Bispos da África falam sobre impacto do Sínodo da Sinodalidade no continente
Por Kristina Millare*
23 de out de 2024
Delegados africanos de alto escalão que participaram das
reuniões deste ano do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano falaram sobre suas
perspectivas sobre a jornada de “caminhar juntos como povo de Deus” e seu
impacto na vida da Igreja na África.
O arcebispo de Kinshasa, República Democrática do Congo, dom
Fridolin cardeal Ambongo, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de
África e Madagascar (SECAM), falou ontem (22) a jornalistas sobre sua
satisfação com as negociações sinodais globais deste ano que estão sendo
realizadas no Vaticano.
“Devo dizer que estou feliz com o sínodo, que foi convocado
para desenvolver uma nova maneira de ser Igreja e não para resolver questões
específicas que existem na Igreja”, disse Ambongo ontem (22) em entrevista
coletiva.
Mas como o Sínodo da Sinodalidade realmente teve impacto na
Igreja na África? E como a Igreja na África teve impacto no processo sinodal
global, quando proporcionalmente poucos africanos participam da sessão deste
mês no Vaticano?
Pequenas comunidades cristãs: uma Igreja de base
O arcebispo de Bamenda, Camarões, dom Andrew Nkea Fuanya,
disse aos jornalistas na entrevista coletiva que a sinodalidade é um “sinal
escatológico” na Igreja hoje e falou sobre a importância das pequenas
comunidades cristãs como “um grande tesouro para a África”.
“Estamos passando por um momento de boom do
catolicismo na África”, disse o arcebispo camaronês. “A sinodalidade ganha
muita vida nas pequenas comunidades cristãs porque não se vive no anonimato
como católico”.
O padre Don Bosco Onyalla, editor-chefe da ACI África,
agência para a África do grupo ACI, disse à CNA, agência em inglês da EWTN
News, que o conceito teológico de sinodalidade em que “as pessoas se
reúnem” é uma realidade e tradição que já é vivida entre os católicos em todo o
continente.
“Na África, a Igreja foi concebida como um grupo de famílias
— as pequenas comunidades cristãs”, disse o padre Onyalla. “A estrutura da
Igreja na África é de famílias de base se unindo”.
O padre Onyalla disse também que “a instituição da família”
— que se estende além do conceito ocidental de família nuclear — poderia “ser
uma fonte de inspiração para outras partes do mundo”.
Comunhão, unidade e reconciliação
Segundo o bispo de Cyangugu, Ruanda, dom Edouard Sinayobye,
o processo sinodal lançado pelo papa Francisco para a Igreja universal em 2021
dá os “fundamentos bíblicos e teológicos” para crescer em comunhão e
reconciliação com Deus e com os outros.
Ruanda está em uma jornada de cura depois do genocídio
ocorrido há 30 anos, que matou cerca de 800 mil pessoas do grupo étnico
minoritário tutsi.
“Para nós, em Ruanda, falar sobre fraternidade e unidade é
realmente uma mensagem muito bem recebida pelas pessoas — ajuda as pessoas a
caminharem juntas e a fazerem a jornada juntas — porque depois de tudo o que
aconteceu, estamos aprendendo a ser irmãos e irmãs”, disse o bispo a
jornalistas em entrevista coletiva no Vaticano em 14 de outubro.
“Devemos acompanhar as vítimas e os perpetradores — isso é
algo que fazemos em todas as paróquias e este sínodo nos ajudou
consideravelmente”, disse dom Sinayobye. “Foi um espaço no qual fomos realmente
capazes de aprofundar a maneira como podemos abordar a reconciliação”.
Cuidar dos pobres e vulneráveis
O arcebispo de Juba, Sudão do Sul, o cardeal Stephen Ameyu
Martin Mulla, falou sobre seu apelo para que a Igreja em todo o mundo viva em
solidariedade com os pobres e vulneráveis que
vivem em vários países.
Dom Mulla espera que o Sínodo da Sinodalidade promova o
diálogo ativo e a colaboração entre os católicos e ajude a promover a doutrina
social da Igreja, incluindo os princípios de solidariedade, a promoção da paz e
a opção preferencial pelos pobres.
“Sinodalidade — caminhar juntos — deve ser o caminho para
resolvermos nossos próprios problemas. E espero que todos nós juntos possamos
resolver esses problemas”, disse o cardeal a jornalistas em entrevista coletiva
no Vaticano em 18 de outubro.
“Os problemas que afetam o Sudão, ou o Sudão do Sul, ou a
Colômbia, ou outras partes dos países do Mediterrâneo são nossos problemas”,
disse o cardeal. “Estamos relacionados — inter-relacionados — e o diálogo tem
que acontecer. Devemos sentir [compaixão] sobre essas situações”.
A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN
International) diz que a África é a região prioritária para seus projetos.
No ano passado, 31,4% de suas atividades foram dedicadas a apoiar padres e
comunidades locais que sofrem perseguição ou pobreza persistente em todo o
continente.
*Kristina Millare é jornalista freelance com experiência
profissional em comunicação no setor de ajuda humanitária e desenvolvimento,
jornalismo de notícias, marketing de entretenimento, política e governo,
negócios e empreendedorismo.
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