CONHECER JESUS CRISTO
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Normalmente quando se vai participar da missa dominical se
deseja que a Palavra de Deus diga algo de concreto para a vida cotidiana, seus
problemas e como se comportar nas mais diferentes situações vitais. Chamamos
isto de leitura moral ou ética da Escritura. A primeira finalidade e o conteúdo
mais importante das Escrituras é revelar a verdade sobre Deus Pai, Jesus Cristo
e o Espírito Santo. Ela também revela quem é o homem e orienta seu modo de
viver. A fé que nasce do encontro com este Deus revelado vai guiar a vida moral
do fiel.
O Catecismo da Igreja ensina: “O Símbolo da fé
professou a grandeza dos dons de Deus para o homem na obra da criação e, mais
ainda, pela redenção e santificação. O que a fé confessa, os sacramentos
comunicam: pelos “sacramentos que os fizeram renascer”, os cristãos se tornaram
“filhos de Deus” (1Jo 3,1), “participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4).
Reconhecendo na fé sua dignidade, os cristãos são chamados a levar, desde
então, uma “vida digna do Evangelho de Cristo”. Pelos sacramentos e pela oração,
recebem a graça de Cristo e os dons de seu Espírito, que os tornam capazes
disso” (nº 1692).
Nos últimos domingos tivemos muitos ensinamentos sobre “a
vida em Cristo”, isto é, a orientações morais para viver bem. Os textos deste
domingo (Isaías 53,10-11, Salmo 32, hebreus 4,14-16 e Marcos 10,35-45) oferecem
uma oportunidade para aprofundar o conhecimento de Jesus Cristo. Pois, para
quem o conhece, será mais fácil ter os “mesmos sentimentos de Cristo”
(Filipenses 2,5), fazer as próprias opções morais em harmonia com o Evangelho.
A força do cristianismo está primariamente nisso. O cristianismo não é uma
doutrina moral, ou uma ideologia, que se limita a dizer ao homem o deve fazer
ou pensar. O cristianismo é uma pessoa, Jesus Cristo, que age por nós e
conosco. Os textos da liturgia oferecem uma visão unitária sobre Jesus
Cristo, o Messias servo sofredor e servidor.
O profeta Isaías apresenta um personagem misterioso com o
título Servo do Senhor, título de honra e dignidade, aplicado aos
patriarcas, a Moisés, a Josué, a Davi e depois a Maria. Este servo é como um
broto de raiz num deserto solitário. A sua existência é graça porque não pode
ser gerado e alimentado pela terra árida. É uma presença viva num mundo morto e
desolado pelo pecado humano. É um homem desfigurado e desprezado na sociedade.
Porém, ele é fonte de vida. “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma
ciência perfeita. Meu Servo, o Justo, fará justos inúmeros homens, carregando
sobre si suas culpas”. Desde o começo do cristianismo este servo foi
relacionado com Jesus Cristo.
No santo Evangelho Jesus se auto apresenta: “Porque o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como
resgate para muitos”. Aqui se revela a identidade de Jesus. A profecia de
Isaías se realiza em Jesus que é o Messias sofredor. Obediente à vontade do Pai
sofre a paixão e morte e, na ressurreição, “resgata a vida de muitos”. Diante
deste anúncio o fiel deve se posicionar. A potência de Deus e sua sabedoria
estão no sofrimento (1 Cor 1,23). Um dia, quando chegará o fim, compreenderemos
que não existia um meio mais potente e mais sábio do que este para vencer o mal
no mundo.
A garantia está no servo sofredor ressuscitado. A
carta aos Hebreus afirma: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu,
Jesus, o Filho de Deus. […] Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do
trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um
auxílio no momento oportuno”. Cristo atravessou a nossa humanidade, fazendo-se
próximo de cada homem, vivendo a mesma realidade, mas Cristo também atravessou
os céus, isto é, a esfera de Deus a qual pertence por natureza e é próprio por
esta passagem que ele pode salvar.
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