver do que se tratava e como inseri-los corretamente. Por exemplo, o cocar típico de Timor-Leste foi inicialmente apenas mencionado pela Secretaria de Estado e eu nem sabia o que era. Obviamente acho que um artista, um desenhista, deve sempre se aprofundar nas sugestões que um cliente lhe dá, também para poder criar uma obra o mais completa possível”, explica Arianna Cicconi.

Partir de um esboço

Sobre a escolha dos símbolos e elementos que farão parte da composição, o artista explica: “Normalmente parto de um esboço, ou melhor, de uma série de esboços que depois são examinados pelo cliente e geralmente não se consegue resolver rapidamente porque há sempre preferências ou um estilo que o cliente prefere".

Um estilo que segue a tradição

O estilo de Arianna Cicconi é clássico, harmonioso, inspirado na grande tradição romana do barroco, como ela confirma: “Gosto muito de um estilo decorativo clássico. Estou muito inclinada para este tipo de imagens e representações. Não me sinto muito confortável com o abstracionismo ou com a linguagem minimalista atual. Algumas vezes me pediram esse tipo de design, mas acho a linguagem clássica mais adequada".

Os muitos passos para realizar uma medalha

Mas como se faz uma medalha? Quais são as etapas desde o esboço até o objeto finalizado? Arianna Cicconi explica as principais etapas que no nível tradicional incluem sempre a criação de um modelo de gesso, pelo menos até a chegada das tecnologias digitais. “O artista faz um esboço a partir do qual se desenha um modelo de gesso que depois é inserido numa máquina chamada pantógrafo que consegue reduzir as dimensões do baixo-relevo que tem um diâmetro maior - a medalha que criei tem 30 centímetros e assim é uma medalha importante – e se cria um modelo de bronze. É feita uma fundição em areia e criada a reprodução exata do bronze que é inserido dentro do pantógrafo e consegue reduzir as dimensões perfeitamente à escala, mantendo a modelagem e o desenho. Consegue-se reduzi-lo em muitos centímetros e assim criar uma punção, ou seja, um material criativo positivo com baixo-relevo positivo e não cavado. Da punção obtêm-se vários cones que são o negativo da modelagem. Depois de vários acabamentos com outros punções, obtém-se finalmente a matriz que se tornará então a fundamental, ou seja, aquela que será utilizada diversas vezes para o batimento de todas as peças”.

Diferença entre medalha e moeda

A autora da medalha para a viagem à Ásia e Oceania, quando questionada sobre a diferença entre medalha e moeda, explicou que “A medalha é antes de tudo um produto artístico, pode também ter formas e relevos particulares que também podem ser abstraídos da forma circular que é quase fundamental para a moeda. Além disso, pode ter relevos muito mais elevados e elementos particulares, ou seja, suplementos. Pode-se jogar muito mais no âmbito artístico. São peças mais raras porque uma medalha tem um valor inferior enquanto a moeda tem um valor institucional porque tem um valor em si, o valor nominal que pode ser lido no anverso da moeda que está sempre presente, pelo menos no que diz respeito às moedas em circulação, porque também existe uma diferença entre as moedas em circulação, ou seja, aquelas que podem ser utilizadas para pagar e as moedas de coleção que também podem ser mais artísticas, que podem ter características mais originais, enquanto as moedas atuais respeitam características rigorosas de produção, ou seja, um relevo de uma certa altura, um tamanho específico e principalmente uma certa percentagem de metal.

Uma Santa Ana jovem para o Canadá

Arianna Cicconi também criou outras medalhas para o Papa Francisco, por exemplo, a da viagem apostólica ao Canadá em 2022. “Foi a primeira medalha para uma viagem apostólica que me pediram para fazer. Na verdade, foi realmente uma emoção. Alguns anos antes, quando ainda frequentava a Escola de Arte da Medalha do Instituto Poligráfico e da Casa da Moeda do Estado de Roma, que frequentei até 2021, um dos meus projetos foi selecionado para a medalha do IX ano de pontificado do Papa Francisco. A medalha canadense, em particular, é um dos projetos que mais me são caros porque gostei muito da figura de Santa Ana com a menina Maria nos braços e depois ao lado dessas duas figuras uma decoração de folhas de bordo que são o símbolo do país. Lembro-me que me disseram que o Papa apreciou o meu desenho porque fui uma das poucas entre todos os seus participantes neste concurso que representou Santa Ana com uma aparência jovem e, portanto, com uma beleza inocente. Isso me emocionou de uma forma particular porque era exatamente isso que eu queria comunicar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF